A revelação é surpreendente: moradores do Grande ABC devem gastar neste ano com despesas automotivas o mesmo que investirão em comida. Números levantados pelo instituto IPC Maps, a pedido do Diário, mostram que os habitantes das sete cidades destinarão R$ 12,9 bilhões para manter seus veículos em 2023, enquanto as despesas com alimentação deverão atingir R$ 14,07 bilhões. A diferença é de apenas 9,42%. Mais que serem apenas excêntricas, as estatísticas camuflam uma realidade preocupante para a região, outrora polo industrial do Brasil: o subemprego. A explicação para a quase paridade de custos se deve ao fenômeno que os sociólogos chamam de uberização.

Uberização, neologismo que a cada dia que passa se torna mais comum no vocabulário nacional, descreve relação empregatícia por meio da qual os trabalhadores utilizam bens privados, como o veículo, para prestar serviços por meio de plataforma digital – com pouco ou nenhum direito. Para o economista Marcos Pazzini, do IPC Maps, é este fenômeno que impulsionou o aumento de 7,02% nos gastos com automóveis no Grande ABC em 2023 quando cotejados aos do ano passado – por sua vez, os custos com alimentação subiram 4,6% na comparação. Sem oportunidade em empresas tradicionais, resta ao cidadão recorrer a essas novas modalidades de emprego para complementar ou obter alguma renda.

Como região que se tornou nacionalmente conhecida pela riqueza gerada pela indústria, em especial a automotiva, o Grande ABC padece hoje da crise do subemprego, que já começa a ser medido pelos mais variados indicadores, como este levantamento do IPC Maps. A situação deveria interessar às autoridades e também aos representantes da sociedade civil organizada. É este o futuro que querem para as sete cidades? Não há nada que se possa fazer para que o bloco siga sendo polo de emprego e renda qualificados? Eis assunto que precisa ser debatido com urgência. Fica aqui a sugestão aos prefeitos que integram o Consórcio Intermunicipal. Antes que a precarização trabalhista aumente seu preço.