Política Titulo Entrevista da Semana
Sou o candidato do Bolsonaro para a Prefeitura de São Paulo, diz Salles

Em entrevista exclusiva durante visita ao Diário, o deputado Ricardo Salles afirma que já tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser o candidato da direita à Prefeitura de São Paulo.

Da Redação
25/04/2023 | 10:09
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André Henriques/DGABC


Eleito com 640.918 votos , o quarto mais votado de São Paulo e o quinto do País, o deputado federal Ricardo Salles (PL) entende que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não mostrou a que veio. Para ele, a gestão está fazendo justamente o contrário do que prometeu na campanha. Em entrevista exclusiva durante visita ao Diário. Ex-ministro do Meio Ambiente, Salles diz que a gestão de Marina Silva tem sido marcada pelo aumento do desmatamento e o silêncio dela sobre as mudanças do Marco Legal do Saneamento. Ele afirma que já tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser o candidato da direita à Prefeitura de São Paulo. “A história do Ricardo Nunes (MDB) nunca foi ligada à direita. Ele é mal avaliado e não tem a mínima chance contra Guilherme Boulos (Psol). A chance de ganharmos é ter uma candidatura forte de centro-direita, que é o meu campo.”

Qual sua avaliação dos primeiros dois meses no Parlamento?

Para mim, é uma novidade. Fui do Executivo várias vezes, tanto no Estado quanto no governo federal. Estar no Legislativo é uma nova experiência, mas tem sido um grande aprendizado. Tem muita gente boa e preparada na Câmara, de outros partidos também, para promover debates. O passo seguinte é algo mais difícil, que é aprovar o resultado desses bons debates. Nessa semana, devemos enfrentar um desafio importante que é o PL da Censura, que limita a capacidade de disseminar informação e que, para mim, tolhe a liberdade de expressão. Para mim, tem sido uma boa experiência a vida parlamentar.

E os primeiros 100 dias do governo do presidente Lula?

Há dois pontos que chamam a atenção. Primeiro a presunção que havia de que o governo Lula seria de pacificação nacional. E não é isso que estamos vendo. Temos assistido um presidente que tem tido um papel grande em exacerbar as divisões e fomentar a rivalidade. Tem tido postura revanchista, persecutória, que é exatamente o contrário do que se dizia que seria o governo do Lula. Falavam que ‘o amor venceu’. Ali não tem amor nenhum, é tudo na base do ódio e vingança, o que é muito ruim para o País. O segundo aspecto é a falta de um projeto. Eles ganharam com uma margem apertada, mas não têm projeto. Não há um único ministério em que a equipe saiba o que fazer. É tudo na base do improviso. Inclusive o Ministério da Fazenda. A proposta do Fernando Haddad é o arcabouço fiscal, que não fica de pé. O PT pegou o Mais Médicos, um programa ultrapassado, e relançou como se fosse algo positivo. Isso não é projeto de saúde para o País. Há muita incapacidade. Do jeito que está, não vai avançar.

O governo federal tem dito que passou a enxergar a população mais necessitada, com projetos na área social, e com programas afirmativos para as minorias. O sr. entende que há essa estratégia?

A principal ajuda que um governo pode dar à sociedade é permitir que haja desenvolvimento econômico e, consequentemente, geração de emprego. Hoje há sucessivos aumentos do desemprego formal. Isso vai contra o discurso de defesa social do governo Lula. Foi dito na campanha que haveria aumento real do salário mínimo. E ele aumentou apenas R$ 18. A isenção do Imposto de Renda ainda não aconteceu. Ele falou da picanha, mas hoje se vê o contrário. O pessoal está perdendo renda. O governo está criando despesas e não está preocupado em controlar gastos desnecessários. 

O sr. falou do arcabouço fiscal. Como o sr. acha que vai ser o caminho dele no Congresso? Há conversas com a oposição?

Há uma boa vontade da oposição em ajudar a transformar o arcabouço em algo melhor. Mas é necessário haver responsabilização do administrador caso não cumpra limite de gastos. Da forma como está sendo desenhado, não acontece nada. E é necessário redução de despesas. O Brasil não aguenta fazer equilíbrio fiscal só com aumento de receita. O brasileiro já está cansado de pagar imposto. Não há nada ali que coloque algum freio no aumento da despesa pública.

Do jeito que está o projeto, o sr. vota contra?

Sem essas mudanças, voto contra.

Como o sr. está enxergando a gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente?

Eu tive três vezes mais votos a deputado federal do que a Marina. Então, a sociedade prefere a minha visão ambiental do que a dela. De qualquer modo, como ela foi indicada ministra, é prudente a gente dar espaço para ela mostrar a que veio. O que nós vimos até aqui na área ambiental não é bom. O primeiro trimestre teve recorde de desmatamento na Amazônia e cerrado. Há três meses que não para de subir. Não dá mais para usar a desculpa de herança do governo passado. Eles tinham muito discurso, mas a prática é outra. Marina também não se manifestou sobre o grave decreto que destrói o Marco Legal do Saneamento. Não há uma palavra dela sobre o assunto. Uma vergonha. Estou assustado, surpreso negativamente que alguém com a narrativa do meio ambiente fique em silêncio nesse caso.

E quanto aos que dizem que o Brasil voltou a ter relevância mundial na política ambiental?

O Brasil voltou a se submeter à agenda que os europeus e norte-americanos querem. Eles próprios não cuidam de seu meio ambiente. Para eles, tudo; para o Brasil, restrições. Se pelo menos essas restrições fossem compensadas de alguma forma, poderia pensar que talvez valesse a pena. Mas o dinheiro anunciado por Europa e Estados Unidos, eu só acredito vendo.

Falando sobre política, como está sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo?

O apoio de Jair Bolsonaro (ex-presidente, PL) eu já tenho. Ele declarou duas vezes que o candidato dele sou eu e que não irá apoiar o Ricardo Nunes (MDB), até porque ele não o apoiou na eleição passada e declarou recentemente que não quer ser o candidato da direita. Agora vamos conversar mais detalhadamente com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para mostrar que a candidatura é viável. Com toda razão, ele quer saber se há viabilidade eleitoral e se eu terei legenda do PL. Hoje o partido está nessa discussão de ter candidatura própria. E, nesse sentido, eu sou o candidato mais habilitado, o quinto mais votado do Brasil. O momento é de consolidação. Tenho conversado com Valdemar Costa Neto, mas ainda não de forma definitiva, já que o PL tem participação no governo do Ricardo Nunes. É compreensível a cautela.

Qual seria o papel de Bolsonaro na sua candidatura?

Bolsonaro é o grande líder da direita. Ele perdeu a eleição para o Lula por uma margem pequena. Ele personifica na direita um percentual bastante significativo de votos, equivalente aos votos de Lula na esquerda. O candidato do Bolsonaro, que nas palavras dele sou eu, acaba tendo os votos da direita, dos liberais, de centro-direita. Assim como a esquerda terá os votos do candidato do Lula, que entendo ser Guilherme Boulos. Há 25% dos votos cristalizados de cada ponta. Os 50% de centro incidem todos os candidatos, inclusive nós dois, o que me faz crer que no segundo turno terá o candidato do Lula e o candidato do Bolsonaro.

Mas não seria ruim para este campo político ter a sua candidatura e a do Ricardo Nunes?

Ele não é centro-direita. O Nunes é centrão total. Não tem nada de centro-direita. A história dele nunca foi ligada à direita. Então é óbvio que a direita não vai votar nele, ainda mais tendo o meu nome como candidato da direita, ex-ministro e deputado federal. O Ricardo Nunes tem uma gestão super mal avaliada, com a pior zeladoria dos últimos tempos. E ele nem pode dizer que não tem dinheiro em caixa. São Paulo é hoje uma cidade esburacada, suja, insegura e com trânsito caótico. Precisa ser feito em São Paulo o que aconteceu em Nova York, que foi a ‘tolerância zero’, com lei e ordem. Hoje as condições para que o PL não tenha candidatura própria são muito pequenas. É a maior bancada na Câmara, maior tempo de televisão e fundo partidário. Com exceção do Boulos, os candidatos do PL foram os mais votados em São Paulo. Como que um partido desse pode se comportar como uma legenda acessória de um prefeito mal avaliado, desconhecido? Não há motivo de o PL se juntar a um mau candidato.

Sem a sua candidatura, como o sr. enxergaria a eleição da Capital?

O Ricardo Nunes não tem a mínima chance contra o Guilherme Boulos. A chance de ganharmos do Boulos é ter uma candidatura forte de centro-direita, que é o meu campo. Ricardo Nunes não é nada. Poucos conhecem, mas quem conhece não gosta dele.




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