A experiência bem-sucedida da ELT (Escola Livre de Teatro), de Santo André, é a mola propulsora de projetos de formação artística que a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer da cidade já montou ou está tirando do papel. A ELCV (Escola Livre de Cinema e Vídeo) é uma realidade. O próximo passo é a criação, até o fim do ano, da Escola Livre de Literatura. Outro projeto em discussão é a transformação, até dezembro, do Centro de Dança em Escola Livre de Dança.

“A literatura é a pedra fundamental de qualquer política cultural. A Casa da Palavra foi construída dentro dessa perspectiva e já realiza muita coisa”, afirma a diretora de Cultura de Santo André, Marta de Betânia Juliano. O projeto da Escola Livre de Literatura, não formatado por completo, prevê a interação com outras linguagens.

Além dos debates internos, a Secretaria de Cultura já marcou reuniões com escritores, dramaturgos e especialistas a fim de ampliar a discussão. A próxima está agendada para quinta-feira. Quanto à verba necessária à implantação da Escola Livre de Literatura, segundo Marta, “a Secretaria está fazendo a planilha de custos”.

O certo é que a inspiração vem da ELT. “Cada linguagem precisa de aconchego próprio, mas não se podem desperdiçar experiências vitoriosas como a da ELT, que tem como base não transigir na questão da qualidade e da democratização do fazer artístico”, diz Betânia.

Um dos três coordenadores da ELCV, Rogério Corrêa concorda com a diretora de Cultura de Santo André. “Sem dúvida, a ELT deu o impulso. É o modelo no qual (o dramaturgo) Luís Alberto de Abreu se inspirou para formatar o projeto da ELCV”, afirma.

Além de ter escrito peças premiadas, como Bella Ciao, O Livro de Jó e Auto da Paixão e da Alegria, Abreu é co-autor dos roteiros de Kenoma e Narradores de Javé, longas-metragens de Eliane Caffé. Também é o titular do Núcleo de Dramaturgia da ELT.

Corrêa cita ainda como fator importante na consolidação de projetos como a ELT e a ELCV a vontade política: “A ELCV é uma boa idéia, mas só foi colocada em prática porque houve vontade política de fazer isso. A ELT foi criada no primeiro mandato de Celso Daniel, mas sofreu um refluxo quando ele saiu e só foi retomada no segundo mandato dele”.

Dança – A mudança de feição do Centro de Dança implica na alteração da filosofia da instituição. O coordenador de dança da Secretaria de Cultura, Luis Ferron, confirma os estudos para a criação da Escola Livre de Dança. “O Centro de Dança é o piloto de um grande projeto. A Escola Livre de Dança seria a evolução natural”, diz.

Ferron coordena a política de ação cultural relacionada à dança nos centros comunitários, incluindo o Centro de Dança, onde se concentram os cursos de aprofundamento. A instituição atende cerca de 500 alunos e conta com orçamento de R$ 50 mil por ano, segundo a Prefeitura.

Discute-se “qual o perfil de formação ideal, o que é curso de formação e o que é curso complementar”. A definição do projeto da Escola Livre de Dança passa pelo cruzamento de várias linguagens: “Não pretendemos criar um conceito unilateral”.

Essa nova visão de formação envolve balé clássico, jazz, dança moderna e dança contemporânea, encarados como instrumentos para a manifestação da arte, e não simplesmente técnicas a serem desenvolvidas. “Os professores devem assumir a tarefa de quebrar dogmas, sobretudo quanto ao balé clássico, mais hermético”, afirma Ferron.

Também coreógrafo, Ferron quer evitar que os alunos fiquem presos à técnica, que tem de ser usada naturalmente: “O que não se pode fazer é enlatar a espontaneidade”. O conceito artístico que solidifica a Escola Livre de Dança é “o estímulo à autoria individual”. O que não significa incitar o individualismo.