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De berço do setor automotivo à resistência sindical VW é a história do Grande ABC
Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
26/08/2006 | 19:51
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A história da Volkswagen no Grande ABC não pode ser contada de forma linear. Desde sua inauguração em São Bernardo, em 1959, pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek, a atuação da empresa na região é marcada por altos e baixos. Grande produção, baixa da economia, aumento de inflação, greves e demissões são alguns dos principais fatores que desenham o perfil da empresa alemã.

Tudo começou em 1957, quando a planta da empresa foi inaugurada na via Anchieta, em São Bernardo. À época, a montadora iniciou a fabricação da Kombi. No entanto, somente dois anos depois, a inauguração oficial foi efetivada, onde, além de Juscelino, participou o governador Carvalho Pinto, o presidente da Volkswagen da Alemanha Heinrich Nordhoff, e do Brasil, Friedrich Schultz-Wenk.

Segundo o memorialista e articulista do Diário Ademir Médici, a chegada da Volks causou uma “verdadeira revolução industrial na região”. “Por causa dela foi criada uma rede de empresas prestadoras de serviço”, relata.

Nas duas décadas seguintes – 60 e 70 – o crescimento econômico do país, financiado pela ajuda externa aceita pelo governo militar, tornou o desempenho da Volks espetacular. Nesse período, 70% dos carros que rodavam pelo Brasil eram Fuscas. Por isso, a Volks-wagen assume a posição de maior montadora do país, liderança que manteve durante quatro décadas.

Essa expansão chamou a atenção do Comitê Geral dos Trabalhadores da Alemanha, que passou a fazer visitas periódicas às fábricas brasileiras, para vistoriar as condições de trabalho. Médici conta que a desenvoltura da Volks também atraiu trabalhadores do interior do Estado. “Houve um êxodo rural e a cidade começou a inchar”, acrescenta.

Com o fim do milagre econômico na década de 70, a economia começou a fazer água e deu forças ao nascente movimento sindical. Diante desse quadro, a direção da empresa começa a se preocupar com as ameaças de greve, fato que efetivamente ocorre pela primeira vez em 1978, ainda dentro da ditadura militar, movimento que acabou polarizando o movimento de esquerda e dando vazão ao surgimento de Luiz Inácio Lula da Silva no cenário político.

O sindicato dos Metalúrgicos identifica então a força da classe e começa um trabalho na porta de fábrica. “Houve um momento de saturação e começa a não ter emprego para tanta gente”, conta Médici. Em 1980, os trabalhadores fazem a greve mais longa do regime militar, de 41 dias. A Volks usa de guerra psicológica e policial para inibir o movimento. O Ministério do Trabalho intervém novamente no sindicato e cassa o mandato de 24 membros da diretoria, dentre eles do metalúrgico Lula, que é preso dois dias depois com mais 10 pessoas.

Mudança – A partir desta greve, a montadora muda a tática e passa a antecipar as mudanças para desmobilizar o movimento. Mas, em 1981, com a retração de 4,3% do PIB, dois milhões de trabalhadores são demitidos no país, dos quais 35 mil nas montadoras da região – 50% são da Volks.

A reivindicação dos metalúrgicos passa a ser pela estabilidade de emprego. Neste mesmo ano, cerca de 10 mil operários são demitidos e o restante têm 20% da jornada de trabalho reduzida, bem como o salário por três meses. No final dos anos 80, começa o programa de modernização da fábrica. No mesmo período, cria-se a Autolatina – junção da Volks com a Ford.

Nova era – Já em 2002, a Volks inaugura a Fábrica Nova Anchieta, ao custo de R$ 2 bilhões, para o início da produção do Polo e Fox. Em 2005, Lula vai à comemoração de 15 milhões de carros produzidos. Neste mesmo ano, começa a atual crise, quando os trabalhadores rejeitam proposta de PLR (Participação de Lucros e Resultados) e param a fábrica por 25 dias. Porém, os problemas estouram em 2006, quando a Volks informa que vai demitir e reduzir custos e, em último caso, fechar a fábrica da Anchieta, após acordo de estabilidade de 5 anos.




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