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A Justiça tarda mas não falha
Rodolfo de Souza
06/07/2023 | 08:59
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E o sujeito, então comandante de um rico e imenso país dos trópicos, pensou que pudesse dizer e desdizer, gritar acima de todas as vozes da Justiça, demonstrar que possuía uma força descomunal quando, na verdade, não dispunha dela. Imaginou-se até líder supremo de um lugar onde não houvesse força contrária aos seus ideais de puro despotismo. Imaginou-se chefe de tudo e de todos, senhor dos destinos de toda uma população, capaz de ditar os rumos da história de bajuladores e de gente oposta aos seus desmandos. Sonhou e sonhou, e tanto sonhou que se viu, repentinamente, onipotente. E o poder era tamanho que seus ideais de ódio, preconceito e demais sentimentos obscurantistas foram ganhando força cada vez maior em todo o território, onde adeptos que se afinavam com a mente torpe logo se juntaram ao líder.

Mas um dia, ele sentiu a ameaça. Sentiu que seus impropérios, em dado momento, pudessem ser calados, e seus impulsos absolutistas, sufocados. E foi então que se armou de artimanhas, as mais vis, para permanecer no comando. Fez e desfez, convocou a horda de seguidores, todos loucos fanáticos, aqueles cuja inteligência nenhuma fazia com que acreditassem cegamente nele. E esse povo promoveu arruaças e fez da desordem a sua bandeira, colocando a mentira e a infâmia a seu serviço, tal qual o chefe lhe ensinara. 

Tramou tudo isso, o sujeito, para que o séquito não lhe fosse tirado das mãos. Coisa que passou a abraçar, feito criança mimada agarrada ao brinquedo que lhe fora emprestado, mas que não lhe pertencia. Mesmo ciente disso, desejava possuí-lo na marra.

Mas a ameaça, aquela que o perseguia, enfim, surfou na onda da realidade, deixando ainda mais birrenta a criança que foi obrigada a entregar o tão amado brinquedo para aquele que chegou para tomá-lo e zelar pela sua proteção. Chegava ao fim, pois, o projeto autoritário que, até então, vinha robusto, carregado de apoiadores, gente graúda de várias patentes, do agro, das finanças, das comunicações... Todos decepcionados com o povo, que em súbito instante de lucidez decidiu-se pelo outro, a ameaça que pairava sobre o pensamento reacionário.

E tantos foram os abusos e as palavras de ordem contra a liberdade e contra a Carta Magna que os ombros do sujeito, agora ex-chefe, penderam, arcados por causa do peso de sua própria fala. Logicamente que a criança, como toda criança, sem juízo não pensou nas consequências. Nem pensou na possibilidade de existirem, uma vez que flertava com um regime em que déspotas jamais são penalizados por seus crimes. Entretanto, os olhos da lei, nada míopes, a tudo assistiram, e seus ouvidos aguçados não perderam uma só sílaba proferida. Assim, o candidato a caudilho foi julgado, e sua pretensão de voltar ao poder, frustrada. 

Diga-se de passagem, a boca pequena também comenta por aí que há ainda muito o que se investigar no tocante aos tropeços de um governo repleto de tropeços. E a Justiça promete atuar duramente a fim de formar processos e mais processos que, por certo, resultarão em um caldo mais espesso do que um simples impedimento de disputar pleitos. Inclusive, bem mais penoso!




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