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Região tem seis veículos a cada dez moradores

No Dia Mundial Sem Carro, com frota de 1,8 milhão de automóveis, cidades encaram desafios de mobilidade

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
22/09/2022 | 08:36
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André Henriques/DGABC


O Grande ABC, conhecido como o berço da indústria automotiva do Brasil, detém frota de 1.854.684 veículos, de acordo com dados do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito). Os números equivalem a 65,6% dos 2,8 milhões de habitantes da região (IBGE, 2021). É como se a cada dez pessoas, seis tivessem um carro, moto ou caminhão registrado em seu nome. Em meio aos desafios da mobilidade urbana, cidades de diferentes países celebram hoje (22) o Dia Mundial Sem Carro, buscando alternativas para modernizar o sistema de transporte.

"A relação que temos entre veículos e população é de fato alarmante. Este é um fenômeno brasileiro, não apenas do Grande ABC. E quando se verifica que parte da população não dirige, a gente percebe que existe praticamente mais de um carro por motorista nas cidades. Os incentivos aos veículos individuais nos trouxeram a este cenário", explicou o arquiteto e urbanista Marlos Hardt, professor da PUC-PR.

São Caetano é o município que concentra o maior volume de veículos por habitante. Na cidade, a frota representa quase 87% da população. Ou seja, oito a cada dez moradores teriam pelo menos um automóvel na garagem. Na outra ponta, Rio Grande da Serra, que possui a menor frota do Grande ABC, com 20.638 veículos registrados no Detran-SP, é também o município com o índice proporcional mais baixo de automóveis por pessoa, de 39,6% (confira ranking abaixo).

"Infelizmente temos no Brasil uma relação grande entre a renda e o modal de transporte utilizado. Os preços do combustível e dos veículos da forma como estão acabam levando aqueles que podem a terem seu veículo próprio", destacou Hardt, que observa que parte da população mais vulnerável não tem condições de uso do transporte público convencional.

"Um outro meio de transporte, a bicicleta, por exemplo, é pouquíssimo utilizada pelos extratos da população de maior renda, que usa praticamente só para lazer. E muitas vezes é o único meio de transporte das pessoas de mais baixa renda. A bicicleta é um ótimo meio de transporte, desde que a cidade esteja preparada para recebê-la, com ciclovias e espaços adequados para que as pessoas andem com segurança", afirmou o especialista.

No cotidiano, moradores se deparam com diferentes obstáculos de mobilidade: congestionamentos, espaços exclusivos limitados para ciclistas e transporte coletivo, problemas na conservação de calçadas, entre outros. "Enquanto achamos normal e reclamamos da saturação diária de ruas e avenidas, podemos dizer que nos 20 anos deste novo século a motorização brasileira quase dobrou. Está mais do que na hora de estabelecer políticas que convirjam para o transporte público coletivo e para a conectividade do sistema", argumentou Creso de Franco Peixoto, mestre em Transportes e professor da Unicamp, que ressaltou a necessidade de investimentos em transportes alternativos.

De acordo com as prefeituras, em média 367 mil pessoas utilizam o transporte coletivo na região por dia. Os dados não incluem São Bernardo e Rio Grande da Serra, que não forneceram números de usuários. A implantação de corredores exclusivos, a ampliação e a renovação da frota de ônibus que atendem linhas municipais e intermunicipais estão entre os investimentos para melhorar a mobilidade na região.

A Prefeitura de Santo André destacou a entrega, nesta semana, de 12 ônibus 0 km para atendimento de três linhas municipais, pela Viação Guaianazes. Segundo o Paço, desde 2017, 131 veículos foram entregues. São Caetano afirmou que realiza a renovação da frota de ônibus. Diadema informou que realiza obras do primeiro corredor exclusivo de ônibus, na Avenida Casa Grande, entre outras melhorias. Ribeirão Pires ressaltou a reforma do terminal rodoviário municipal. São Bernardo esclareceu que entregou oito corredores exclusivos, além de outras obras viárias.

Obras viárias e ciclovias no plano regional

Cidades da região realizam ações para estimular o uso de meios alternativos de transporte, entre os quais o sistema público coletivo e as bicicletas. Entre outros pontos, a diminuição dos automóveis individuais tem impacto ambiental, com a redução de poluentes emitidos pelos veículos.

A malha cicloviária do Grande ABC tem 55,7 quilômetros de extensão (não inclui Mauá e Rio Grande da Serra) e integra os planos de mobilidade das prefeituras. Para esta e outras adequações e modernizações viárias, Santo André, São Caetano e Ribeirão Pires somam, pelo menos, R$ 300,6 milhões em investimentos.

Santo André informou que destina R$ 39 milhões para a implementação de quatro quilômetros de corredores de ônibus e outros R$ 172 milhões para obras no Viaduto Adib Chammas ­ já finalizado ­ e do Viaduto Castelo Branco. São Caetano destacou R$ 38 milhões de investimento para a construção do Viaduto Independência, por meio de convênio com o Estado. Ribeirão Pires também irá tirar viaduto do papel para ligar dias regiões centrais da cidade cortadas pela linha férrea. Serão R$ 51 milhões destinados à obra.

Sem detalhar valores, Diadema destacou a construção de corredor de ônibus na Avenida Casa Grande e estudos para a construção do Terminal Eldorado. São Bernardo informou que estão no pacote de mobilidade o Complexo Viário Castelo Branco, a duplicação da Estrada Samuel Aizemberg e o viaduto Tereza Delta. A Prefeitura afirmou que conquistou recursos para obras do futuro Viaduto Estaiado da Robert Kennedy e da nova Marginal Ribeirão dos Couros. As obras no cruzamento da "Avenida Luiz Pequini e Rua dos Vianas também estão em fase final".




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