Cultura & Lazer Titulo Outonal
Poeta busca eternizar o efêmero em palavras

Sentimentos especiais, como o amor, inspiram poesias e contos escritos por Samuel Boss

Evaldo Novelini
18/01/2024 | 07:00
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Divulgação


“Escrevo para que a eternidade não apague o sentimento que naquele momento se foi vivido.” A explicação aparece já no prefácio de Outonal (Editora Lucel, 66 páginas, R$ 25), livro lançado pelo jornalista Samuel Boss, de Santo André. O desejo de eternizar o que é efêmero por natureza, como amores à primeira vista e pores de Sol, é a matéria-prima desta coletânea de versos e contos, que ele chama de crônicas.

Sujeito às dores e aos prazeres da vida cotidiana, o eu lírico da quase totalidade dos poemas se esforça para apreender as sensações advindas de momentos que se julgam marcantes, ora alegres, ora tristes: o início de um namoro, o reencontro com o filho que se acreditava perdido, o término de um relacionamento e a insegurança adolescente com imaginadas imperfeições do corpo.

Embora Samuel Boss arrisque um soneto, o “Soneto da Saudade”, todos os outros 47 poemas são livres de métricas. Cem por cento deles são bastante curtos, em uma evidente contraposição ao tamanho dos sentimentos que pretende perenizar em palavras.

À medida em que a leitura transcorre, nota-se o impositivo desejo do autor pelo aconselhamento. Samuel Boss, ou seu alter ego, parece ter a necessidade de quebrar a quarta parede e, falando diretamente ao leitor, passar-lhe determinadas orientações.

“Quando o amor lhe fizer falta/E mais alta for a ausência/Tendo o peito em querença/E a dor que te salta/Dance em tom de valsa/Cante em tom de vivência/Voe com as asas falsas/E pouse na alma intensa”, recomenda o eu lírico no poema “Asas falsas”.

À leitora que “tem vergonha do teu corpo no espelho”, orienta, admoestando que “quem te olha com desejo/Pouco liga p’ros detalhes dessa tela”: “Se aceite! Não se entregue ao ‘tudo feio’/Diga ‘sou linda’ e quem não acha, nem dê trela”.

As poesias de Outonal bebem, praticamente todas, da fonte dos poetas românticos e modernistas, em cujas criações claramente se inspiram. “E se eu partir agora?”, por exemplo, é nítida releitura de “Se eu morresse amanhã!” do escritor paulistano Álvares de Azevedo (1831-1852).

A derradeira parte do livro Samuel Boss reserva para dois contos. “A Varanda”, o último deles, é inspirada na parábola bíblica do Filho Pródigo. Narrado em primeira pessoa por um pai já entrado em anos, retrata a dor que lhe atravessa o peito no momento em que “o mais velho” dos dois rebentos cobra-lhe “a parte que meu sangue tem por direito” antes de cair na vida.

Já em “Amor da roça”, seu Olavo conta como, quando jovem, encheu-se de coragem para, munido de garrucha e coragem, pedir a mão da esposa – “essa velha que aí está” – ao pai dela, um “nortista” que “já havia botado três ‘cabras’ pra correr pelo mesmo motivo”.

É também nesse texto que Samuel Boss revela onde busca inspiração para as suas histórias, revelando-se um bom ouvinte: “Não quero fazer minhas, as histórias dos outros, porém não poderia deixar de escrevê-las pelo desleixo de seus donos. Como bom espectador, as ouço e como médio escritor as publico”.

Outonal pode ser encomendado pelo Instagram do autor, em @poemassamuelboss.




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