Voz delicada, postura intelectual, bem diferente de Lampião e Maria Bonita. Luana Ferreira, bisneta do Rei do Cangaço, não conviveu na caatinga. Foi campeã brasileira de natação – com índice olímpico – e escolhida para carregar a tocha pan-americana. No próximo dia 10, a jovem de 18 anos volta a Canindé de São Francisco, em Sergipe, para percorrer a região onde seus parentes foram decapitados de forma cruel pela polícia em 1938.

Expedita, única filha de Lampião, foi a primeira convidada pela secretaria de Turismo de Sergipe para carregar o símbolo dos Jogos do Rio, em julho. Aos 75 anos, ela passou a missão para a neta. “Minha vida está ligada ao esporte e à história da luta do cangaço. Estas duas coisas estão no meu sangue. Por isso é que me sinto preparada para este desafio”, disse a menina.

Muita coisa mudou na família Ferreira – de Virgulino Ferreira de Silva e Maria Déa, nomes de Lampião e Maria Bonita. Luana, por exemplo, nasceu em Aracaju. Com os pais formados em Educação Física, mergulhou de cabeça na natação. “Treinava quatro horas por dia, até a exaustão. Meu melhor resultado foi um título brasileiro nos 50m borboleta em 2004. Com 15 anos, fui pré-convocada para a Olimpíada de Atenas. Infelizmente, outras atletas estavam bem preparadas”, recorda.

Logo em seguida, Luana fez intercâmbio no Canadá. Ficou um ano, engordou 15kg e abandonou o esporte. “Tentei retomar os treinos, mas o esporte é cruel com quem pára”, lamenta a ex-atleta, que passou no vestibular para psicologia em São Paulo. “Adoro a área esportiva. Pretendo unir essas experiências e trabalhar a cabeça do atleta”, completou a estudante.

A jovem aprovou a idéia de unir a história do cangaço ao esporte. “Isso pode despertar no leigos a vontade de aprender sobre o assunto”, finalizou. A tocha virá do México e será acesa no dia 5, em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, representando o descobrimento do Brasil. Outras 50 localidades serão contempladas antes de ela desembarcar no Rio no dia 13, na abertura dos Jogos.