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‘Abandonaram nossas crianças’, dizem familiares de alunos da escola Anne Sullivan

Pais recorrem à Justiça contra o fechamento da unidade, que atende alunos com deficiência; prefeitura ignora questionamentos sobre o assunto

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
29/01/2023 | 06:02
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(Foto: Celso Luiz/DGABC)


Com o encerramento das atividades escolares na E.E.B (Escola de Educação Básica) Anne Sullivan, em São Caetano, o ano letivo de crianças e jovens com deficiência severa ainda é incerto. Dos 20 alunos que estudavam na unidade, oito ainda não estão matriculados em nenhuma outra escola do município. 

Isso porque os pais dos estudantes lutam para que a decisão de fechamento da Anne Sullivan seja revertida e as crianças possam voltar a frequentar o espaço que, segundo eles, contribuí para o desenvolvimento pedagógico e social das crianças. Os familiares afirmam que outras instituições não ofertam o suporte necessário para atender as necessidades dos estudantes.
 
Segundo os pais, a Seduc (Secretaria de Educação) sugeriu o remanejamento para duas escolas especiais ou para as unidades de ensino regular do município. "Nossos filhos têm deficiências graves, colocar eles em escolas que não estão preparadas não vai aumentar a inclusão e sim excluí-los. Eles (a Prefeitura) abandonaram nossas crianças, expulsaram eles da escola", desabafa Marcello Patelli, 54 anos, pai da pequena Clara Patelli, diagnosticada com a Síndrome de Tatton-Brown.
 
Para tentar garantir o direito à educação de qualidade para os filhos, as famílias fizeram tudo o que estava ao alcance, como a abertura de um inquérito no MP (Ministério Público) – arquivado neste mês pelo órgão –, envio de ofício ao prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), manifestações em frente à escola, abaixo-assinado virtual, que conta com mais de 2.300 assinaturas, e a última medida realizada pelo grupo: moção de ação judicial contra o Executivo.
 
O fechamento da escola foi anunciado em novembro do ano passado. O Paço de São Caetano justificou que no local será criado um complexo de saúde para atender pessoas com deficiência e que as oficinas pedagógicas para assistidos acima de 18 anos irão continuar – a maioria dos alunos matriculados na Educação Básica está abaixo desta faixa etária.
 
"Estão falando que não queremos nos adaptar em outro espaço e não é isso. Como pais atípicos, precisamos lidar com mudanças e incertezas o tempo inteiro, não é um mero capricho a nossa luta. O fechamento da escola poderia ter sido feito de outra forma, não deram o devido respeito ao nossos filhos. Faltou planejamento e um plano de transição para que as crianças se adaptassem ao novo local, porém, não houve diálogo com a Prefeitura", diz Dara Sabino Calaça, 39, mãe de Yakini Calaça de Castro, 12, que estuda há quatro anos no Anne Sullivan e tem hipoplasia cerebral.
 
Além do desenvolvimento pedagógico, Maria Aparecida Arraz, 50, mãe da aluna Mariana Arraz, 15, que possui paralisia cerebral grave, destaca a socialização dos estudantes. "Minha filha ama ir para escola, nas férias precisei vir até a porta para que ela pudesse se acalmar. O Anne Sullivan é referência no ensino para pessoas com deficiência, esse modelo deveria ser replicado e não ser extinto", afirma.
 

Questionada diversas vezes pelo Diário, a Prefeitura de São Caetano não responde sobre o tema desde o ano passado.


PRESSÃO DE FAMILIARES IMPEDIU QUE PREFEITURA ENCERASSE ATIVIDADES DA ESCOLA EM 2014

Não é de hoje que familiares de crianças e jovens com deficiência de São Caetano precisam lutar para garantir o direito à educação. Em novembro de 2014, a Secretaria de Edução do município anunicou o fechamento da E.E.B (Escola de Educação Básica) Anne Sullivan e, com isso, a transferência de 21 alunos para escolas do modelo regular de ensino.
 
Assim como no ano passado, a Prefeitura de São Caetano justificou, em 2014, o fechamento da unidade ao cumprimento das diretrizes de educação inclusiva, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Na época, a administração municipal informou que manteria o atendimento às crianças com necessidades especiais por meio de oficinas. 
 

Revoltados, os pais dos estudantes realizaram um abaixo-assinado com mais de duas mil assinaturas contra o fechamento da escola. O MP (Ministério Público) também havia instaurado inquérito para investigar o caso. Após as pressões, o então prefeito Paulo Pinheiro (PMDB) anunciou um mês depois que a escola manteria as atividades para o ano letivo seguinte.




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