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Dia de Finados: Líderes explicam significados da morte em diferentes religiões

Data possui origem católica e foi instituída como feriado nacional em 2002

Thainá Lana
02/11/2023 | 07:00
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Banco de Dados/DGABC


Celebrado hoje, o Dia de Finados é uma data de origem católica, cultuada na maioria dos países ocidentais. Um dos mais importantes e tradicionais rituais do catolicismo tem como objetivo relembrar a memória dos entes queridos que já se foram e rezar pelas suas almas. O dia foi instituído como feriado nacional pela lei de número 10.607, sancionada em 2002 pelo então presidente na época, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No catolicismo, a data aparece pela primeira vez no calendário romano no século IX, quando os povos celtas dedicavam um dia para rezar pelos mortos, conforme explica Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo responsável por administrar a Igreja Católica nas sete cidades da região. 

“Desde o início, a Igreja Cristã Católica celebra o mistério da morte e ressurreição de Jesus, da qual participamos desde o batismo. E assim, membros do Cristo, crucificado e ressuscitado, através da morte, passamos a vida eterna. Então, para quem crê, como diz o ritual da Igreja, a vida não é tirada, mas é transformada. Lembrar dos fiéis defuntos é celebrar a memória e a certeza de ressurreição em Cristo. Não como fim, mas início da vida eterna”, complementa o padre Joel Nery, vigário geral da Diocese de Santo André. 

Se em outras religiões não é celebrado o Dia de Finados, como diferentes crenças encaram e lidam com o tema? Líderes religiosos ouvidos pelo Diário apontam alguns significados para a morte e a maneira como seus fiéis encontram para manter viva a memória das pessoas que já se foram. 

Apesar de se tratar da mesma crença do catolicismo, o protestantismo, uma vertente do cristianismo, não considera a data de hoje em seu calendário religioso. As igrejas evangélicas não possuem um dia dedicado aos mortos, e segundo o pastor capelão Gilvani Silveira, membro da Faaimeb (Federação de Apoio às Associações, Igrejas e Ministros Evangélicos do Brasil), a morte está ligada ao plano de salvação na pessoa de Jesus Cristo.

Os evangélicos acreditam que os mortos não possuem qualquer memória, conforme é descrito na Bíblia, no livro de Eclesiastes. “Mesmo que eu vá até o cemitério, visite o túmulo e leve flores, para os falecidos isso não representa nada, porque eles não sabem o que está acontecendo. Por outro lado, para a gente que está vivo, seja no dia 2 de novembro ou em qualquer outra data do ano, é um momento para lembrar e homenagear as pessoas. Não que isso vá fazer algum efeito no mundo espiritual, a palavra diz que os mortos não sabem mais nada, mas são ações que podem trazer algum conforto para quem perdeu alguém”, ressalta o pastor. 

Os evangélicos não acreditam em reencarnação, mas que o espírito volta para Deus e a alma vai para o céu ou para o inferno. “Alguns irão direto para junto do Senhor, outros serão julgados, e herdaram a vida eterna, ou, dependendo do que for julgado, a morte eterna”, complementa o pastor. Os seguidores do protestantismo acreditam que a decisão final dependerá além das suas ações na terra, mas também da fé que demonstraram ter em Jesus. 

ISLÃ

Para os muçulmanos, pessoas que praticam o islamismo, religião abraâmica monoteísta centrada no Alcorão e nos ensinamentos do profeta Mohammad, a morte também é uma passagem para a vida eterna. O líder religioso da Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), Ali Momade Atumane, afirma que após a morte ‘mundana’, como define, as pessoas ficam em um ‘espaço de espera’, espécie de purgatório, aguardando o chamado Dia da Ressurreição. 

Segundo os fundamentos islâmicos, esse dia ocorrerá após a morte de toda humanidade, e todas as pessoas serão julgadas com base nas ações realizadas na terra, e o seu destino será o céu ou o inferno. 

“O muçulmano é socializado a ter consciência que o mundo é um espaço passageiro, e que ele precisa se preparar para outra vida que será eterna, toda alma provará a morte, conforme determina o Alcorão. É de responsabilidade dos muçulmanos ter consciência da próxima vida e assumir a responsabilidade de suas atitudes na vida mundana”, pontua Ali Momade.

O líder religioso acrescenta que quando a vida de alguém termina, todas as suas ações cessam, menos três: a caridade contínua, a sabedoria e os filhos. Os resultados dessas realizações continuam produzindo efeitos para as pessoas mesmo após o falecimento. No caso da caridade contínua, é necessário que durante a vida o individuo realize projetos sociais que, mesmo após a sua morte, continuarão beneficiando a sociedade, como hospitais, escolas, entre outras iniciativas.

O mesmo ocorre com a área do conhecimento, que em vida, a pessoa dedicou seu tempo a ensinar e compartilhar sua sabedoria com outras pessoas. No caso de herdeiros, o islã determina que o muçulmano tenha filhos e os ensine sobre educação religiosa, para que seus herdeiros sejam bondosos e caridosos, e que suas ações influencie no julgamento final do falecido.

A morte não é fim: a crença religiosa na reencarnação

No espiritismo, conjunto de princípios e leis revelados por espíritos superiores, contidos nas obras de Allan Kardec, a morte não significa o fim da vida espiritual, apenas do corpo material, e seus fieis acreditam na reencarnação.

“Trata-se de um mecanismo regulador da evolução do espírito, por meio do qual o homem vive muitas existências corporais sucessivas. Resulta desse princípio que a alma, após haver deixado um corpo, reencarna em um novo corpo. Os espíritos reencarnam quantas vezes forem necessárias ao seu aprimoramento. O objetivo da reencarnação é a evolução”, descreve a FEB (Federação Espírita Brasileira).

Mesmo não celebrando a data, a Umbanda, religião afro-brasileira que teve origem no País em 1908, incorpora elementos das tradições religiosas africanas, indígenas e do catolicismo.

Por conta dessa influência religiosa, a comunidade umbandista reconhece o Dia de Finados, mas a importância e o significado da data podem variar de acordo com as crenças e práticas específicas de cada casa ou terreiro.

“No entanto, a Umbanda é uma religião que valoriza a comunicação com os espíritos e a ancestralidade, e muitos terreiros realizam trabalhos espirituais para honrar os antepassados e entes queridos que já faleceram em datas que podem variar de um terreiro para outro”, diz a presidente da Fnab (Associação Nacional das Religiões Afro-Brasileiras) e dirigente umbandista e de jurema sagrada, Carol Módolo.

Assim como o espiritismo, a comunidade umbandista acredita na reencarnação, na qual a morte não é vista como o fim, mas como uma transição para outra vida, onde o espírito pode reencarnar em um novo corpo para continuar sua jornada espiritual.

“As religiões afro-brasileiras de modo geral têm como dogma religioso o culto e o respeito a sua ancestralidade e aos seus antepassados, onde os espíritos que já cumpriram sua missão neste plano espiritual, podem ser invocados em rituais para fornecer orientação, proteção e ajuda aos vivos”, complementa Carol.

O Candomblé, religião também de matriz africana, celebra o Dia de Finados como uma forma de homenagear os antepassados e lembrar aqueles que já partiram, mas não somente nesta data.

Segundo o Bàbá Ofálayó Esúniyí, dirigente da Fnab, esse não é o único dia que os mortos são homenageados, ao longo do ano são promovidos alguns rituais para celebrar a memória dos falecidos.

A cultura Yorubá, vertente do Candomble, atribui grande importância à morte. Acredita-se que os falecidos permanecem presentes através de sonhos e transes, e possuem o poder de fornecer valiosas informações e orientações para a família.

“Embora a morte finalize a vida, as memórias permanecem. É por isso que a adoração aos ancestrais é tão valorizada na busca pela longevidade, já que eles conhecem os dois caminhos: o da vida e o da morte”, finaliza Bàbá Ofálayó Esúniyí. 




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