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PDT continuará com Garotinho, mas defende investigaçoes
Do Diário do Grande ABC
10/04/2000 | 21:34
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O governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), impôs nesta segunda-feira um ultimato ao PT para que decida se o apóia ou nao, caso contrário, todos os integrantes do partido no governo serao exonerados - entre os quais, três secretários e mais 300 petistas que ocupam cargos em segundo e terceiro escaloes. Pressionado por integrantes do Conselho Político do PDT, com quem se reuniu no fim da tarde, por duas horas, para discutir as denúncias de corrupçao contra os auxiliares, Garotinho acusou "deputados petistas" da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de tentar "enlamear" a administraçao.

"Ou eles assumem que sao governo, porque estao e participam dele, ou entao estao fora", disse Garotinho, referindo-se a parlamentares da Articulaçao, aliada do governador e da qual faz parte a vice-governadora Benedita da Silva. "Nao estamos expurgando ninguém, mas eu nao posso admitir que deputados do PT, que estao na administraçao, afirmem: 'Vamos sair da lama', como se nós fôssemos um Frankstein, representássemos o mal e eles, o bem." As declaraçoes do governador foram feitas depois que ele e o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, bateram boca em público. O ex-governador acusara Garotinho de manter uma "banda podre" na administraçao estadual. A briga entre os dois aconteceu minutos antes da reuniao do conselho, que decidiria a renúncia coletiva do secretariado de Garotinho, defendida por Brizola e pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ). Após o encontro, porém, a estratégia adotada foi a de solidariedade entre os líderes do partido e de ataque ao PT. Durante todo o dia, Garotinho e Brizola trocaram acusaçoes mútuas pelo rádio e TV. O governador desafiou o presidente do PDT, questionando por que ele, quando governou o Rio, nao entregou ao Ministério Público (MP) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) a apuraçao de denúncias contra assessores.

"O Brizola sofreu denúncias mais graves do que estao fazendo contra mim e meus auxiliares, algumas até chegaram a ser provadas, mas e por que, entao, ele nao deixou que o Ministério Público e o Tribunal de Contas apurassem, como eu estou fazendo?", perguntou o governador, durante entrevista à TV. Ele voltou a afirmar que está sendo vítima de acusaçoes "orquestradas" contra o governo vindas do Palácio do Planalto e do sistema financeiro. "A Febraban (Federaçao Brasileira das Associaçoes de Bancos) é uma das que estao fazendo pressao", disse, logo depois de deixar a sede nacional do PDT, à tarde.

Garotinho, que, mais cedo, dissera que nao compareceria à reuniao do Conselho Político do PDT, chegou de surpresa no momento em que Brizola, em entrevista coletiva, o criticava. "Nesta segunda-feira mesmo, gravei uma inserçao para a tevê em que digo que os partidos sao vistos pela populaçao com muita reserva porque a política brasileira tem muitos políticos ordinários que os desmoralizam", afirmou.

Ao ver Garotinho, porém, Brizola tentou minimizar a declaraçao, afirmando que falava da relaçao institucional entre o partido e o governo. O governador, entao, retrucou, dizendo que nao havia a possibilidade de renúncia coletiva do secretariado, como defendia Brizola. "Estao vendo como ele é auto-suficente porque, para o governador, partido nao existe, nao opina", disse o líder do PDT.

"Estamos fazendo uma sugestao; o sr. (Garotinho) aceita ou nao; achamos que o sr. está assinando fichas (de filiaçao) que nao convém porque há uma banda podre no partido." Segundo alguns dirigentes pedetistas, durante a reuniao do conselho político, Garotinho cedeu e disse que, nos próximos, dias irá "recompor o governo". "Nós aqui caminhamos, partido e governo, em direçao um do outro e o que ficou explicitado é que nossa agenda deve ser positiva, de cooperaçao permanente", afirmou Brizola, que nao conseguiu explicar porque havia comparado, horas antes, parte dos auxiliares da administraçao Garotinho à "banda podre" - termo usado para classificar os policiais corruptos do Rio. "É uma expressao que tomou dimensao por toda a parte, vem de longe, mas o que interessa agora é que a vinda de Garotinho à reuniao mostrou que ele está disposto a lutar pela uniao do partido", disse o ex-governador.

Um participante da reuniao contou que o governador fez uma autocrítica, dizendo que errou na relaçao com o PDT. "Na hora H, o que tenho do meu lado é o PDT mesmo", disse o governador, no encontro. A primeira-dama do Estado, Rosângela Matheus, reforçou o pronunciamento do marido. O presidente regional do partido, Carlos Lupi, propôs que o governador resolvesse qual seria a participaçao do PT no governo e sugeriu que Garotinho passasse a se reunir semanalmente com o comando pedetista. A aceitaçao das propostas ajudou a tornar viável o acordo.

A proposta de renúncia coletiva do secretariado foi abandonada porque os integrantes da cota pessoal do governador acusados de irregularifdades, que o comando pedetista queria afastar, começaram a deixar a administraçao. No sábado, o advogado Antonio Oliboni pediu para deixar o cargo de secretário de Justiça. Nesta segunda-feira, o presidente da Companhia Estadual de Habitaçao, Eduardo Cunha, pediu o afastamento. Os presidentes da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos (Asep), Ranulfo Vidigal, e da Empresa de Obras Públicas, Carlos Siqueira, e o secretário de Defesa Civil, Paulo Gomes, enviaram nesta segunda-feira cartas ao governador, pedindo afastamento dos cargos.

Benedita soube pelos jornalistas do ultimato de Garotinho e nao quis comentar. Ela pediu que haja "gerenciamento político" da crise, com a participaçao dos partidos da frente da esquerda. Esta terça-feira, o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), vem ao Rio para convencer o grupo de Benedita a deixar o governo. "Ele deve ter sabido da disposiçao do Zé Dirceu e se antecipou", disse o presidente do PT do município do Rio, Carlos Santana.




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