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Tirania daqui e de acolá
Rodolfo de Souza
21/04/2023 | 08:48
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Internet é lugar de aparência clara como um dia de primavera. Quem conhece há de concordar. Não fosse o seu lado obscuro, até que a navegação ali encontraria sempre águas calmas. Basta, no entanto, que se dê um passeio pelos seus meandros para se notar que nem tudo ali remete à calmaria. 

Falo de um lugar em que muitos olhos e ouvidos perscrutam dia e noite em busca de algo que lhes preencham o vazio que tomou conta de suas vidas desde a invenção desta e de outras modernidades. E o problema está justamente no fato de grande parte dos navegantes desse mar imenso, remar por entre a sua densa névoa à procura de tesouros que não levam necessariamente à evolução humana.

Porque eu lido com a palavra é que estou sempre atento aos seus passos e aos olhos ávidos que se voltam para ela, sobretudo nesse território. Violência, por exemplo, é termo encontrado fartamente ali. 

Vem na forma de palavra escrita, falada ou na forma de imagem. Sempre associado a todo tipo de atos insanos que a mente humana é capaz de conceber e pôr em prática. O substantivo em questão também está intimamente relacionado com tirania, mercadoria que se vende por atacado nesse vasto mundo virtual. Por isso, inicio o texto falando da rede. 

Tenho visto, pois, aqui e acolá matérias extensas sobre as mazelas humanas que visam unicamente promover o sofrimento alheio, sem peso na consciência, sem arrependimento. É evidente que nem só na rede propaga-se o mal e incita-se o ódio.

Li ainda hoje uma notícia sobre um teste feito com um foguete capaz de percorrer rapidamente grandes distâncias no planeta. 

A intenção de quem o construiu certamente não está relacionado com o transporte de passageiros, mas com o transporte de uma bomba com poder de transformar em pó grandes cidades, num estalar de dedos. E, todos sabemos, notícia assim faz bater com pressa o coração sanguinário, desejoso de fatos que inspiram a crueldade. 

Num país da África essa mesma tirania se fez presente na ação de pessoas que destruíram e mataram só para meter as mãos no poder. E o conflito encheu de patrocínio as manchetes, que aproveitaram o ensejo, cientes de que o fato logo cairia no esquecimento, como tantos outros. 

Tal qual esta, há guerras em curso até hoje que, de tão velhas, só são lembradas por aqueles que vivem o drama dia após dia, ano após ano. Gente que, por certo, não criou o conflito. A tirania, nesses casos, tornou-se corriqueira e, por isso, ganhou ares de normalidade, sobretudo, para quem a pratica. 

Cenas de menor proporção, mas com o mesmo requinte de crueldade, vi, há pouco na TV. Policiais, daqui deste triste rincão, agredindo a tapas uma mulher que correra em busca de socorro, uma vez que suspeitava estar sendo perseguida por alguém.

Ela só não sabia que seria melhor se tivesse pedido ajuda ao perseguidor. A tirania se expressa, pois, de variadas formas, em variados lugares, angariando cada vez mais adeptos. Talvez um dia, de tão grande e forte, a tirania acabe por engolir-se a si mesma.




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