Economia Titulo
Argentina anuncia 'congelamento' das negociações com o FMI
Da AFP
07/08/2004 | 16:46
Compartilhar notícia


A tensão entre a Argentina e o FMI (Fundo Monetário Internacional) aumentou neste sábado, quando o ministro da Economia Roberto Lavagna anunciou um congelamento das negociações com a instituição financeira até concluir o acordo com credores privados quanto à dívida em mora, mantendo sem alterações a oferta de pagamento com 75% de desconto do valor de face.

"A revisão (do cumprimento das metas do acordo vigente) era para ser feita em junho, quando correspondia, ou será feita no próximo ano. Agora é preciso conversar com mercado", afirmou o ministro ao jornal La Nación.

A decisão do governo do presidente Néstor Kirchner foi conhecida um dia depois que o próprio Lavagna divulgou uma severa crítica ao FMI por sua atuação ante a crise argentina. O ministro afirmou, em um documento, que o Fundo comentou "erros crassos" no exame da crise que incluiu a desvalorização do peso, em janeiro de 2002, e disse que o instituto "não parece estar preparado para essas situações".

Nesta semana, o diretor-geral do FMI, Rodrigo de Rato, anunciou o adiamento para setembro da terceira revisão do desempenho argentino, segundo o programa acertado em setembro passado, o que implica uma demora nos empréstimos para a Argentina, que, apesar de tudo, conseguiu superar as metas trimestrais.

A resposta argentina imediata foi que, em setembro, com o aval do FMI ou sem ele, oferecerá formalmente aos credores a troca de seus títulos da dívida em 'default' desde dezembro de 2001 por bônus da dívida reestruturada com a proposta de desconto. Por isso Lavagna afirmou este sábado que agora "precisa conversar com o mercado".

Quanto ao adiamento proposto pelo diretor do FMI, o ministro assegurou que "não há problemas quanto a isso" e disse que a terceira revisão não deve se sobrepor à quarta, em setembro, quando, além disso, devem ser definidas as metas fiscais para 2005 e 2006.

A situação pode agravar-se ainda mais se a Argentina, como já fez em adiamentos anteriores do FMI na aprovação de revisões, se negar a continuar honrando seus compromissos junto ao organismo.

A Argentina, que no total deve USU 21 bilhões a organismos multilaterais, mas se mantém em dia com seus compromissos, tem vencimentos de US$ 1,8 bilhão no correr de 2004, equivalentes a 10% de suas reservas internacionais, dos quais US$ 700 milhões devem ser pagos agora em setembro.

Em setembro passado, a Argentina e o FMI alcançaram um acordo que transformou o país sul-americano no primeiro a não receber recursos extraordinários do sistema financeiro internacional ante uma situação de mora de sua dívida.

Então foram programados com minúcia de relojoeiro empréstimos de assistência do organismo quase simultâneos e pouco menos equivalentes aos pagamentos que a Argentina iria realizando para atender a seus vencimentos, com o que vai reduzindo sua dívida de maneira gradual.

Por isso, os adiamentos do organismo em analisar as contas argentinas prejudicam os interesses desse país, e já são considerados por Buenos Aires uma pressão em favor de uma melhor oferta aos credores privados e de medidas estruturais superiores ao desempenho macroeconômico.

Lavagna comentou diplomaticamente este sábado a posição fixada na véspera pelo subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Taylor, que disse que nem seu governo, nem o FMI devem interferir na negociação com os credores.

"Está em sintonia com a postura que deve adotar um organismo como o Tesouro", afirmou Lavagna, apesar de outras fontes de sua pasta falarem de um sentimento de decepção.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;