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Bancas do Grande ABC preservam o charme
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
12/01/2002 | 15:30
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Tradicionais ou modernas, bancas de revistas e jornais fazem parte do cotidiano das cidades, e o jornaleiro, como se denominam os orgulhosos donos destas pequenas (ou grandes) casinhas de metal, enche o peito para afirmar que vende cultura e informação. Um fenômeno recente é a inclusão de guloseimas em geral, CDs, DVDs, óculos de sol, rádios, relógios, cafeteria etc. Algo como a inversão de outra tendência: padarias e supermercados que vendem revistas e jornais.

Se no Grande ABC as grandes revistarias, como são chamadas, incrementam artigos e serviços à disposição do público, como entrega domiciliar e página na internet, os pequenos esbanjam simpatia. Alguns com quase 50 anos no mesmo ponto. E todos os jornaleiros, sem exceção, descobriram-se como fonte de informação importante do bairro onde atuam, desde a localização de ruas até informar quem presta bons serviços ou não. De quebra, o freguês ainda pode levar um jornal ou uma revista para casa. Ou uma figurinha, um doce, um CD. Até tirar fotocópia, tomar café, sorvete ou revelar filmes é possível em uma banca hoje em dia.

Há quem se recuse a ampliar sua banca, mesmo tendo recebido oferta para isso. Don Gibi, por exemplo. “Eu não mudo, não. Está bom da maneira que está. É meio bagunçado, mas esse é meu jeito”, diz. O nome da banca Don Gibi (av. Senador Vergueiro, em São Bernardo) se confunde com o apelido de José Gonçalves de Almeida, 59 anos. Este alagoano veio para São Paulo trabalhar como metalúrgico e tinha um desejo: “Sempre quis ser autônomo”. Há 15 anos é “vendedor de cultura”. É assim que ele se define, além de “ratinho de banca”, pois lê tudo o que aparece na frente. “Hoje, menos do que antes”, afirma.

A Don Gibi tem jornais, revistas novas e números antigos. Livros também, alguns interessantes como uma edição norte-americana de bolso de The Gulag Archipelago (Arquipélago Gulag), de Alexander Soljenitsyn, e The Andersen Fairy Tales (Contos de Fadas), de Hans Christian Andersen, em inglês, impresso na Dinamarca, em 1950. E ainda tem CDs, fitas de vídeo, relógios, rádio, pequenos dinossauros etc. “Tudo está à venda, menos o extintor de incêndio”, diz.

O “Baixinho”, que é como os fregueses habituais o chamam, colocou uma placa de saudação: “Entre, você é meu convidado”. Para quem não entra, e pede uma revista que está no alto da prateleira, Don Gibi sobe em um banquinho para atender.

Quando era criança na pequena Feira Grande (AL), lembra, seu padrinho deu-lhe uma moeda. “Com ela comprei um doce, fui ao cinema e comprei um livrinho de cordel”. Foi destino? Ele desconversa. “Tenho duas frustrações: não ter me formado em Direito e não possuir uma livraria”.




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