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A cada dois dias, sete pessoas desaparecem no Grande ABC

Entre janeiro e maio deste ano, foram 533 ocorrências ante 455 no mesmo período de 2022, o que indica um aumento de 17,1%

Beatriz Mirelle
21/08/2023 | 08:42
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A cada dois dias, o Grande ABC registra, em média, sete boletins de ocorrência sobre desaparecimento. Na região, entre janeiro e maio deste ano, 533 notificações foram feitas a respeito desses casos. No mesmo período do ano passado, foram 455 episódios (alta de 17,1%). Nos anos fechados, os distritos policiais regionais tiveram 2.138 ocorrências desse tipo entre 2021 (1.004 casos) e 2022 (com 1.134 relatos). Os dados foram cedidos ao Diário via LAI (Lei de Acesso à Informação) pelo sistema de RDO (Registro Digital de Ocorrências) da Polícia Civil. 

São inúmeros fatores que podem causar o desaparecimento de alguém, seja por situação de violência no contexto doméstico, vícios ou transtornos mentais. O caso pode ser classificado como voluntário (quando a pessoa se afasta por vontade própria), involuntário (quando a desaparição acontece sem que a vítima tenha controle) ou forçado (qualquer forma de privação de liberdade, como sequestro), segundo a Cartilha de Enfrentamento ao Desaparecimento, preparada pela Prefeitura de São Paulo.

A perita forense particular, Rosangela Llanos, especialista em Inteligência Investigativa Criminal, declara que casos de desaparecimento involuntário podem envolver acidentes, catástrofes naturais, doenças que impedem o contato com a sociedade. Já o forçado pode indicar pessoas que foram presas ou estão envolvidas em casos de tráfico de pessoas ou trabalho escravo. 

O primeiro passo quando alguém desaparece é o registro do boletim de ocorrência. Nesse processo, ao contrário do que muitos pensam, não é necessário esperar 24 horas para notificar a Polícia. “Para a lavratura do boletim de desaparecimento, não se exige nenhum documento. Geralmente, a pessoa que registra (declarante) não possui, no momento, qualquer documentação do desaparecido. A notificação se faz necessária para que as providências possam ser tomadas o mais rápido possível”, afirma Kelly Cristina Sacchetto Cesar de Andrade, titular da Delegacia Seccional de São Bernardo, que também abrange São Caetano. 

Para boletins que a vítima é maior de idade e não é dependente, é realizada pesquisa em bancos de dados da Polícia Civil; contato com familiares e/ou testemunhas; busca em todas as unidades do IML (Instituto Médico Legal) e do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (para descartar a possibilidade de morte); e procura em locais onde o desaparecido possa estar acolhido ou detido. Caso o indivíduo que desapareceu esteja com celular, haverá levantamento das informações telefônicas dele. Assim que é feito o boletim, o RG do desaparecido é bloqueado.

“A investigação policial realiza uma série de cruzamentos de dados. Por exemplo, nas bases do sistema carcerário, para saber se a pessoa está detida ou passou por alguma unidade do sistema de segurança pública do Estado e nas bases da Polícia Federal, que controlam as fronteiras e a passagem de pessoas por portos, aeroportos etc. As informações também podem ser cruzadas com outras instâncias, a depender do caminho que a investigação tomar”, diz a delegada.

Na seccional de São Bernardo, desde maio, há um trabalho em conjunto com o SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) em que um policial se voluntariou para ajudar nas investigações de pessoas desaparecidas. Desde então, 50 pessoas foram encontrados por ele. “Ele se dedica nos horários de folga das atribuições normais para pesquisar e auxiliar o pessoal da investigação. Já localizou usuários de entorpecentes, pessoas idosas, entre outras histórias”, afirma Kelly.


POLÍCIA DEVE SER NOTIFICADA DE FORMA IMEDIATA APÓS LOCALIZAÇÃO

A SSP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) informou, em nota, que nos primeiros sete meses deste ano, 11.843 desaparecimentos foram registrados em todo o Estado. Desse total, 11.131 pessoas foram localizadas. Em 2022, foram registrados 19.514 desaparecimentos e 19.193 boletins de encontro de pessoas. 

Assim que a pessoa é encontrada, é necessário comunicar imediatamente a polícia. De acordo com a perita forense particular, Rosangela Llanos, especialista em Inteligência Investigativa Criminal, não notificar os órgãos públicos sobre isso pode prejudicar a renovação de documentos da pessoa que estava desaparecida, assim como outros prejuízos. “Pode acontecer também o cancelamento de benefício e restrições em geral por ainda existir no sistema público seu desaparecimento.”

A especialista aconselha que o indivíduo localizado adote procedimentos específicos para além do encaminhamento à Polícia. “É necessário levar a pessoa que foi encontrada para um centro de atendimento hospitalar para verificação do estado de saúde e solicitar atendimento psicológico para checar seu estado mental produto do fato que a manteve desaparecida.”




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