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São Bernardo falha em evitar fuga de segunda montadora em 3 anos

Saídas da Ford e Toyota contrastam com propaganda oficial de melhor cidade para negócios da indústria

Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
07/04/2022 | 08:41
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Claudinei Plaza/DGABC


O anúncio de que a Toyota vai encerrar as atividades em São Bernardo, fechando a primeira fábrica da montadora fora do Japão, traz à memória o que ocorreu em fevereiro de 2019, quando a Ford comunicou que deixaria a cidade. Em um prazo de pouco mais de três anos, duas das mais importantes marcas do mundo saíram da ‘melhor cidade para negócios da indústria’, segundo a Prefeitura comandada por Orlando Morando (PSDB).

Na terça-feira, pouco depois do aviso de saída da Toyota, que concentrará as suas operações em Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, o Paço de São Bernardo afirmou por nota que Morando lamentou a decisão, que os representantes da empresa “sempre foram bem acolhidos e recebidos pela administração municipal, o que não justifica a sua desmobilização da cidade” e que o prefeito iria “procurar o presidente da Toyota do Brasil, Rafael Chang, visando mudar essa decisão da companhia”.

Em 2019, quando a Ford resolveu tirar o time de campo, a reação foi parecida. Naquela época, Morando tentou, sem êxito, demover a companhia norte-americana de deixar o município. Depois de todas as tentativas frustradas, ele e o então governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciaram que buscariam um comprador para a empresa e que, dessa forma, os 2.800 empregos seriam mantidos.
<EM><CS10.5><CW-24>Um reunião foi realizada no Palácio dos Bandeirantes, na qual chegou-se a anunciar que o Grupo Caoa Chery iria adquirir as instalações da empresa. O negócio, entretanto, não vingou e, em 30 de outubro de 2019, as linhas de produção pararam definitivamente após 52 anos de atividade no Taboão, o que impactou negativamente a vida dos trabalhadores, suas famílias e a economia do município.

Questionada ontem se Morando já havia procurado Chang, como havia declarado na véspera, a Prefeitura enviou resposta vaga, na qual expõe que “a transferência da Toyota faz parte de estratégia da empresa e não reflete o cenário econômico da cidade, que projeta R$ 9 bilhões de investimentos até o final do ano, de acordo com estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas)”.

A nota também repete que São Bernardo foi “considerada a melhor cidade para negócios da indústria, segundo a consultoria Urban Systems, e segue na liderança da geração de empregos no Grande ABC, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)”, divulgados pelo Ministério da Economia.

A Prefeitura reconhece que “a transferência terá impacto na arrecadação de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). ISS (Imposto Sobre Serviços), taxas de funcionamento e publicidade, taxa de fiscalização sanitária e também nos futuros repasses do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), mas tenta amenizar o golpe lembrando que “o processo de mudança da empresa será gradual entre o final de 2022 e 2023”.

Vale lembrar que a Ford também estabeleceu um prazo entre o anúncio e a saída em definitivo.

Trabalhadores declaram estado de greve
Beatriz Mirelle - Especial para o Diário

A Toyota reiterou ontem a intenção de encerrar as operações em São Bernardo e transferir as atividades para as unidades de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, no Interior do Estado. Em resposta, os trabalhadores comunicaram a empresa que estão em estado permanente de greve. Hoje, às 10h, os funcionários vão se reunir no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para definir “os encaminhamentos de mobilização e luta”.

A Toyota justificou que a mudança para o Interior se dá pela busca da empresa por mais sinergia nas unidades produtivas, assim como o objetivo de aumentar a competitividade frente aos desafios do mercado nacional. Nesse processo, cerca de 550 funcionários serão afetados.

“Essa luta pode ser uma corrida de 100 metros ou uma maratona. Se for uma maratona, os trabalhadores terão fôlego para enfrentar. Caso necessário, vamos trazer a solidariedade de toda a categoria. Cada um aqui merece respeito. Não é assim que se trata os trabalhadores”, afirmou Moisés Selerges, presidente do sindicato.

O diretor administrativo da entidade, Wellington Messias Damasceno, declarou que, “segundo a própria Toyota, (a fábrica é) lucrativa e produtiva. O sindicato continua acreditando que esta unidade pode sim permanecer. Vamos fazer o esforço que for necessário do ponto de vista de articulação”.

O auxiliar de processos Eraldo de Almeida, 58 anos, comenta que o estado de greve é demonstração da indignação dos trabalhadores. “É decepcionante. Não esperávamos que a Toyota fosse fechar definitivamente. Fomos para a fábrica hoje (ontem) e vimos a pauta que o sindicato colocou. Foi feita uma votação e todos aceitaram ir para casa.” Para ele, a mudança de cidade não é algo viável. “Toda minha família está aqui. A princípio disseram que haverá incentivo e que ninguém ficará desempregado, mas não somos inocentes de imaginar que eles vão custear tudo”, completou.

O analista de administração de produção Marcelo Vitorino, 45, também se surpreendeu com o comunicado do presidente da montadora. “Não houve nenhum comentário antecipado a respeito dessa possibilidade. Recentemente, soubemos dos investimentos na planta de Indaiatuba. Nessa reunião, achei que teríamos notícias positivas e novos projetos na fábrica de São Bernardo”, afirmou. 




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