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Lideranças do Grande ABC defendem pacto para pôr fim a tragédias de verão

Políticos e líderes de entidades ouvidos pelo Diário concordam com a criação do Fórum Regional de Habitação, a fim de evitar mortes e danos no período de chuvas

Artur Rodrigues
24/02/2023 | 07:08
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Chuvas intensas e deslizamentos neste começo de ano reacenderam debate sobre habitação (Foto: Celso Luiz/DGABC)


A tragédia ocorrida em Mauá na última terça-feira (21), quando uma mulher, entre 50 e 60 anos, morreu soterrada após deslizamento de um barranco no Jardim Zaíra, levantou debate sobre a necessidade da criação de um Fórum Regional de Habitação. O Diário ouviu lideranças políticas e sociais da região, que se comprometeram a lutar por uma frente ampla para a discussão de medidas que possam evitar novas tragédias provocadas pelas chamadas “chuvas de verão”.

Uma das principais lideranças sociais do Grande ABC, o bispo da Diocese de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini, colocou-se à disposição das sete cidades para participar de discussões e planejamentos sobre as questões de habitação da região. “O Grande ABC é uma potência econômica e tem muitas condições de investir em habitação. Pode ter a certeza que nós, da Igreja Católica, estaremos dispostos a ajudar no que for preciso. Apoiamos 100% a criação de um fórum regional e nos colocamos à disposição dos prefeitos e deputados nessa empreitada”, disse o bispo. “O poder público pode sempre evitar tragédias assim, mas se omite. Até que ponto os políticos não têm culpa disso tudo que aconteceu? Quando esse tipo de coisa acontece em bairros nobres, medidas são tomadas com rapidez. Mas em encostas e morros, o poder público deixa a população à própria sorte e não dá condições básicas de moradia.”

Em 24 horas choveu em Mauá 62 mililitros de água. Em 21 dias, o volume de água já supera em 140% o previsto para o mês de fevereiro, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e pela Defesa Civil do Estado de São Paulo. O esperado para 28 dias era 284 mm, porém, até agora, choveu 685 mm. Com a morte da idosa nesta semana, o município contabiliza o segundo óbito em decorrência das fortes chuvas em três meses. No dia 23 de novembro, um homem morreu na cidade após ter o carro arrastado até o Córrego Estrada do Britador.

A deputada estadual eleita Ana Carolina Serra (Cidadania) disse defender “o debate regional na construção de políticas públicas que cuidem de pessoas em sua integralidade, portanto, um fórum para discutirmos habitação, meio ambiente e as demais ações econômicas e sociais que promovam a ascensão familiar, é positivo.” O deputado federal Marcelo Lima (Solidariedade) disse que obras de prevenção são mais importantes.“Temos que criar uma frente ampla entre os deputados estaduais e federais, junto dos prefeitos e do ministro Luiz Marinho (PT) para debater políticas de habitação e evitar que novas tragédias aconteçam”, disse.

Para a prefeita de Diadema em exercício, Patty Ferreira (PT), os problemas que envolvem as sete cidades não devem ser tratados como responsabilidade particular de cada município e sim compartilhados entre as Prefeituras. “Assuntos como habitação não podem ser debatidos fora de um ambiente mais amplo, ainda mais em uma região conurbada como o Grande ABC, onde as divisas dos municípios são imperceptíveis e os problemas, compartilhados. Nossa região possui algumas particularidades que exigem aprofundamento do debate, com um planejamento abrangente para atenuar eventuais crises”, afirmou.

DIÁRIO SERÁ PORTA-VOZ DA CAMPANHA
O Diário vai dar voz às lideranças do movimento da sociedade civil que pretende discutir soluções e propor medidas que impeçam a ocupação de morros, encostas e áreas de várzeas e acompanhar a mobilização em torno da instituição imediata do Fórum Regional de Habitação. O jornal reafirma assim seu compromisso de servir de tribuna aos justos anseios da sociedade.

“Estamos prestes a completar 65 anos de circulação e nunca nos afastamos de nossa missão, que é a de bem informar as sete cidades. Participar de campanhas de interesse social também faz parte da nossa história”, lembra o diretor de Redação, Sérgio Vieira. Fundado em 11 de maio de 1958, o Diário participou de inúmeras mobilizações da sociedade.

Uma das mais importantes foi a que resultou na sanção da Lei Específica da Billings pelo então governador José Serra (PSDB), em 13 de julho de 2009. Após quase uma década de pressão da comunidade para que os deputados estaduais criassem regras para preservar o manancial, ameaçado pela ocupação de suas margens, o Diário liderou o processo de elaboração de abaixo-assinado que, com 67 mil adesões, tornou-se decisivo para dar início à tramitação do projeto na Assembleia Legislativa.

Em março de 2007, preocupada com a deterioração da Billings, a direção do jornal lançou a campanha “Salve a Billings” em defesa da recuperação e da preservação do maior reservatório de água da região metropolitana. A realização do abaixo-assinado mobilizou representantes da sociedade civil e da classe política. O então deputado Donisete Braga, com base eleitoral em Mauá, coletou 7.394 adesões, repassando-as posteriormante ao Diário. Em junho do mesmo ano, o material foi entregue na Assembleia Legislativa, com a presença do então secretário de Estado do Meio Ambiente, Xico Graziano, que elogiou a iniciativa do jornal.

Aprovado no plenário da Assembleia em 4 de junho de 2009, o texto que instituiu a Lei Específica da Billings foi sancionado por Serra durante visita do governador a Rio Grande da Serra em 13 de julho – fato que ganhou destaque como manchete do Diário da edição do dia seguinte.

A bióloga Marta Angela Marcondes, que integra o Subcomitê Billings-Tamanduateí, destaca a importância da participação de veículos de comunicação como o Diário na pressão sobre autoridades para que elaborem leis de preservação ambiental. Ela diz, inclusive, que, a partir do momento em que a imprensa retira a questão dos holofotes, os avanços param de acontecer. Foi o que ocorreu com a Lei da Billings, segundo a especialista. Em 2013, quando a sociedade já tinha se desmobilizado, os subcomitês deixaram de ser deliberativos, por determinação do Estado, passando a ser consultivos. “Isso desarticulou muito a sociedade civil”, lamenta Marta.




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