Política Titulo
Procuradores do MP se preocupam com a exposiçao na mídia
Do Diário do Grande ABC
05/08/2000 | 17:39
Compartilhar notícia


Os procuradores do Ministério Público que se transformaram na tropa de choque dos processos mais rumorosos do país nos últimos tempos - como o desvio de verbas do Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo e o suposto envolvimento no esquema do juiz Nicolau dos Santos Neto, do senador cassado Luiz Estevao e do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira - criaram uma rede de comunicaçao, via Internet, para se proteger. Eles estao preocupados com as críticas aos holofotes que passaram a jogar luz sobre o trabalho que desenvolvem.

Os procuradores estariam se expondo excessivamente aos refletores da mídia para se promover. Mais: algumas providências e estardalhaços estariam representando uma antecipaçao às decisoes do Judiciário. O caso Eduardo Jorge, que projetou os procuradores Luiz Francisco Souza e Guilherme Schelb, foi apenas o estopim de um processo em que vaidades e autocrítica começam a transparecer na rede. O Jornal do Brasil teve acesso a algumas das mensagens trocadas entre os procuradores reveladoras das preocupaçoes que afligem a categoria.

Em e-mail comentando uma autocrítica feita pelo procurador Daniel Sarmento, do Rio de Janeiro, Joao Carlos de Carvalho Rocha, do Rio Grande do Sul, depois de subscrevê-la, afirma: "Que toda a imprensa critique a superexposiçao do Ministério Público Federal na mídia e que até a Folha de Sao Paulo esteja contra nós, nao é de se estranhar. (...) E a grande imprensa é chapa-branca desde os tempos de D. Joao VI."

A autocrítica feita pelo procurador Daniel Sarmento, no último dia 27, para o endereço membros@mpf.gov.br foi a seguinte: "Se toda a imprensa critica a superexposiçao do MPF na mídia, será que estao todos errados? Nao somos donos da verdade e nao estamos acima do bem e do mal. Quem me conhece sabe que defendo um ministério público combativo e aguerrido, sobretudo na proteçao dos direitos humanos e do patrimônio público, mas será que isto significa que temos de estar todos os dias sob os holofotes, na televisao e nas manchetes dos jornais? A Constituiçao consagra princípios como os da presunçao de inocência e o da proteçao da imagem e da intimidade e nós, como defensores da ordem constitucional e do regime democrático, temos de atentar para isso."

Na sociedade em geral parece começar a se formar a percepçao de que, apesar de combativo e bem intencionado, o Ministério Público, às vezes, exagera. Os próprios procuradores nao disfarçam o problema. "Nossos inimigos institucionais, inclusive os que têm assento no Planalto, saberao se aproveitar disso para tentar limitar nossas atribuiçoes. Se a sociedade nao estiver fechada conosco, seremos presa fácil em qualquer reforma constitucional ou legislativa", avisa Sarmento no mesmo e-mail.

Um dos alvos principais dos procuradores internautas é o advogado-geral da Uniao, Gilmar Mendes. O procurador gaúcho Domingos Sávio Silveira, filho do ministro Néri da Silveira, do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, enviou para um colega mensagem de inconformismo com a atuaçao de Gilmar Mendes. "Será que ficaremos assistindo a esse conjunto de condutas do sr. AGU sem fazer nada? Fosse um ratao, um prefeito ou um presidente de fundaçao e nós já teríamos proposto meia dúzia de açoes de improbidade."

A politizaçao do Ministério Público nao é novidade. Desde a substituiçao de Aristides Junqueira por Geraldo Brindeiro na Procuradoria-Geral da República, porém, o quadro parece ter se acirrado. Antes, quem mais aparecia nos jornais era o próprio procurador-geral. Com a ascensao de Brindeiro, os procuradores ocuparam o espaço. A mudança nao escapou aos jovens voluntariosos apontados, tanto como responsáveis pela explosao de denúncias no país quanto pela inconsistência de parte delas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;