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Dívida bancária é principal motivo de inadimplência no Grande ABC

Na região, cerca de 74% dos consumidores endividados possuem pendências com bancos; despesas com água e luz estão em segundo lugar

Beatriz Mirelle
29/01/2023 | 06:00
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(Foto: Claudinei Plaza/DGABC)


As dívidas bancárias são os principais motivos para o endividamento da população do Grande ABC. A região acumulou 716.118 devedores até dezembro, dos quais 74,05% possuíam pendências com os bancos (cerca de 529.927 pessoas). O levantamento é do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e apresentado pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano. Depois dos bancos, as contas mais expressivas são de água e luz (10,97%), outros como cartões de loja e de crédito (8,03%), comunicação (3,9%) e comércio (3,06%). Segundo a pesquisa, o consumidor em inadimplência na região devia, em média, R$ 4.898,27 no mês passado. 

O presidente da CDL São Caetano, Alexandre Damasio Coelho, destaca que o perfil industrial do Grande ABC influencia no aumento dos casos de inadimplência. “A nossa região produz muita riqueza, gera empregos, tem muitas empresas, o que movimenta a economia. Isso faz com que os bancos tenham um público que queira adquirir crédito.” Segundo ele, os moradores têm um alto tíquete médio de consumo, que aumenta a chance de cair na inadimplência.
 

Outro fator que motiva essa taxa é o crescimento do número de contas bancárias durante a pandemia. “Muitas pessoas foram bancarizadas, ou seja, criaram contas para receber auxílio financeiro do governo. Poucas pessoas têm educação financeira e a todo momento há uma enxurrada de ofertas de créditos. Elas acabam pegando, mas não conseguem ou esquecem de pagar”. Esse contexto, que já apresentava sinais de empobrecimento e endividamento bancário da população, resultou em uma série de renegociações com altos juros e parcelas. Para Coelho, a tendência é que o número de endividados na região aumente até março, ainda como uma repercussão das festas de final de ano e despesas com o início do período escolar. 

TAXA DE JUROS

Para quitar as dívidas, as taxas de juros podem ser um dos empecilhos. Em dezembro, o valor médio de cobrança dos bancos foi de 7,56% ao mês para empréstimo pessoal, com variação de 2,12% frente a novembro (7,40%).
 
O Bradesco segue com a maior taxa ao mês para empréstimo pessoal (9,81%), seguido pelo Itaú (9,73%), Santander (7,89%), Safra (7,25%), Banco do Brasil (6,57%) e Caixa Econômica Federal (4,10%). Em caso de cheque especial, todos os bancos citados possuem cobrança de 8% ao mês, exceto o Banco do Brasil (7,73%), de acordo com o Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor da Fundação Procon-SP.
 
“O consumidor fica mais preocupado com o valor das parcelas e não se atenta aos juros nem ao montante do empréstimo. É uma linha de raciocínio que não o ajuda a se organizar financeiramente”, declara Coelho.
 

“O pagamento da dívida é uma despesa obrigatória do mês, como água, luz, aluguel, comida. É importante frear os gastos supérfluos (viagens, fast food etc.) enquanto tem gastos em atraso. O correto é ter esse controle por, no mínimo, seis meses”, destaca Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do COPPEAD/UFRJ (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro).


‘COMECE A POUPAR COM QUALQUER QUANTIA’

A dentista Carolina Militani, 23 anos, do Parque Novo Oratório, em Santo André, possui dívidas há cerca de dois anos. “Tudo na Odontologia é bem caro, como cursos de aperfeiçoamento e materiais. Meus maiores gastos atualmente são com os estudos e melhorias para o meu consultório”, explica.
 
Além de direcionar boa parte do salário com a profissão, as despesas fora do escritório chamam atenção no final do mês. “Faço cuidados estéticos e, neste ano, comprei minha primeira viagem internacional. Ao trazer novos itens ao meu ambiente de trabalho, consigo atrair mais clientes.” Apesar de se programar para pagar tudo em dia, Carolina ainda encontra dificuldades para zerar todos os boletos.
 
A economista Gabriela Chaves, CEO da NoFront - Empoderamento Financeiro, afirma que os casos de inadimplência entre os jovens de 18 a 25 anos, que receberam destaque em pesquisas de dívidas do Serasa, apresentaram alta pelas incertezas do mercado de trabalho. “O crédito é disponibilizado a eles sem nenhum processo educativo. Muitas vezes, pegam o dinheiro, mas estão em trabalhos com uma renda que oscila”, analisa. “Isso faz com que as pessoas não tenham segurança financeira para quitar as dívidas. A falta de orientação e a qualidade do emprego são fatores que instigam essa instabilidade”, complementa.
 
Gabriela detalha que é necessário priorizar o pagamento de contas com juros maiores para evitar o efeito ‘bola de neve’. Reforça também a importância de anotar quais são os gastos fixos e criar uma conta de emergência. “Geralmente, as dívidas surgem diante de eventos não planejados. Por isso, guarde o que for possível. As pessoas dizem ‘só vou guardar quando sobrar dinheiro’, mas comece a poupar com qualquer quantia, seja R$ 10 ou R$ 20, e abra uma conta separada para isso”.
 

Para a taxa de inadimplência no Brasil diminuir, Gabriela pontua que a renda média mensal da população precisa aumentar. Em paralelo a isso, a disciplina é fundamental para tentar reverter esses números. No caso da reserva de emergência, ela aconselha a não utilizar esse recurso para compras por impulso, como ingressos de show.




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