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Alcorcón, um subúrbio madrilenho atacado pela xenofobia
Da AFP
26/01/2007 | 16:54
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Alcorcón, subúrbio madrileno, vive em tensão desde o último fim de semana, quando centenas de adolescentes espanhóis se lançaram numa violenta caçada a jovens latino-americanos, numa explosão de xenofobia que preocupa todo o país.

"Claro que eu faria tudo de novo", afirmou Israel, um espanhol de 17 anos que participou, no sábado e no domingo, das investidas que tiveram como objetivo vingar a agressão feita a um jovem compatriota nesta cidade a apenas 15 km de Madri, que tem 160 mil habitantes, 21 mil dos quais são imigrantes.

Nos ataques, ao quais os adolescentes sul-americanos responderam com firmeza, sete jovens ficaram feridos, entre eles uma vítima de seis punhaladas. Houve também nove detenções, apreensão de armas brancas, tacos de beisebol, machados, entre otros.

Durante toda a semana, a imprensa e a classe política se pergunta sobre se os incidentes foram isolados ou revelavam um mal-estar profundo em gestação, uma carência de integração que se acreditava reservada apenas a países como França e Grã-Bretanha.

O fato causou um forte impacto emocional numa Espanha em pleno "boom" econômico, orgulhosa de ter absorvido sem problemas cerca de três milhões de imigrantes nos últimos dez anos.

Desde o último fim de semana, as famílias de Alcorcón sentem a inquietação no corpo. Apesar de uma forte presença policial, alguns jovens espanhóis ainda mostram sede de revanche.

"Não sou racista, mas estamos fartos deles", explicou Israel, ao se referir à primeira geração de jovens imigrantes latino-americanos considerada invasora.

"Cobram dos menores o uso das quadras de basquete, encamparam os terrenos esportivos, não estão em sua casa, mas na nossa", acrescenta Alberto, um estudante de 17 anos. "Isso iria acontecer, houve algumas brigas no verão (do hemisfério norte)", explica, por sua vez, Pilar, de 16 anos.

Os pais dos adolescentes espanhóis estão inquietos, mas defendem a reação de seus filhos.

"Sua reação foi normal, estão fartos", explica Elena, que foi buscar sua filha de 13 anos na saída do colégio, quando normalmente a menina volta para casa sozinha.

Alcorcón parece ter tudo para que os mais jovens desfrutem do tempo livre: dezenas de terrenos esportivos e parques cheios de verde.

A prefeitura minimizou as brigas do fim de semana, classificando-as de "incidentes pontuais" e negando a existência de grupos violentos em Alcorcon.

Mas um estudo publicado na quinta-feira registra a presença de oito grupos juvenis violentos no município: os "latin kings" sul-americanos, os "neonazistas" europeus, os "antifascistas", grupos de marroquinos, entre outros.

"A prefeitura está cega, basta olhar para a rua para ver que há problemas", afirmou Pilar.

Os jovens latino-americanos praticamente abandonaram as calçadas públicas da cidade, preferindo permanecer em casa por medo de represálias.

"Tenho medo de que as pessoas radicalizem, meus pais querem que eu volte antes para casa", explica Diego, um colombiano de 15 anos que não quer ser comparado aos que participaram das brigas de rua.

"É realmente uma lástima para todos os latino-americanos de Alcorcón, que fazem muito esforços para se integrar e encontrar trabalho", lamenta Macario Villalon, presidente da associação de ajuda aos imigrantes, a Alba.

A presença policial foi reforçada nas ruas da cidade.




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