Canções gravadas na memória afetiva de gerações de roqueiros, irreverência cativante, banda azeitada, mas uma notável escassez de novidades. Isso é o que oferece o recém-lançado DVD Rita Lee - Multishow Ao Vivo (Biscoito Fino, R$ 44, em média).
Gravado em janeiro na casa de espetáculos carioca Vivo Rio, o vídeo também ganhou registro no formato CD (R$ 32, em média). Ambos os lançamentos devem ser consumidos sem moderação pelos fãs, mas pouco acrescentam à extensa discografia da intérprete, que tem revisitado a própria obra com frequência nos últimos anos.
O mais recente álbum de inéditas da sexagenária Rainha do Rock, Balacobaco, foi produzido em 2003. Desde então, chegaram às lojas o CD MTV ao Vivo (2004), o DVD Rita Lee Jones (com o especial Grandes Nomes, exibido pela TV Globo em 1980) e os DVDs retrospectivos da série Biograffiti.
BANDA E VOCAIS
Capitaneados pelo guitarrista Roberto de Carvalho - marido e parceiro de palco da artista há cerca de três décadas - os instrumentistas do grupo de apoio conferem vigor ao repertório, recheado de hits. Além do já conhecido virtuosismo do primeiro-cavalheiro do rock brasuca, merece menção honrosa a guitarra discreta, porém competente, de Beto Lee, filho do casal.
O set list traz sucessos tão manjados quanto eficientes, casos de Ovelha Negra, Lança-Perfume e Doce Vampiro. Rita nunca foi conhecida pela grande extensão vocal, mas conquistou merecidamente seu espaço como compositora inventiva e frontwoman carismática.
No show, as backing vocals Débora Reis e Rita Kfouri ocupam lugares destacados e compensam as limitações da patroa, sobretudo nos trechos mais agudos das melodias. Em músicas como Flagra e Saúde, pepita pop que dá nome ao disco gravado pela ex-mutante em 1981, isso fica evidente.
Outros bons momentos são a releitura de Bwana (que faz trocadilho com o nome do presidente norte-americano Barack Obama) e Baby, de Caetano Veloso, com final que inclui citações de estandartes tropicalistas como Domingo no Parque, Panis et Circensis e Alegria, Alegria.
PONTOS FRACOS
Mas, se os clássicos de Rita são capazes de empolgar qualquer público, o mesmo não se pode dizer das composições inéditas: Se Manca e Insônia, que constituem os pontos fracos do DVD. Escrita em parceria com Beto Lee, a primeira é típico petardo instrumental com influência direta da coleção de riffs dos Rolling Stones, daqueles que ela costuma fazer desde os anos 1970.
Composta com Roberto e sustentada por ritmos latinos, Insônia também não convence. Ambas as músicas não demonstram o mesmo brilhantismo de criações mais antigas.
Outra derrapada do repertório é o besteirol O Bode e a Cabra, versão forró escrita por Renato Barros, da banda Renato e seus Blue Caps, para I Wanna Hold Your Hand, da primeira fase dos fab four.
"A gente vai fazer uma música dos Beatles que demorou oito anos para a yokococô (Yoko Ono) liberar a letra em português, que ela não entendeu p... nenhuma", explica Rita no show.
Segundo ela, a versão foi produzida por Barros nos anos 1960, quando não havia restrições para releituras do quarteto britânico em outros idiomas. "A partir de um determinado momento, Yoko passou a controlar a versão para outras línguas. Quando mandamos O Bode e a Cabra, ela certamente não entendeu nada", afirma a cantora.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.