Uma nota num jornal de grande circulação de Salvador e uma manifestação pelo centro da capital baiana foram os principais atos utilizados por entidades de negros da Bahia para mostrar desagrado com o candidato à Presidência Ciro Gomes (PPS), acusado de racista. A acusação remonta à palestra que Ciro deu na Universidade de Brasília (UnB), na semana passada. Na ocasião, ele impediu o estudante negro Rafael dos Santos de fazer uma pergunta dizendo que ele não poderia pegar o microfone só porque era "um negro lindo".

"Ele foi jocoso e irônico", afirmou o próprio estudante, convidado a comparecer à manifestação em Salvador pelas entidades baianas.

As 24 entidades do movimento negro baiano iniciaram o dia de protesto com uma nota no jornal A Tarde. O documento afirma que Ciro, ao se dirigir a Santos na UnB, "mostrou sua cara de arrogância, de filho e representante da velha casa-grande escravista". Ainda segundo as entidades negras, Ciro considera que "lugar de preto é na cozinha e na senzala, nunca na universidade" e mostra "típica prepotência dos senhores de escravos dos quais descende".

A nota das entidades baianas compara ainda Ciro Gomes ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, hoje candidato ao governo do Estado de Alagoas pelo PRTB. "Fica cada vez mais claro que ele é o velho Collor, tentando aplicar um novo golpe no Brasil", diz o documento. Ciro é chamado ainda de "colecionador de máscaras, escondendo-se atrás de uma linguagem que ninguém entende".

A manifestação das entidades negras baianas, na noite desta terça, teve forte influência petista. Durante a passeata, que começou em frente à reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e terminou no Pelourinho, os cerca de 500 manifestantes gritaram palavras de ordem contra Ciro cantaram frases de apoio ao candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

A Polícia Militar baiana fez um cordão de isolamento e impediu que a manifestação tomasse as ruas do Pelourinho. Os membros da passeata mostraram revolta, pois o candidato do PFL à Câmara Federal Antonio Carlos Magalhães Neto fez campanha pelas ruas do centro histórico recentemente. A maior figura do PFL baiano, Antonio Carlos Magalhães, apóia Ciro.

A manifestação acabou dispersada após o bloqueio no Pelourinho. A chuva que caia em Salvador ajudou a pulverizar o protesto.

Missão de paz - O PPS baiano planeja montar uma visita de Ciro ao Estado para desfazer o mal-estar causado com o incidente envolvendo o estudante da UnB.