A fala é de Pierre Verger (1902-1996). Mais precisamente, de quando o etnólogo e fotógrafo francês tinha 80 anos. Ela integra Verger – Um Retrato em Preto-e-Branco (Corrupio, 484 págs., R$ 90), sua primeira biografia. O livro será lançado quarta-feira (dia 29), a partir das 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073. Tel.: 3170-4040).
De autoria de Cida Nóbrega e Regina Echeverria, a obra revela a instigante história de vida do artista e pesquisador. O prefácio é de Emanoel Araujo, artista plástico e ex-diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. O título traz cerca de 220 reproduções fotográficas, 50 delas assinadas por Verger.
É um lançamento que encerra em grande estilo as comemorações do centenário de Verger, as quais renderam, por exemplo, uma megaexposição que foi vista no ano passado na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo.
Aos 30 anos, após a morte de sua mãe, Verger abdicou da vida burguesa em Paris para rodar o mundo e viver de fotografia. Rodou por várias regiões dos cinco continentes, mas ficou fascinado mesmo pelo povo baiano, sobretudo os negros descendentes de escravos, e pelos cultos afro-brasileiros e por suas outras vertentes culturais.
Transformou-se, assim, no mais importante pesquisador dessas manifestações e sobre elas escreveu livros e fez excelentes fotografias. Escolheu a Bahia para viver, a partir de 1946, mas continuou viajando, sobretudo para a África, desenvolvendo seus estudos.
“A vida de viajante de Verger começou em 1932. Viajou a pé, de bicicleta, de avião e de todas as formas possíveis. Chegou à Bahia em meados dos anos 40. Sua paixão foi a cultura dos negros descendentes de escravos. Dizia que o negro baiano, diferente de outros povos escravizados, tinha uma auto-estima elevada. Ele concluiu que isso ocorria devido à religiosidade, o candomblé, que valoriza muito o indivíduo”, afirma Regina.
“Às vezes tinha uma certa graça brejeira de moleque, aprendida possivelmente nas rodas de capoeira ou com o artista Carybé, seu amigo. Os olhos revelavam sempre um brilho de descoberta, uma curiosidade de pesquisador. Tinha ainda a humildade de um monge, mas transmitia uma força tenaz e obstinada. Verger não era mesmo mais o fotógrafo. Era etnólogo famoso pelos muitos livros que publicara e suas fotografias agora existiam somente naqueles livros e em função deles”, afirma Emanoel Araujo, o autor do prefácio do livro que, se não tivesse quase 500 páginas, seria para ser lido de uma vez só.
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