Foi a primeira vez que os trabalhadores sem-terra conseguiram tomar a fazenda, inclusive a sede dela. Eles divulgaram para a imprensa o telefone da casa para eventuais contatos. Além do telefone, os invasores usam aparelhos e dependências da residência. Os membros do MST receberam equipes de reportagem na sala de televisão da casa da fazenda, sentados no sofá, alguns com os pés na mesinha de centro. O telefone foi cortado no final da tarde.
Os primeiros invasores, cerca de 400 homens, mulheres e crianças, chegaram ao local no começo da manhã, ocupando seis ônibus. Mais tarde, outras famílias (cerca de 200 pessoas) chegaram ao local. Não houve resistência. O administrador da fazenda, Vander Gontijo, afirmou à imprensa que não são 600, mas 200 as pessoas que ocuparam o local.
O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, acusou o Partido dos Trabalhadores (PT) de estar por trás da invasão. A legenda nega e chama a acusação de "irresponsável". FHC, que está em Brasília se recuperando de uma intoxicação estomacal, disse que a ação foi "um ato de provocação e um desrespeito à democracia". O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, chamou a ação de "terrorismo, bandoleirismo e crime". O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, disse que "a lei será imposta" e que será realizada a detenção "de quem está em delito".
O comando da invasão, em Buritis, afirma que só vai sair da fazenda quando as reivindicações forem atendidas. Os sem-terra afirmam ainda que estão prontos a reagir contra uma eventual ação da Polícia Federal ou Exército. Eles ameaçam destruir máquinas agrícolas e plantações, se houver violência. Gontijo disse que eles já estão estragando alguns veículos, como tratores, por não saberem usá-los. Barricadas foram armadas pelos sem-terra com utensílios pesados da fazenda.
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), afirmou que o governo e a Polícia Militar de Minas vão assistir ao caso "de longe". Itamar, desafeto assumido de FHC, lembrou que o Exército já foi chamado a intervir indevidamente no Estado em uma tentativa anterior de invasão, quando a fazenda foi considerada patrimônio federal.
Reivindicações - A liderança nacional do MST, em nota oficial, reivindica audiência com o Incra para o assentamento de pelo menos de 80 famílias excedentes de outros assentamentos feitos no local, além de recursos para o financiamento agrário. "O enorme despreparo e a insensibilidade das autoridades do Incra Nacional e do sr. ministro Raul Jungmann para com as demandas sociais negociadas há muito tempo e ainda não cumpridas são responsáveis por essa situação", afirma o documento do MST sobre a invasão.
O MST explica que os sem-terra que tomaram a fazenda Córrego da Ponte estão desde quinta-feira em Buritis, à espera de uma audiência com o Incra. Os sem-terra afirmam que fizeram a invasão depois de "inúmeras tentativas de diálogo e negociações e devido à negativa do Incra Nacional de participar de uma audiência com o MST para discussão da pauta de reivindicação local".
Gersino José da Silva Filho alega que estava com agenda cheia no final da semana e que havia marcado a reunião com o MST em Buritis para domingo. "Eles não precisavam ter feito isso, pois as negociações estavam em andamento", afirmou.
Raul Jungmann afirmou que a ação não tem ligação com o não-cumprimento da pauta de reivindicações do MST. Ele lembrou que a reunião com o representante do Incra estava marcada para domingo e disse que os invasores receberam entre R$ 20 mil e R$ 25 mil em assentamentos anteriores. "Não se trata de um ato de cunho social. Todos lá têm terra, crédito e uma situação acima da média do lavrador brasileiro", afirmou.
A fazenda Córrego da Ponte fazenda tem aproximadamente 1,3 mil hectares. Há criações de gado de raça e cultivo de soja no local.
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