A GM (General Motors) busca dar, com o anúncio de que iniciou a montagem da Nova Montana na fábrica de São Caetano, a impressão de que tudo vai bem em seu relacionamento com a região. Mas não é bem assim. A companhia com sede nos Estados Unidos ainda deve explicações sobre a transferência de parte da sua produção do Grande ABC a outros países, como Argentina e Colômbia. A medida nebulosa, que veio a público em outubro passado por meio das páginas deste Diário, ainda preocupa lideranças administrativas, trabalhistas e políticas são-caetanenses. Instadas a se manifestar sobre o caso, empresa e prefeitura mantêm silêncio desde então. Qual a razão de tanto mistério?

Uma das maiores geradoras de impostos e de postos de empregos de São Caetano, a GM é vital para o município se manter no topo do ranking brasileiro de desenvolvimento humano. Daí a inquietação que tomou conta da comunidade quando se revelou que a empresa transferiu a produção do Onix Joy para Bogotá, na Colômbia, e parte da do SUV Tracker para Santa Fé, na Argentina. A Câmara e a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC imediatamente cobraram explicações da General Motors. Ao que tudo indica, todavia, a montadora não se dignou a dar satisfações. Quase três meses de silêncio. Um comportamento bastante inapropriado – para não dizer insolente.

É importante lembrar que, apesar de ser uma companhia privada, a GM locupleta-se de dinheiro público – e não em pouca quantidade. Em dezembro de 2019, depois de ameaçar sair da cidade, a General Motors foi agraciada pelo prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) com o ProAuto (Programa de Incentivo à Indústria Automobilística), com benefícios fiscais e tarifários por oito anos. Até a tarifa de água ficou mais barata para a empresa. Com o pacote de bondades às empresas, o governo deixará de arrecadar R$ 100 milhões no período. Exatamente por causa disso, mas não apenas por isso, é que a fábrica norte-americana deve um pouco mais de respeito e muitas explicações aos são-caetanenses.