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‘Desejo que as pessoas acreditem mais na cidade’
Dérek Bittencourt
02/05/2022 | 00:01
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Daniela Batista/PMRGS


Menor município do Grande ABC (36 km²), população mais enxuta (pouco mais de 50 mil habitantes) e caçula das sete cidades, mas nem por isso menos ambiciosa, Rio Grande da Serra completa amanhã 58 anos e o prefeito Claudinho da Geladeira (PSDB) pretende presentear os munícipes a partir de algumas ações, como a instalação de semáforos, aumento no efetivo da GCM, inauguração do novo pátio de veículos e implementação do estacionamento rotativo. Amanhã, será lançado ainda um novo arranjo do hino da cidade. E, entre os planos futuros, estão a implantação de um mirante no Parque do Governador e o desenvolvimento da maior feira livre do Grande ABC.

Quais são os principais desejos ao apagar as velas neste 58º aniversário da cidade?
Meu principal desejo é que as pessoas acreditem mais na cidade. Olho para Rio Grande e só vejo qualidades. É como se fosse uma cidade do Interior, com pessoas muito acolhedoras e que se conhecem, mas com uma diferença: com uma logística que não há nas cidades do Interior. Estamos pertinho da Capital, com percurso de apenas 50 minutos de trem; em 20 minutos, estou no Rodoanel, e em uma hora estou no Litoral. Um paraíso no Grande ABC.

Quais presentes a população ganha neste 3 de maio?
O maior desafio enfrentado pela minha gestão é o de construir a identidade de Rio Grande da Serra como cidade. Quando o município foi emancipado, em 3 de maio de 1964, sob a liderança do José Carlos Carson, o Zé do Cartório, não houve qualquer planejamento. Rio Grande só foi ter hino quase 16 anos após sua emancipação, com Aarão Teixeira. Agora estamos trabalhando em um novo arranjo, que será apresentado no hasteamento da bandeira, amanhã. Embora seja uma das sete cidades do Grande ABC, Rio Grande carece de muita coisa. O terminal rodoviário é uma delas. Para se ter ideia, bairros de cidades vizinhas possuem uma rodoviária. Construir uma nova identidade e organizar uma cidade são tarefas na qual é necessária grande equipe técnica, da qual tenho muito orgulho de contar hoje. Tenho a alegria de ter tido ao meu lado um governador comprometido, com olhar municipalista, como foi o João Doria, cujo sucessor, Rodrigo Garcia, também possui. Ainda contamos com a deputada estadual Carla Morando, que abriu as portas do Palácio dos Bandeirantes, nos colocando em contato direto com secretários e técnicos que têm auxiliado nossa cidade.

A finalização da obra do terminal rodoviário é o grande legado que pretende deixar? Qual o principal legado até aqui?
O grande legado que pretendo deixar nesta gestão é a entrega do terminal rodoviário e a mudança da estação de trem para ao lado da rodoviária, e também a melhoria em serviços fundamentais como Saúde, Educação e Infraestrutura. Os principais legados nesses 17 meses de gestão são, sem dúvida, a retomada das obras do terminal rodoviário e o reequilíbrio financeiro da cidade. Ao assumir a gestão da Prefeitura, em 2021, nos deparamos com uma dívida de R$ 57 milhões, praticamente a metade da arrecadação do município. Nesse período, pagamos R$ 13 milhões em dívida, incluindo precatórios, acordos e fornecedores.

O senhor recebeu críticas por alguns projetos como o espaço oferecido aos motociclistas para ‘empinar motos’ e para os jovens promoverem ‘pancadões’. Ainda acha essas iniciativas viáveis?
Temos a ideia de criar um espaço de eventos para todos os ritmos musicais ou atividades, ao lado do Estádio Teixeirão. Acredito que é proibido proibir sem dar alternativa. Aqui não é só liberar, tem regras. Estamos organizando a nossa cidade. Em breve, teremos o estacionamento rotativo, estamos em vias de inaugurar o novo pátio e teremos semáforos, estamos reforçando da GCM (Guarda Civil Municipal), em breve, o efetivo será aumentado. Ainda estamos estudando a legislação para mandar o projeto de lei para termos a Lei do Silêncio. Queremos que as pessoas se divirtam nesse espaço, mas em outros lugares da cidade, (o veículo) será apreendido.

De que maneira avalia estes mais de dois anos de combate à Covid-19 no município? Como enxerga que Rio Grande enfrentou e passou pelos momentos mais críticos da pandemia?
Foi muito difícil. O mundo passou por algo que só passando para entender. Muitas vidas foram perdidas nesse período. Perdi muitos amigos e conhecidos. Não foi apenas a perda de vidas, mas também trouxe uma maior complexidade à gestão pública. Foi necessário aumentar os aportes financeiros à Saúde para fazer um bom atendimento à população. Te dou um exemplo: o que o município gastava por ano em oxigênio, passou a gastar por mês, entre outras coisas. Mas o mundo teve de se reinventar, não somos mais os mesmos. Mas o povo de Rio Grande da Serra é muito educado. Veja só: mesmo com a liberação das máscaras em todos os ambientes, ainda há muitas pessoas, especialmente os idosos, que continuam usando.

A cidade sempre esteve entre as piores que se vacinaram a população. O que ocorreu? Quais foram as dificuldades?
Rio Grande da Serra é uma cidade dormitório. Grande parte de sua população trabalha fora do município e se vacinou perto do local de trabalho. A Saúde do município tem trabalhado intensamente para fazer busca ativa de que ainda não se vacinou.

Recentemente a cidade iniciou a operação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Centro. Qual é a importância de ter essa estrutura vinculada ao município?
Trazer o Samu à cidade imprime mais rapidez ao atendimento à população. O tempo de resposta para atendimento cai de 15 a 20 minutos, de quando o veículo saía de Mauá, para menos de cinco minutos, dependendo de onde for a chamada. Uma unidade do Samu em Rio Grande traz mais segurança e um pouco mais de tranquilidade. Juntamente com o doutor Walter Cordoni (secretário de Saúde) estamos trabalhando também para reestruturar a área de atenção básica do município para fazer um bom trabalho de prevenção. E o encaminhamento continuaremos a fazer para os hospitais de referência como o Nardini (Mauá), o Mário Covas (Santo André) e o Serraria (Diadema). Com o governador Rodrigo Garcia fortalecendo o Santa Luzia, em Ribeirão Pires, e estadualizando o Hospital de Clínicas, em São Bernardo, vai ser muito bom para nossa cidade.

Rio Grande está localizada entre dois pontos turísticos, casos de Ribeirão Pires, que é uma estância, e de Paranapiacaba. Existe algum plano para fortalecer o turismo na cidade, fazendo com que ela deixe de ser apenas um ponto de passagem para as vizinhas?
A minha gestão está trabalhando em alguns projetos. Um dos planos é desenvolver o turismo religioso. Rio Grande da Serra é uma cidade, cuja população tem muita fé, 51% se autodenominam católico e 41% como evangélico, segundo o Censo. Temos um espaço muito interessante no Parque do Governador, no qual gostaríamos de implantar um mirante com a imagem de São Sebastião, padroeiro do município. Seria um local para devoção ao santo. Também estamos pensando em um espaço focado para os evangélicos. A natureza que cerca Rio Grande também é maravilhosa. Há muitas trilhas e as nascentes de água, que atraem muito ecoturistas. Estamos desenvolvendo um projeto para melhorar a sinalização. Também estamos conversando com os feirantes para desenvolver uma grande feira de domingo, na Rua Prefeito Cido Franco. O intuito é ter a maior feira livre do Grande ABC, tendo como grande exemplo a Feira de Caruaru-PE, funcionando o dia inteiro. Impulsionando os micros e pequenos empreendedores da cidade.

As seis vizinhas que juntamente a Rio Grande compõem o Grande ABC possuem times de futebol profissional. O senhor tem algum projeto e até mesmo alguma ambição para que a cidade também tenha um representante?
O nosso objetivo, neste primeiro momento, é fortalecer a nossa Liga de Futebol Amador e os times da várzea. O povo de Rio Grande da Serra ama futebol. Os jogos da Liga atraem um grande público. Em um futuro, quem sabe, poderemos ter uma seleção de Rio Grande da Serra representando o município em campeonatos no Estado.

Existe algum plano para atrair novas empresas para o município? E o que vem sendo feito para manter as que já estão instaladas na cidade?
Hoje fizemos a reforma tributária em nossa cidade. Desde o início de minha gestão, cerca de 30 novos empreendimentos foram abertos em Rio Grande da Serra como a FarmaConde, as Lojas CEM, a Cacau Show. Também contamos com um novo posto de gasolina, agora a população não vai mais para as cidades vizinhas para abastecer. Estamos trabalhando na informatização para desburocratizar o registro de empresas. Também estamos desenvolvendo novos projetos para aumentar a arrecadação do município. Também vamos criar o estacionamento rotativo para fortalecer o comércio, instalar semáforos na cidade, melhorando a mobilidade urbana na cidade.

O senhor é o único prefeito negro da região e o primeiro da cidade. Como enxerga tal fato? Acredita que pode estimular outros jovens negros a ingressarem na política municipal? E, por outro lado, vê algum preconceito em razão disso?
Para mim é uma honra ter me tornado o primeiro prefeito negro de Rio Grande da Serra. Tenho muito orgulho de ser esse representante. Ouvi durante a minha vida toda que não iria conseguir. Primeiro, quando fui candidato à vereador – atuei por três legislaturas, sendo que em uma delas fui o mais votado – e, agora, fui eleito prefeito com 35% dos votos. Tudo é possível, é só você lutar. Acredito que ser apenas o primeiro prefeito negro não faz muita diferença. Mas ser o primeiro negro neste cargo, fazer uma boa gestão, melhorar a vida da população e deixar um legado, sem dúvida vai estimular outras pessoas a fazerem o mesmo.

Aliás, por falar nesse assunto, ele tem algum tipo de relação com o projeto de lei para o batismo da rodoviária como Zumbi dos Palmares?
Na véspera do dia da Consciência Negra de 2021, recebi os representantes do Movimento Negro da cidade que, posteriormente, constituiria Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e Afrodescendente com a proposta para denominação do terminal rodoviário. Achei a ideia fantástica, pois a homenagem, além de se dirigir ao próprio Zumbi dos Palmares, símbolo da luta antirracista, ainda presta tributo a todos os homens e mulheres afrodescendentes que contribuíram para a construção do município.

Raio-x
Nome: Claudio Manoel Melo, conhecido como Claudinho da Geladeira (PSDB)
Estado civil: solteiro, pai de uma filha e avô de dois netos
Idade: 56 anos
Local de nascimento: Caruaru-PE; mora em Rio Grande da Serra há 44 anos
Formação: Ensino Médio completo
Local predileto: Rio Grande da Serra
Livro que recomenda: Bíblia Sagrada
Artista que marcou sua vida: Roberto Carlos
Profissão: autônomo, hoje está como prefeito de Rio Grande da Serra
Onde trabalha: Prefeitura de Rio Grande da Serra
 




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