Política Titulo POSSE PRESIDENCIAL
Bolsonaro promete fim do socialismo e ordem restabelecida no País

Empossado 38º presidente do Brasil resgata temas de campanha em discurso, fala em combate à corrupção e critica o PT: ‘Bandeira jamais será vermelha’

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
02/01/2019 | 07:00
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Trigésimo oitavo presidente do Brasil, o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) prometeu colocar fim ao socialismo, ao gigantismo estatal e a restabelecer a ordem no País. Em discurso de cerca de dez minutos no parlatório, momentos depois de receber a faixa presidencial, Bolsonaro resgatou temas que utilizou em sua campanha, como críticas a partidos de esquerda, combate à corrupção, defesa da família e apoio ao aparato policial.

Bolsonaro tomou posse ontem, em Brasília, e fez dois discursos: um na Câmara Federal e outro em frente ao Palácio do Planalto. Ambas as falas não ultrapassaram dez minutos. Aos parlamentares, brincou com antigos colegas – ele foi deputado federal por sete mandatos – e projetou a implementação de reformas para que, segundo o político, trarão capacidade econômica ao Estado.

“Eu me coloco diante de toda a Nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto. As eleições deram voz a quem não era ouvido. E a voz das ruas e das urnas foi muito clara. E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança”, disse (veja discurso completo abaixo).

O novo chefe do Executivo nacional embargou a voz ao lembrar do atentado que sofreu em 6 de setembro, durante campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Ele prometeu respeitar “os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa Constituição”. “Temos uma grande Nação para reconstruir e isso faremos juntos. Os primeiros passos já foram dados. Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história. Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mas ainda há muitos desafios pela frente.”

Diante de um público estimado em 115 mil pessoas na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro estendeu uma bandeira do Brasil – “que jamais será vermelha”, ele disse, levantando os presentes –, fez gesto de arma e chorou enquanto estava no Rolls-Royce presidencial. Foi recebido aos gritos de “mito” e de “o capitão chegou”. “A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o governo e a economia sirvam de verdade a toda Nação. Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir de agora tem um propósito comum e inegociável: os interesses dos brasileiros em primeiro lugar”, citou.

Eleito em outubro com 57,7 milhões de votos, Bolsonaro recebeu a faixa presidencial das mãos de Michel Temer (MDB), vice-presidente eleito em 2014 na chapa de Dilma Rousseff (PT) e que ascendeu ao poder em 2016, com o impeachment da petista. A transmissão do cargo foi acompanhada pelo vice-presidente empossado Hamilton Mourão (PRTB) e sua mulher, Paula, pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e pela agora ex-primeira-dama Marcela Temer.

Michelle, aliás, teve papel de destaque nesse momento da cerimônia ao discursar, em Libras – ela promete ser ativa em ações sociais, em especial a pessoas com deficiência.
Mais tarde, Bolsonaro deu posse aos 22 ministros escolhidos e recebeu cumprimentos de chefes de Estado, entre eles o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Pelas redes sociais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parabenizou Bolsonaro. “Fez um grande discurso de posse. Os Estados Unidos estão com você.”

Depois, Bolsonaro partiu para coquetel no Palácio do Itamaraty.

Aceno para deputados e projeção de reformas

Na Câmara Federal, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), pediu apoio dos ex-colegas deputados para aprovação de reformas. O núcleo duro do governo estima que, no primeiro semestre, mudanças nas regras previdenciárias – pautadas por Michel Temer (MDB), mas sem muitos avanços até agora – sejam aprovadas pelo Congresso. Em tom de brincadeira, enquanto assinava o livro de posse, ele falou: ‘Estou casando com vocês’.

“Aproveito este momento solene e convoco, cada um dos congressistas, para me ajudar na missão de restaurar e de reerguer nossa Pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”, disse. “Temos, diante de nós, uma oportunidade única de reconstruir nosso país e de resgatar a esperança dos nossos compatriotas. Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas, se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo, alcançaremos êxito em nossos objetivos, e, pelo exemplo e pelo trabalho, levaremos as futuras gerações a nos seguir nesta tarefa gloriosa.”

Bolsonaro prometeu a realização de “reformas estruturantes” e que “serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas”. “Precisamos criar um ciclo virtuoso para a economia que traga a confiança necessária para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e a eficácia, sem o viés ideológico.”

O presidente fez acenos também durante a cerimônia. Chamou o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual mandatário da Câmara Federal, de amigo – e algumas vezes. O democrata articula candidatura para continuar à frente da Casa. Depois da solenidade no Congresso, ficou bom tempo no gabinete do presidente do Senado, Eunicio Oliveira (MDB-CE) – que não se reelegeu em outubro. 

Uso de Rolls-Royce e ampla segurança

Antes de ir ao Congresso Nacional para ser empossado, Jair Bolsonaro (PSL) utilizou o Rolls-Royce presidencial, em desfile de carro aberto, ao lado da mulher, Michelle Bolsonaro, e com um de seus filhos, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSL), no banco de trás.

Havia impasse se o presidente iria para a Casa com o Rolls-Royce, de 1952 e adquirido no ano seguinte pelo então presidente Getúlio Vargas. A equipe de segurança de Bolsonaro recomendou uso de carro blindado, mas o político fazia questão de utilizar o tradicional veículo preto. A possibilidade de chuva também trouxe incógnita para essa etapa da cerimônia. Durante o trajeto, um cavalo se assustou e quase atingiu o automóvel.

Aliás, a segurança deu o tom da solenidade. Na segunda-feira, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) oficializou o tamanho do aparato designado para a posse de Bolsonaro. Eram 6.000 agentes de segurança (muitos à paisana e outros atiradores de elite), caças da FAB (Força Aérea Brasileira), mísseis antiaéreos, proibição de uso de guarda-chuva ou carrinhos de bebê – houve boato até de policiais escondidos em tubulações de esgoto. Reforço depois que Bolsonaro foi esfaqueado durante a campanha.

Mas não foi só o público que teve de lidar com forte esquema de segurança. Jornalistas, antes do início da cerimônia, foram alertados. Relato do jornal Folha de S.Paulo mostrou que não haveria acesso livre ao salão nobre do Palácio do Planalto, até mesmo aos veteranos de coberturas presidenciais. Fotógrafos foram orientados a não levantar as máquinas, pois atiradores de elite estavam instruídos a disparar contra qualquer movimento “suspeito”.

Repórteres também foram hostilizados pelo público que acompanhava a solenidade. Repórteres da TV Globo comentaram que ouviram xingamentos e gritos de “WhatsApp” e “Facebook”, ferramentas digitais bastante utilizadas por Bolsonaro – durante e após a campanha.

As restrições resultaram em reações de associações de imprensa. A Abraji (A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou nota condenando o esquema de cobertura definido pela equipe de Bolsonaro. “Um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente. Os brasileiros receberão menos informações sobre a posse presidencial por causa das limitações impostas à circulação de jornalistas em Brasília.”

Íntegra do discurso de Bolsonaro no parlatório

Amigas e amigos de todo o Brasil,

É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil.

E me coloco diante de toda a Nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto.

As eleições deram voz a quem não era ouvido. E a voz das ruas e das urnas foi muito clara. E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança.

Também estou aqui para renovar nossas esperanças e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança será possível.

Respeitando os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu, vamos promover as transformações de que o país precisa.

Temos recursos minerais abundantes, terras férteis abençoadas por Deus e um povo maravilhoso. Temos uma grande Nação para reconstruir e isso faremos juntos.

Os primeiros passos já foram dados. Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história. Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mas ainda há muitos desafios pela frente.

Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade.

E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, reestabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil.

A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de verdade a toda Nação.

Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir de agora tem um propósito comum e inegociável: os interesses dos brasileiros em primeiro lugar.

O brasileiro pode e deve sonhar. Sonhar com uma vida melhor, com melhores condições para usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia. E ao governo cabe ser honesto e eficiente. Apoiando e pavimentando o caminho que nos levará a um futuro melhor, ao invés de criar pedágios e barreiras.

Com este propósito iniciamos nossa caminhada. E com este espírito e determinação que toda equipe de governo assume no dia de hoje.

Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego recorde, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos, e da desconstrução da família. Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do governo sobre quem trabalha e quem produz.

Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares.

Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança.

Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a Educação básica, que é a que realmente transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade social. Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da Educação encontraram o caminho da prosperidade.

Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais. Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e os brasileiros!

Por muito tempo, o País foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste País.

Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e dos desafios que vamos enfrentar. Mas sabemos aonde queremos chegar e do potencial que o nosso Brasil tem. Por isso, vamos, dia e noite, perseguir o objetivo de tornar o nosso País um lugar próspero e seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores nações do planeta.

Podem contar com toda a minha dedicação para construir o Brasil dos nossos sonhos.

Agradeço a Deus por estar vivo e a vocês que oraram por mim e por minha saúde nos momentos mais difíceis. Peço ao bom Deus que nos dê sabedoria para conduzir a Nação.

Que Deus abençoe esta grande Nação.

Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.


 




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