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Editora Vozes faz 100 anos
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/03/2001 | 17:53
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  Um livro especial e um selo dos Correios ajudam a celebrar os 100 anos de existência da Editora Vozes no Brasil, comemorados na segunda-feira passada, data em que foram lançados em Petrópolis (RJ), sede da editora, no Instituto Teológico Franciscano.

O centenário em si já é um feito a ser comemorado, sobretudo em um país capaz de brigar com o Canadá pelo mercado de carne enlatada e de aviões, mas que vende apenas um livro por habitante ao ano. Porém, na atual pesquisa sobre a história da leitura no Brasil e na sociologia da leitura, a abordagem de como o livro circula e de como ele é lido tem importância maior do que estatísticas.

Ao longo desses 100 anos, a Vozes se manteve com uma estratégia editorial e um catálogo eficazes, entre publicações religiosas e de ciências humanas. A editora, fundada em 1901 pelo frei Inácio Hinte, tipógrafo alemão, teve participação importante na formação universitária brasileira e tem entre seus marcos principais a resistência contra a ditadura, com lançamentos do porte de Brasil: Nunca Mais (1985), que ficou 25 semanas em primeiro lugar no ranking dos mais vendidos e 91 semanas consecutivas na lista, e os textos da Teologia da Libertação, de Leonardo Boff, iniciados com Jesus Cristo Libertador (1972).

Com cerca de 5 mil títulos lançados nesse período e 2.060 em catálogo, a Vozes é uma das mais antigas editoras do Brasil e suas atividades incluem não só edição de livros, mas santinhos, folhinhas e revistas de catequese e de cultura.

O livro Editora Vozes: 100 Anos de História é uma das etapas do projeto que abrange o resgate e a preservação da memória da editora, uma porta que se abre para futuras pesquisas sobre o tema – raro no Brasil, em se tratando de história do livro e de editoras. A coordenação é de Marcelo Ferreira de Andrades, funcionário da editora há cinco anos e mestrando em Comunicação pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre.

Andrades, atualmente, está escrevendo uma dissertação sobre a história da Vozes, orientado pela professora Andrea Daher, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), especialista em História do Livro, e pelo professor Sérgio Capparelli, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), especialista em Economia Política das Comunicações.

Hoje, a Vozes tem entre seus livros mais vendidos Cada Pessoa tem um Anjo, de Anselm Grum, obra que a personagem Camila (Carolina Dieckmann), da novela Laços de Família, da Globo, deu de presente para sua companheira de hospital, também com leucemia. Seu parque gráfico atende a uma produção que varia de oito a dez lançamentos por mês e também à demanda de outras editoras, como a Objetiva, a Campus e a José Olympio.

Já foram publicadas pela editora traduções do antropólogo Claude Lévi-Strauss e do psicanalista Carl Gustav Jung, bem como os livros O Ser e o Nada, de Jean-Paul Sartre, Vigiar e Punir, de Michel Foulcalt, e O Corpo Fala, de Pierre Weil. Queda para o Alto, de Bertholdo Herzer, com prefácio do senador Eduardo Suplicy, também é um dos best sellers de todos os tempos da Vozes, lançado em 1982. A peça, adaptada por Carlinhos Lira para a Cia. de Teatro Heliópolis/Unas está em cartaz pelo interior do Estado.

Também foram publicados pela Vozes os autores Florestan Fernandes e um de seus ex-alunos, o hoje presidente Fernando Henrique Cardoso, além de Darcy Ribeiro, Octávio Ianni, Nelson Werneck Sodré, Roberto Da Matta, Afonso Romano de Sant’Anna, José Ramos Tinhorão, Ziraldo etc. Entre as traduções aparecem títulos de Roland Barthes, Noam Chomsky, Umberto Eco, Tzvestan Todorov e Peter Berger.




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