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Nunca é um tempo que não chega
Rodolfo de Souza
24/03/2023 | 08:43
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É tarde para se pensar numa mudança de rumo. É o que propagam alguns, para quem a vontade e a determinação devem estar atreladas aos cabelos pretos e ao viço da pele. Engano de quem tem a convicção de que a vida dura somente até o aparecimento dos primeiros sinais da meia idade, de que sonhos e planos devem povoar só a mente da garotada, de que a partir da maturidade só resta ao ser humano se aposentar.

A inteligência miúda parece não conceber a existência de uma mente jovem num corpo maduro ou mesmo velho. E que, se lapidada com afinco, essa mente pode se tornar ainda melhor, com o passar do tempo. Seria notícia por demais estarrecedora para esse povo de inteligência rasa verdade tão dura. Até me falta coragem para contar-lhe uma novidade que botaria por terra todo o argumento de que se vale para discutir a questão. Por isso, pendurar as chuteiras, única saída para os mais velhos, segundo o seu parecer, não faz parte dos anseios de quem tem sede de conhecimento, de quem deseja seguir caminhando, possivelmente até quando a mãe natureza assim o permitir.

E, pasme amigo, atitude semelhante ao comentário que abre esta reflexão já testemunhei em evento com pessoas que, há muito, passaram da meia idade e que se lançaram em acalorada discussão sobre o tema. A maioria se colocando contra o apetite pelo saber. Refiro-me a pessoas que morreram tão logo deixaram para trás os áureos tempos. Sentimento duro a embalar o seu coração, que secou ao ver no espelho o anúncio da chegada de uma nova era, em que a maturidade da alma vem para trazer alento e sabedoria.

Perfeitamente aceitável, contudo, tal postura, uma vez que falo de gente avessa a qualquer assunto de cunho intelectual, de gente que jamais navegou pelas páginas de um livro e, consequentemente, não experimentou as delícias da descoberta. Tristes figuras que fazem da ignorância a bandeira pela qual devem lutar com unhas e dentes, simplesmente por desconhecerem que há outras possibilidades.

E como deve ser triste viver assim, sem perspectiva, convicto de ter perdido a vida tão logo as primeiras rugas apareceram.

O preconceito com relação à idade madura remete, pois, à mente nada propensa à expansão que só a sabedoria é capaz de promover. Soa para ela como uma ofensa a ideia de se retomar os estudos após a passagem da juventude.

Conheço um cara que, aos quarenta e seis anos, mergulhou de cabeça na segunda graduação, e que partiu para a terceira com mais de cinquenta. Sujeito afeito aos estudos, para quem a evolução mental deve ser cultivada sempre, até o apagar das luzes da existência.

O corpo, todos sabemos, é uma máquina, e definha com o passar dos anos. Todavia, a mente, se bem cultivada, tende a evoluir. E isso é bom, afinal, é a razão de estarmos aqui. Pensamento que este escritor traz à baila só para bulir com as ideias do leitor.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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