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Homicídios caem no ABC, mas violência cresce
Samir Siviero
Do Diário do Grande ABC
24/08/2002 | 18:08
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Pesquisa realizada pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, de São Paulo, mostra que entre 1995 e 2001 o número de homicídios – com base em grupos de 100 mil habitantes – caiu em torno de 18% nas cidades do Grande ABC, com exceção de Mauá, que apresentou aumento de 10%. O contraponto é que a violência cresceu: as ocorrências de roubo e furto de veículos tiveram aumento de até 365% (em Mauá), a incidência de roubos subiu entre 113% (Ribeirão Pires) e 174% (Diadema), enquanto o número de furtos teve aumento de 78% (Ribeirão) a 117% (Diadema).

O estudo compara os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública referentes aos anos de 1995 e 2001. O levantamento da criminalidade é feito todos os anos pelo instituto em cidades com mais de 100 mil habitantes, o que exclui Rio Grande da Serra.

De acordo com o pesquisador José Peres Neto, que elaborou o estudo, apesar de haver menos assassinatos na região, os índices de violência subiram. Para ele, o uso das informações sobre os crimes pode evitar o aumento das ocorrências.

“O estudo que fizemos em Diadema mostrou que cerca de 60% das mortes ocorriam próximas a bares e após as 23h, fato que resultou na criação da chamada lei seca. Isso revela que as informações, bem usadas, ajudam na prevenção. Se um mapeamento mostra que a maioria dos roubos acontece em três ruas, então a polícia sabe onde deve atuar; mas o trabalho de inteligência deve ser somado à motivação de policiais e a intervenções urbanísticas”, disse Peres Neto.

Para o pesquisador, o fato de haver uma queda no coeficiente de homicídios e aumento nos crimes à mão armada revela que há crescimento da violência. “É claro que o roubo simples e o roubo de carros são crimes contra o patrimônio, mas o aumento dessas ocorrências significa que há mais violência nas ações.”

Na pesquisa, há alguns casos que merecem análise específica, mas a redução dos homicídios, em contraponto ao aumento de roubo, furto e roubo e furto de veículos, são creditados a vários fatores. O desemprego crescente na região, a variação da frota e da população, e a melhora de centros comerciais são apontados como pontos importantes para o aumento de roubos e roubos de carros. Por sua vez, a urbanização de favelas e núcleos habitacionais, somada a ações policiais, justificariam a queda de homicídios.

A redução de 41% nos homicídios registrados em Ribeirão Pires pode ser uma ilusão estatística. Segundo Peres Neto, não pode ser superavaliada devido à pequena quantidade de ocorrências e da fácil variação entre os números. Quanto ao aumento de roubos e furtos de veículos em São Caetano, de 26%, ele entende que a cidade chegou a um limite, mantendo-se como a primeira no ranking desse tipo de ocorrência entre 1995 e 2001, perdendo o posto apenas em 2000, quando Santo André foi a primeira. O aumento de 365% nos roubos e furtos de carros em Mauá pode estar ligado ao crescimento da frota na cidade, que subiu de 24.008 carros em 1995 para 76.118 no ano passado.

O delegado seccional de Santo André, Dejar Gomes Neto, reconhece a importância da pesquisa, mas não quis comentar os resultados pois assumiu a delegacia em 2000. Quanto ao período que está à frente da delegacia, mostrou dados de redução de roubos de carro. “Em março de 2000, quando assumi a delegacia, o total de roubos de carro foi de 1.112 na região da seccional (Santo André, Mauá, Ribeirão e Rio Grande); em abril deste ano, tivemos 737.”

Para Gomes Neto, uma das soluções para diminuir o índice de roubos de carro seria o fechamento de desmanches. “Reconheço que os números ainda são altos, e trabalhamos para reduzi-lo, mas ações administrativas que ajudam a diminuir a violência podem ser tomadas, como o fechamento dos desmanches. A lei seca de Diadema é um bom exemplo, que pode ser seguido, mas os políticos devem ter vontade para adotar.”

Para o delegado seccional de Diadema, Reinaldo Corrêa, os índices de desemprego na região devem ter feito com que as ocorrências chegassem a um pico no fim dos anos 90, mas que desde 1999 os índices vêm diminuindo em Diadema. “A seccional foi criada em 1999 e, desde então, temos trabalhado com o mapeamento da incidência de crimes e uma série de ações integradas que diminuíram a quantidade de homicídios, que atingiu média de 40 por mês, para 12 assassinatos no mês passado.”

O delegado seccional de São Bernardo, Mário Jordão Toledo Leme, está de licença médica e preferiu não comentar os dados. O comandante do CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área da Polícia Militar), coronel Luciano Antônio da Silva, informou que não poderia comentar os dados.




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