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‘Vamos oferecer cursos e melhorar as escolas do Grande ABC’, diz secretário estadual da Educação

Em entrevista exclusiva ao Diário, Renato Feder falou sobre os prontos que pretende trazer em sua gestão e os planos para o Grande ABC na Educação

Pamela Cadamuro
06/02/2023 | 09:14
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(Foto: Flávio Florido/Seduc-SP)


Durante os anos mais delicados da pandemia, a Educação foi uma das áreas que mais precisou se adaptar às mudanças impostas. Só no Estado de São Paulo são 3,5 milhões de estudantes matriculados na rede estadual.

Agora, com alunos de volta para mais um ciclo, é hora de recuperar os prejuízos e pensar no futuro. Com orçamento de quase R$ 50 bilhões, o maior entre todas as secretarias estaduais, Renato Feder, novo chefe da Pasta, tem o desafio de administrar tudo isso e trazer resultados. Para o Grande ABC, Feder fala sobre parcerias com empresas para formar profissionalmente os alunos e conteúdos mais próximos da vida real dos jovens.

Secretário, o sr. foi o primeiro nome anunciado após a eleição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O que o motivou a aceitar o convite e vir para São Paulo?
O fator foi a questão familiar. Eu sou de São Paulo, sempre morei e casei em São Paulo. Fui (ao Paraná) a convite do governador Ratinho Júnior (PSD), cumpri a missão de elevar (os índices educacionais) o Paraná a primeiro lugar (no Ensino Médio), mas a família pesou muito para que eu voltasse ao meu Estado. O desafio agora aqui em São Paulo também anima, estamos em uma rede enorme, com 3,5 milhões de alunos, cinco mil escolas, e a oportunidade de ter uma rede deste tamanho me deixou bastante animado e com boas perspectivas.

Com pouco mais de um mês como secretário, já foi possível entender como está a rede estadual paulista? Nesse início de trabalho, quais as três prioridades que farão parte da sua gestão?
Já trabalhei na secretaria em 2017, fiquei quase um ano por aqui, então deu para conhecer a rede, além desse mês à frente (da Pasta). A primeira ação prioritária será em relação a frequência escolar, que é o principal indicador educacional do mundo, mas um dos mais ignorados. Medir a aprendizagem é importante, mas isso demora muito. O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), por exemplo, só é medido a cada dois anos e demora de sete a 10 meses para a divulgação dos resultados. Já a frequência escolar nós conseguimos medir todos os dias, então, uma escola que tem alta frequência com certeza será muito boa. Já uma escola com 80% de frequência, quando o aluno falta pelo menos um dia na semana, é uma escola ‘doente’, em que o aluno por qualquer motivo quer faltar. Quero que a frequência escolar esteja ligada ao diretor, com o papel de deixar a escola atrativa para que a gente tenha alta frequência.

A segunda questão é a formação de professores. No Brasil todo, as formações de professores são muito teóricas, desvinculadas com o dia a dia da sala de aula e em geral ‘de cima para baixo’, com um grande especialista dando palestra para os professores, mas isso acaba ficando desconectado do dia a dia do professor. Queremos fazer uma formação ‘par com par’, o que significa escolher bons professores da rede que estão em sala de aula para que eles façam as formações com os colegas de uma maneira próxima e participativa. Lançar essa formação entre pares é algo que muda muito, o professor vai dar, no ano, milhares de aulas, com disciplinas e alunos novos e desafiadores. Quem não tem essa formação fica muito sozinho e desassistido, mas se ele tem uma boa formação onde pode construir junto com os colegas, isso melhora muito a qualidade da aula.

Já o terceiro ponto é o uso de tecnologia. O Estado de São Paulo já tem muitos computadores, mas o foco tem que ser o que o aluno está aprendendo nesse computador. Durante o ano, o aluno vai fazer redação no computador, fazer exercícios de matemática gameficada, aprender programação, inglês, ler livros. Nós queremos que os alunos procurem os computadores das escolas para tudo isso. As vantagens são muitas, o computador consegue se customizar com o ritmo de cada aluno. Em uma lista de exercícios, por exemplo, o professor tem que ir em um ritmo só, então aquele aluno mais avançado fica frustrado e o estudante mais atrasado não consegue acompanhar. No computador o aluno pode avançar mais rápido ou devagar, além de que quando ele pratica on-line, todo mundo vê esses avanços.

Falando sobre indicadores, o nível de aprendizagem das crianças caiu bastante principalmente em português e matemática durante a pandemia. Como o sr. avalia esse cenário e o que pode ser feito já neste início de ano letivo para contornar esse problema?
Nós temos algumas políticas. Quando você tem uma escola mais atrativa, o aluno vai mais e aprende mais; um professor bem formado oferece uma aula melhor e o aluno aprende mais; além da tecnologia, como comentei, no computador o aluno aprende mais. A pandemia atrapalhou muito, 2022 foi um ano de retomada, mas 2023 tem de começar pensando em normalização e aprendizagem. Aquele aluno que se recuperou em 2022 vai ter o currículo dele, assistir uma aula interessante e avançar cada vez mais, enquanto aqueles que ainda estão em defasagem farão aulas de reforço. As escolas já têm muitas aulas de reforço, principalmente as do modelo integral, onde quase metade dos alunos da rede estadual já está estudando. Na grade, a gente já prevê trilhas de estudos orientados nesse sentido.

Em relação ao Ensino Médio, o senhor chegou ao primeiro lugar do ranking do Ideb nessa etapa no Paraná. Em São Paulo, que está na terceira posição, esse sempre foi um ‘gargalo’. Mas é possível chegarmos lá?
O governador Tarcísio me deu algumas missões e uma delas é essa, de colocar São Paulo em primeiro lugar no Ensino Médio do Brasil. A estratégia ainda é a frequência escolar, formação de professores com currículo e matérias que o aluno se interesse, o que eu acho que faltou um pouco em São Paulo, ter matérias que o aluno vai usar na sua vida profissional. Um exemplo é a educação financeira, onde o aluno aprende a mexer com dinheiro. Ele não pode ficar 14 anos na escola e quando sair não saber fugir de uma dívida, calcular juros, resistir a compras por impulso que vão comprometer o orçamento. Isso é importantíssimo e vai entrar no currículo, assim como oratória, liderança, empreendedorismo e programação de computadores, que vai ser implementada já em 2023. Você tem um aluno saindo da escola com muito mais aprendizado se ele tem essas disciplinas.

O Grande ABC é uma região com muitas indústrias e oportunidades. Recentemente o sr. comentou que quer pelo menos metade dos alunos no ensino profissionalizante. Além das escolas técnicas do Centro Paula Souza, é possível pensar em algo nesse sentido para dentro das escolas estaduais, como parcerias com as grandes empresas que possuem planta aqui na região?
Isso está no nosso radar. Hoje nós temos mais de um milhão de alunos no ensino médio e 10% têm o privilégio de estar na educação profissional. Quero ampliar esse número, com pelo menos 500 mil alunos na educação profissional, majoritariamente dentro da escola pública, com os nossos próprios professores oferecendo cursos de qualidade, adequados à realidade. No Grande ABC, por exemplo, que é uma região industrial, nós vamos oferecer cursos nessas áreas, conversando com as empresas para entender a demanda, desenhar com elas e oferecer isso dentro da escola pública a partir do ano que vem. Essa é uma região muito positiva, onde a gente quer melhorar a qualidade das escolas, inclusive em parceria com as redes municipais. Parte do nosso trabalho também vai ser conversar com os secretários para entender que tipo de apoio podemos oferecer para que elas também avancem.

Tem alguma política pública que o senhor pretende manter ou reavaliar? As escolas de tempo integral, por exemplo?
As escolas em tempo integral foram um ganho da gestão anterior, eles pegaram pouco mais de 300 escolas nesse modelo e hoje já são 2.311, um crescimento muito bacana. Nesse momento, não adianta aumentarmos ainda mais esse número, mas sim garantir que elas tenham apoio. Se a escola ganha mais disciplinas, será que os professores estão preparados? Esse apoio para a escola amadurecer e o aluno se apaixonar por ela vai ser o nosso foco agora.

Nos últimos anos falamos muito sobre saúde mental dos jovens. Existe diagnóstico feito no ano passado pela secretaria onde mostra que 70% dos alunos tinham depressão ou ansiedade. Como falar do assunto dentro da escola?
Esse é um tema importantíssimo. Estamos montando um time para cuidar da parte social e psicológica. Já temos alunos atendidos nesse sentido nas escolas e devemos ampliar isso, empoderando a escola para ajudar nesse atendimento, por isso a gente volta na importância da frequência escolar. O aluno deprimido ou com algum problema falta muito mais e quando olhamos para a frequência podemos cuidar e apoiar esse aluno.

No ano passado a Assembleia aprovou a Nova Carreira Docente, mas existe mudança nesse projeto ou nos critérios para recebimento de bônus, demanda bastante presente entre os professores?
A ideia é, sempre que possível, valorizar os professores. De forma financeira, quando for possível, mas também com outras ideias como a oferta de intercâmbio inclusive para outros países, além de estimular as promoções dos professores que ajudarem na formação dos seus pares. Vamos construir tudo isso com eles.

Leia mais na edição impressa do Diário do Grande ABC desta segunda-feira (6).


 




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