Nacional Titulo
Desocupação da fazenda de FHC gera crise no governo
Elisa Bartié
Do Diário OnLine
24/03/2002 | 20:20
Compartilhar notícia


A desocupação da fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), de propriedade da família do presidente Fernando Henrique Cardoso, na manhã deste domingo, gerou nova crise no governo federal. Após a saída dos sem-terra e a prisão de 16 supostos comandantes da invasão, o Palácio do Planalto deve explicar como a ação não foi evitada, já que havia ameaças de invasão há 20 dias.

Além disso, o governo tenta recuperar o fôlego frente à exoneração do ouvidor agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Gercino José Alvez Filho, e da responsável no órgão pelos conflitos rurais, Maria de Oliveira. Eles afirmam ter prometido aos sem-terra que não haveriam prisões caso eles deixassem a fazenda, o que não foi cumprido pela Polícia Federal. O governo negou ter dado uma autorização para negociar a não prisão dos invasores. "Tenho certeza que eles agiram com boa-fé, mas em nenhum momento foi pauta de negociação a não prisão de quem quer que seja", garantiu.

Mas, a principal tarefa do governo com o desfecho do caso é tentar descobrir a responsabilidade pelo erro de avaliação do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela guarda do patrimônio do chefe da nação.

Há 20 dias, em reunião em Buritis, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) negociava com o Incra planos de assentamentos na região. Alertada com o fato, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o Planalto em relação à presença dos sem-terra na área e uma eventual possibilidade de invasão.

O Incra, por sua vez, alega que também advertiu o governo sobre a disposição dos sem-terra de invadir a fazenda. No entanto, segundo o governo, os dados do Incra passavam que as negociações transcorriam bem e o risco de invasão era mínimo. Já os funcionários do Ministério Agrário alegam que não tinham como garantir que não haveria invasão e diziam apenas que havia negociações em aberto.

Para apurar se houve um erro de avaliação do Gabinete de Segurança Institucional, o general Alberto Cardoso afirmou que será feita uma apuração em relação aos fatos "à guisa de aprendizagem para que não se repitam eventuais possíveis falhas e erros que tenham permitido essa surpresa".

Com os últimos acontecimentos, o governo pode destacar uma guarda espeical para proteger a fazenda do presidente. "Estamos avaliando essa possibilidade", reconheceu o general, que já foi duramente criticado por ter deslocado as Forças Armadas para a propriedade particular do presidente.

As críticas a inatividade do governo em relação às ameaças partiram de todos os lados. O deputado José Genoíno (PT-SP) afirmou que a Abin "comeu mosca ou ajudou a colocar mosca na comida". "Ou o País não tem inteligência ou ela está conivente com tudo isso. Por isso, precisamos fazer uma investigação sobre o verdadeiro papel da Abin", disse Genoíno.

Já o líder do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PPB-PR), afirma que "faltou atenção" do governo federal, mas disse que a polícia de Minas Gerais poderia ter colaborado para confundir as investigações. "Se não fosse Minas eu diria que houve erro da Abin, mas por ser em Minas eles podem ter sido tapeados pela turma do Itamar."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;