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Manteremos o ritmo de expansão do PIB?
Sandro Renato Maskio
06/03/2023 | 06:05
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Na última semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2022. Embora seja maior que a média observada nas quatro décadas encerradas em 2019, como visto na coluna da semana passada, é possível elencar alguns elementos positivos em torno deste desempenho, mas também elementos preocupantes.

Nos debates econômicos dizemos que, diante de um copo com água pela metade, podemos enxergá-lo como meio cheio ou meio vazio. É exatamente essa diferença de visão que se observa na divergência das análises que, por vezes, carregam viés político, como dificilmente não o seria.

Do lado positivo do copo meio cheio, o crescimento observado no ano passado é o maior desde 2013 - se desconsiderarmos 2021 por ter sido um ano atípico -, de reaceleração da atividade econômica após os efeitos de retração econômica provocados pela pandemia no ano de 2020. Paralelamente, a taxa de desemprego em 2022 ficou em 7,9% da força de trabalho no Brasil após ter chegado a 14,9% no primeiro trimestre de 2021, possibilitada pela retomada da atividade econômica e consequentemente da demanda por trabalho.

O crescimento registrado em 2022 ficou bastante próximo da expectativa do mercado divulgada no último relatório Focus do Banco Central do ano passado, quando a projeção do PIB para o ano passado era de alta de 3%.

Copo meio vazio
Contudo, não há garantias de que 2023 apresentará desempenho igual ou melhor (copo meio vazio). Ao analisarmos a trajetória do PIB brasileiro trimestralmente, a taxa de crescimento acumulada em quatro trimestres (últimos 12 meses anteriores a cada trimestre) vem desacelerando desde o primeiro trimestre de 2022. O mesmo ocorre ao analisarmos a taxa de crescimento de cada trimestre comparada com igual trimestre do ano anterior. Isso é um indicativo de redução do ritmo de expansão da atividade econômica.

O volume de investimentos para ampliação da capacidade produtiva se mostrou o mais baixo desde 2017, pós-recessão de 2015/16, desconsiderando o atípico ano de 2020. Isso pode ser reflexo do excesso de capacidade ociosa diante da redução do ritmo de retomada da atividade econômica e/ou da redução do nível de confiança e da intenção de investimentos produtivos por parte dos empresários. Essa queda na confiança empresarial também pode estar associada às expectativas diante das eleições de 2022 e da definição mais clara das estratégias e prioridades da política econômica.

Desemprego
O ritmo de redução da taxa de desemprego também caiu frente ao observado no 2º e 3º trimestres de 2021 e no 1º trimestre de 2022. Após um ciclo de recessão da atividade econômica, como observado nos últimos três trimestres de 2020, é esperado que nos períodos imediatamente seguintes a atividade econômica se recupere com mais intensidade, que diminui com o decorrer dos trimestres. Os dados trimestrais divulgados pelo IBGE demonstram exatamente este ciclo.

A grande dúvida é saber se o ritmo de expansão da atividade econômica se reduzirá nos próximos trimestres, registrando variação menor que 2,9% em 12 meses, como observado em 2022, ou se estabilizará próximo deste. Para que 2023 tenha desempenho melhor que 2022, é necessário acelerar a expansão da atividade econômica nos próximos trimestres. As projeções do mercado, divulgadas no relatório Focus do Banco Central na última semana de fevereiro, estimam crescimento de 0,8% em 2023. Após a divulgação do PIB, a atual equipe do Ministério da Fazenda afirmou esperar desempenho bastante modesto em 2023, de 0,2%.

As condições estão postas à mesa. Façam suas análises. Ademais, é acompanhar o desempenho da economia ao longo dos próximos trimestres e observar como os aspectos positivos, bem como os negativos, se interrelacionam e se sobressaem. A torcida é para que seja melhor, mas o campeonato terá partidas duríssimas para que seja possível avançar na tabela de classificação da economia por desempenho.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo 




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