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Almoço reúne milhares em São Bernardo
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
26/12/2008 | 07:03
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Edmilson Magalhães/DGABC


A família Lemes realizou ontem a nona edição do seu já tradicional almoço comunitário no Parque São Bernardo. Para as cerca de 7.000 pessoas que eram esperadas com garfo e faca, mais de meia tonelada de comida foi preparada.

Desde as primeiras horas da manhã os portões da EE Professora Palmira Grassiotto Ferreira da Silva já estavam abertos para a criançada que se divertia no pula-pula e na cama elástica. Na rua paralela, também desde cedo, a matriarca dos Lemes, Maria do Carmo Lemes, 83 anos, ou somente Dona Cotinha, como é carinhosamente chamada por todos, preparava com as cozinheiras, no fogão à lenha, o cardápio da festa.

Para apreciar todo o menu era preciso um prato fundo. Arroz, feijão, macarrão, frango e salada de alface com tomate, para começar. Refrigerante acompanhava e ainda tinha melancia, arroz doce e, pela primeira vez, bolo. "Um colaborador ofereceu os ingredientes e fizemos 50 quilos", disse contente Benedito Silva Lemes, 56, filho mais velho de Dona Cotinha, o popular Ditinho da Congada.

Segundo Ditinho, toda festa foi realizada com apoio da família e de amigos. "Não aceitamos dinheiro, só ajuda com material ou colaboração". Somente do clã dos Lemes são mais de 30 pessoas mobilizadas para realizar o grande almoço de Natal. "Nossa família toda está envolvida, são irmãos, sobrinhos, cunhados, netos", afirmou Ditinho, sabendo que vai deixar alguém de fora se tentar contar.

Morando no bairro há dois meses, Heloisa Helena, 24, participou ontem pela primeira vez do almoço. "É muito bom. Muitos não têm condições de almoçar hoje e eles estão proporcionando isso", disse Heloisa enquanto fazia um aviãozinho para a filha Liliane, de um ano e 11 meses, que torcia o nariz para o alface, mas não dispensava o frango.

Participante de outras edições da festa no Parque São Bernardo, uma das primeiras a comer, a pequena Tatiana, 8 anos, raspou o prato, mas contou que nesse dia o que gosta mesmo é de brincar. Todas as crianças que fazem a refeição ganham também um presente do Papai Noel.

Se hoje os Lemes têm condições de oferecer um banquete para milhares de pessoas, no passado, a ceia de Natal já faltou à mesa. A carestia de outrora é um dos motivos para a organização das festas de hoje.

"Quando tinha 14 anos me revoltei com Deus. Tive de ir à casa de amigos para pegar comida para minha família na noite de Natal. Perguntei para os meus pais que Deus é esse que nós rezamos todos dias e não temos nada para comer", contou Ditinho.

"Meu pais disseram para não desistirmos e continuarmos rezando que um dia teríamos tanto que poderíamos repartir com os outros", disse.

É exatamente o que aconteceu hoje e se expande a cada Natal. Quando foi servida pela primeira vez, em 2000, a refeição alimentou 100 crianças. Nos dois primeiros anos, só os pequenos participaram. "Mas e as mães que trazem seus filhos?", perguntou Ditinho revelando uma das motivações para oferecer o almoço para quem tivesse apetite, independente da idade.

Disposição para que a confraternização continue não vai faltar. Segundo Dona Cotinha, quando morreu há três anos com quase 90 de idade, o patriarca dos Lemes, Antonio da Silva Lemes, pediu que a tradição nunca acabasse.




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