Pandemia tem idade do pequeno Miguel, que nasceu na crise e, assim como todo mundo, teve planos adiados
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Todas as vezes que o casal Luciana Machado, 28 anos, e Fernando Barboza, 31, lembrar do nascimento do filho Miguel Carlos certamente vai recordar da pandemia causada pelo coronavírus. O pequeno veio ao mundo em 11 de março, quatro dias antes dos três primeiros casos confirmados de Covid-19 no Grande ABC, que completam hoje exatos três meses. De lá para cá, nem o garoto nem seus pais sabem ao certo o que é sair na rua. O casal, que mora na divisa entre Santo André e São Paulo, viu a vida mudar em todos os sentidos. Além de marinheiros de primeira viagem, tiveram que driblar também os riscos da infecção. Cuidados redobrados, visitas canceladas e todos os planos que tinham antes e durante a gestação foram adiados. “Inacreditável”, sentencia a mãe.
Mas não foram apenas eles que tiveram de mudar hábitos. Nove dias após o registro dos três primeiros casos de Covid-19 na região – um casal de São Bernardo e uma moradora de São Caetano –, em 24 de março, o governo do Estado decretou quarentena obrigatória, fechando comércios e serviços não essenciais e pedindo que só saísse nas ruas quem realmente precisava. Na família do pequeno Miguel a determinação foi seguida à risca.
“Não coloco o pé na calçada há três meses. Última vez que fui na rua foi quando saí do hospital. Só saímos (de carro) para coisas essenciais”, explica Luciana, que é promotora de eventos e o marido, chefe de cozinha. “Nem os avós estão visitando o Miguel. Viram uma vez só, e o restante pelo celular. Somos sociáveis, gostamos de passear, mas agora não. Imaginávamos que teríamos um monte de visitas após o parto, mas mudaram os planos”, assume a mãe.
Luciana lembra que a preocupação antes do nascimento do bebê era outra. “Na gestação estava com surto de sarampo, só pensava nisso. Poucos dias antes do parto começamos a ouvir sobre a Covid-19 e depois que ele nasceu ficou uma loucura. Inacreditável. Parece que estamos vivendo outra vida”, comenta. “Miguel ficou os primeiros quatro dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e no hospital já percebíamos coisas diferentes. Nos primeiros dias estava normal, depois a máscara era obrigatória, os burburinhos que havia gente infectada lá, só aí que a ficha caiu”, recorda Luciana, que teve o parto no Hospital da Mulher, em Santo André.
Na prática, os três meses de vida de Miguel representam o período em que a pandemia assola a região. Ao mesmo tempo em que o futuro quanto ao controle do vírus é incerto, a vitalidade do bebê enche de esperança de que um dia o casal possa conversar sobre isso e até rir da situação. “Ele não vai ter ideia do que estamos passando. É uma situação muito doida, que jamais imaginávamos. Sempre que lembrar do nascimento do Miguel vou lembrar deste momento de pandemia”, finaliza Luciana.
Nos três meses desde que atingiu a região, a pandemia fez estragos, sobretudo na saúde. Já são 12.004 infectados e 835 mortes (veja mais na Página 4). Exatamente hoje as cidades iniciam flexibilização da quarentena (leia na Página 3 de Política) com a esperança de que tudo volte ao normal, mesmo que o normal seja diferente do que o Brasil estava acostumado.
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