"Ou eles assumem que sao governo, porque estao e participam dele, ou entao estao fora", disse Garotinho, referindo-se a parlamentares da Articulaçao, aliada do governador e da qual faz parte a vice-governadora Benedita da Silva. "Nao estamos expurgando ninguém, mas eu nao posso admitir que deputados do PT, que estao na administraçao, afirmem: 'Vamos sair da lama', como se nós fôssemos um Frankstein, representássemos o mal e eles, o bem." As declaraçoes do governador foram feitas depois que ele e o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, bateram boca em público. O ex-governador acusara Garotinho de manter uma "banda podre" na administraçao estadual. A briga entre os dois aconteceu minutos antes da reuniao do conselho, que decidiria a renúncia coletiva do secretariado de Garotinho, defendida por Brizola e pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ). Após o encontro, porém, a estratégia adotada foi a de solidariedade entre os líderes do partido e de ataque ao PT. Durante todo o dia, Garotinho e Brizola trocaram acusaçoes mútuas pelo rádio e TV. O governador desafiou o presidente do PDT, questionando por que ele, quando governou o Rio, nao entregou ao Ministério Público (MP) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) a apuraçao de denúncias contra assessores.
"O Brizola sofreu denúncias mais graves do que estao fazendo contra mim e meus auxiliares, algumas até chegaram a ser provadas, mas e por que, entao, ele nao deixou que o Ministério Público e o Tribunal de Contas apurassem, como eu estou fazendo?", perguntou o governador, durante entrevista à TV. Ele voltou a afirmar que está sendo vítima de acusaçoes "orquestradas" contra o governo vindas do Palácio do Planalto e do sistema financeiro. "A Febraban (Federaçao Brasileira das Associaçoes de Bancos) é uma das que estao fazendo pressao", disse, logo depois de deixar a sede nacional do PDT, à tarde.
Garotinho, que, mais cedo, dissera que nao compareceria à reuniao do Conselho Político do PDT, chegou de surpresa no momento em que Brizola, em entrevista coletiva, o criticava. "Nesta segunda-feira mesmo, gravei uma inserçao para a tevê em que digo que os partidos sao vistos pela populaçao com muita reserva porque a política brasileira tem muitos políticos ordinários que os desmoralizam", afirmou.
Ao ver Garotinho, porém, Brizola tentou minimizar a declaraçao, afirmando que falava da relaçao institucional entre o partido e o governo. O governador, entao, retrucou, dizendo que nao havia a possibilidade de renúncia coletiva do secretariado, como defendia Brizola. "Estao vendo como ele é auto-suficente porque, para o governador, partido nao existe, nao opina", disse o líder do PDT.
"Estamos fazendo uma sugestao; o sr. (Garotinho) aceita ou nao; achamos que o sr. está assinando fichas (de filiaçao) que nao convém porque há uma banda podre no partido." Segundo alguns dirigentes pedetistas, durante a reuniao do conselho político, Garotinho cedeu e disse que, nos próximos, dias irá "recompor o governo". "Nós aqui caminhamos, partido e governo, em direçao um do outro e o que ficou explicitado é que nossa agenda deve ser positiva, de cooperaçao permanente", afirmou Brizola, que nao conseguiu explicar porque havia comparado, horas antes, parte dos auxiliares da administraçao Garotinho à "banda podre" - termo usado para classificar os policiais corruptos do Rio. "É uma expressao que tomou dimensao por toda a parte, vem de longe, mas o que interessa agora é que a vinda de Garotinho à reuniao mostrou que ele está disposto a lutar pela uniao do partido", disse o ex-governador.
Um participante da reuniao contou que o governador fez uma autocrítica, dizendo que errou na relaçao com o PDT. "Na hora H, o que tenho do meu lado é o PDT mesmo", disse o governador, no encontro. A primeira-dama do Estado, Rosângela Matheus, reforçou o pronunciamento do marido. O presidente regional do partido, Carlos Lupi, propôs que o governador resolvesse qual seria a participaçao do PT no governo e sugeriu que Garotinho passasse a se reunir semanalmente com o comando pedetista. A aceitaçao das propostas ajudou a tornar viável o acordo.
A proposta de renúncia coletiva do secretariado foi abandonada porque os integrantes da cota pessoal do governador acusados de irregularifdades, que o comando pedetista queria afastar, começaram a deixar a administraçao. No sábado, o advogado Antonio Oliboni pediu para deixar o cargo de secretário de Justiça. Nesta segunda-feira, o presidente da Companhia Estadual de Habitaçao, Eduardo Cunha, pediu o afastamento. Os presidentes da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos (Asep), Ranulfo Vidigal, e da Empresa de Obras Públicas, Carlos Siqueira, e o secretário de Defesa Civil, Paulo Gomes, enviaram nesta segunda-feira cartas ao governador, pedindo afastamento dos cargos.
Benedita soube pelos jornalistas do ultimato de Garotinho e nao quis comentar. Ela pediu que haja "gerenciamento político" da crise, com a participaçao dos partidos da frente da esquerda. Esta terça-feira, o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), vem ao Rio para convencer o grupo de Benedita a deixar o governo. "Ele deve ter sabido da disposiçao do Zé Dirceu e se antecipou", disse o presidente do PT do município do Rio, Carlos Santana.
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