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Fobia de dirigir não tem causa específica e pode ser tratada
Anelisa Lopes
Do Diário do Grande ABC
05/10/2005 | 09:59
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Situações corriqueiras para uma pessoa que dirige, como tirar um carro da garagem, mudar de faixa, manobrar ou subir uma ladeira, são consideradas as principais dificuldades por quem tem medo de dirigir. Para eles, o simples fato de pensar em sair de casa motorizado pode causar suor, aceleração cardíaca ou alteração da respiração.

"O medo de dirigir, na verdade, é uma fobia, pois provoca mudança de comportamento em razão de um sentimento excessivo. Mesmo com um carro na garagem, a pessoa vai a pé ou de ônibus aos lugares que precisa", define a psicóloga Helena Santos, que atende este tipo de paciente no Centro de Treinamento Cecília Bellina.

A professora Susana da Silva Pires, 39 anos, conhece bem a sensação. "Eu sempre tive medo de carro. Há uns oito anos, sofri um acidente e a situação ficou pior. Demorei para procurar ajuda, mas hoje sinto que isso fez toda a diferença na minha vida", relata. Susana conta que sentia uma total falta de sintonia com o veículo e hoje comemora sua vitória com gosto de liberdade. "Ganhei independência."

A fobia pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum aparecer a partir dos 30 anos. "Ela pode surgir sem motivo. Às vezes, é um trauma adquirido, quando uma pessoa sofre ou presencia um acidente. Na maior parte dos casos, porém, é uma válvula de escape para outro medo interior, uma fuga para algo que não está aparente", explica a psicóloga chefe do Detran-SP, Zunara Porte Brasil.

As pessoas com essa fobia são, segundo Helena, caracterizadas como ansiosas, perfeccionistas e que não gostam de se expor. "Aqueles que apresentam esse perfil têm medo de errar e não aceitam ser criticados. Como o ato de dirigir não depende somente deles, ficam sujeitos a reprovações alheias e evitam fazer qualquer coisa que atrapalhe."

Em relação ao sexo, a fobia atinge mais mulheres que homens. No centro de treinamento Cecilia Bellina, por exemplo, o público feminino atendido chega a 80%. Helena conta que a incidência pode ser explicada por um fator cultural.

"A atual geração de mulheres com 30 anos ou mais recebia uma boneca em vez de um carrinho para brincar e, dessa forma, não tinha estímulos para lidar com veículos." Além disso, os homens têm mais vergonha de assumir o medo em virtude das imposições da sociedade e, dessa forma, procuram menos ajuda.

A instrutora Maria Cecília da Costa, 60 anos, conclui que, mesmo depois de aprender a lidar com o medo, algumas pessoas desistem de dirigir. "Já tive alunas que aprenderam, mas pelo fato de serem casadas, acabavam deixando o marido guiar. Com o tempo, a coordenação motora diminui e a pessoa deixa a direção de lado", conta.

Segundo ela, também é comum os alunos se sentirem inibidos quando são observados por alguém na rua durante a aula. "Eles me pedem para irmos a outro lugar menos movimentado pelo medo da exposição." O tratamento dura, em média, seis meses e inclui sessões com psicólogos e aulas práticas com acompanhante. O importante, ressalta a psicóloga Helena, é não parar antes que ele acabe. "Depois que este obstáculo é ultrapassado, outros aspectos da vida também melhoram. A pessoa se sente mais confiante e passa a se arrumar mais, além de se tornar mais extrovertida."




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