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'O Exorcista': o medo primal está de volta
Alessandro Soares
Da Redaçao
14/10/2000 | 15:06
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O filme O Exorcista (1973) nao foi feito para assustar, dizem seus realizadores, mas arrepiou e chocou platéias no mundo inteiro. E parece continuar arrepiando, pois uma reediçao deste clássico de suspense e horror lançada em setembro nos Estados Unidos permanece entre as quatro maiores bilheterias da temporada. A nova versao da história de uma menina de 12 anos possuída pelo demônio teve o fim modificado, com menos ambigüidade, e 11 minutos de cenas adicionais. O filme tem estréia prevista para o Brasil em dezembro, onde estreou há 26 anos nos cinemas.

O reeditado O Exorcista, chamado "a versao que você ainda nao viu", tem novo som estéreo, músicas adicionais e cores remasterizadas. Esse trabalho foi realizado em 1998 pelo roteirista e autor do livro William Peter Blatty e o diretor William Friedkin, quando o filme foi lançado em DVD. Nenhuma alteraçao nas cenas de possessao demoníaca, nem nas palavras ditas por Regan (Linda Blair) enquanto enfia um crucifixo na vagina: "F... me" e "Deixe Jesus te f...", nem nas cenas de vômito verde nas faces dos padres exorcistas Karras (Jason Miller) e Merrin (Max Von Sydow), diante de sua atônita mae (Ellen Burstyn).

Blatty, o autor, nao gosta de usar o termo filme de horror. Ele prefere liçao de espiritualidade. Porém, as platéias que fizeram o filme render US$ 160 milhoes exibido em vários países, um fenômeno para a época, iam ao cinema para sentir o medo primal do demônio. A mensagem do triunfo de Deus (o Bem) sobre Sata (o Mal) era irrelevante.

O fim original deixou uma ambigüidade latente: quem venceu, afinal, Deus ou o diabo? Friedkin, o diretor, que havia realizado Operaçao França dois anos antes, optou por deixar a platéia decidir. Nos anos 70, antes de Guerra nas Estrelas (1977) e dos blockbusters de verao, os filmes norte-americanos ainda permitiam que a platéia exercesse uma funçao, com um mínimo de raciocínio.

A maioria, no entanto, achou que Sata tivesse vencido, ao contrário do que Blatty e Friedkin teriam imaginado. Na corrida ao Oscar daquele ano, o filme foi indicado em 11 categorias, e venceu roteiro e som. Friedkin tinha consciência de uma campanha contra a vitória na categoria melhor filme: nao ficaria bem um filme com uma garota se masturbando com um crucifixo pertencer ao rol dos oscarizados.

Nesta nova versao, foram acrescentadas cenas como o "andar de aranha" de Linda Blair pelas paredes escada abaixo até o clímax, um close de sua boca cheia de sangue. Sangue em jorros, monstros horripilantes e gosmentos sao a tônica do cinema de horror hoje em dia, feito para assustar (divertir?) adolescentes. Em O Exorcista, Regan era uma adolescente que nao demonstrava nenhuma inocência ao influenciar os pesadelos de adultos com alguma maquiagem e efeitos especiais de baixíssima tecnologia.

Embora os mais jovens possam encarar o filme como "a volta do vômito sopa de ervilha", há uma sensaçao de nostalgia psicótica neste revival. Havia uma espécie de aura de intocabilidade na época de seu lançamento com relaçao ao demônio. Hoje, ele freqüenta livremente a indústria cultural em CDs, desenhos, vídeos, filmes, séries, livros etc. É comum e desinteressante como fonte de susto e medo. O Exorcista provocou o medo puro, o medo do desconhecido, como antes nenhum filme havia feito, mostrando apenas de relance a face do demônio, deixando a humanidade à sua mercê.




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