Apesar do número maior de opçoes, os preços divulgados na semana passada pelas novas operadoras frustraram a expectativa de reduçao generalizada de tarifas. O consumidor poderá beneficiar-se de reduçao em alguns horários, mas a situaçao está longe da "guerra de tarifas" prometida na época da privatizaçao.

A Vésper Sao Paulo começou a vender neste fim de semana as 550 mil linhas que pretende vender no Estado nos próximos meses, mas o preço de R$ 597,00 e o custo das tarifas acima dos da Telefônica limitam a concorrência. Além disso, as linhas da Vésper, como utilizam tecnologia sem fio, nao sao compatíveis com a Internet ou aparelhos de fax tradicionais. Na prática, o resultado mais significativo será uma pequena reduçao das tarifas internacionais e interurbanas interestaduais nos horários de pico. Para interurbanos entre cidades distantes menos de 300 quilômetros, as tarifas oferecidas pelas espelho sao maiores do que as cobradas pelas operadoras já estabelecidas.

A reduçao deve ser mais sentida no chamado mercado corporativo (empresas), que usa o telefone nos horários de pico. O consumidor residencial pouco vai se beneficiar. A Intelig ficou praticamente de fora da disputa pelo mercado paulista. O minuto do interurbano no Estado de Sao Paulo custa R$ 0,31 no horário comercial, mais do que o dobro dos R$ 0,15 cobrados pela Vésper, a empresa-espelho da Telefônica, que entrou em operaçao neste sábado. As duas ex-estatais têm preços variáveis de acordo com a distância e o horário das chamadas. Sao 16 preços diferentes, com cinco faixas de distâncias e quatro horários diferenciados. As duas espelho entraram com apenas duas tarifas, no horário comercial e fora dele.

Alívio - Na Embratel e na Telefônica, a reaçao foi de alívio com as tabelas anunciadas pelas duas novas operadoras de longa distância. A Embratel, que já tinha a concorrência das teles nas ligaçoes dentro dos Estados, agora vai competir também com a Intelig nas ligaçoes interestaduais e internacionais. "Estamos sempre olhando para o mercado e revendo nossa estratégia de marketing", diz a diretora de Desenvolvimento de Negócios da Embratel, Elisabete Couto, sem anunciar nenhuma modificaçao na política de preços ou descontos da companhia.

Foi justamente na fatia do mercado antes ocupada exclusivamente pela Embratel que se notaram as maiores reduçoes. Nas ligaçoes para os Estados Unidos, o consumidor vai poder escolher entre pagar, no horário comercial e sem impostos, R$ 1 32 o minuto via Embratel e R$ 0,90 o minuto pela Intelig. Para a Europa, no entanto, a reduçao nao é significativa. A tarifa, que custa R$ 1,70 o minuto (sem impostos) no horário comercial pela Embratel, poderá ser feita por R$ 1,55 o minuto na Intelig. Fora do horário comercial, a diferença é ainda menor: R$ 1,40 na Embratel e R$ 1,25 na Intelig.

A Telefônica nao quis falar sobre o assunto, mas a empresa já havia se antecipado ao início da concorrência, anunciando uma promoçao que começou no último fim de semana e vai dar 10% de desconto nas ligaçoes para as três cidades mais chamadas naquele mês. "Estamos tranqüilos", disse um executivo da empresa. A empresa nao teme perder clientes para a Vésper porque tem tarifas menores do que a concorrente justamente nas áreas onde se concentra o maior número de ligaçoes. Setenta e cinco por cento dos interurbanos via Telefônica estao nas distâncias mais curtas, inferiores a 100 quilômetros.

Nessas áreas, a tarifa, com impostos, varia de R$ 0,03 a R$ 1,30 o minuto, dependendo da distância. Na Vésper, o preço é R$ 0,15 o minuto para todo o Estado. A nova operadora torna-se competitiva somente nas ligaçoes para cidades mais distantes. O preço é R$ 0,19 o minuto para locais entre 100 e 300 quilômetros da capital e R$ 0,26 nas distâncias superiores a 300 quilômetros.

Facilidade - A opçao pela padronizaçao dos preços em apenas dois horários facilita a comparaçao pelo consumidor, mas tira justamente a vantagem existente atualmente nos horários noturnos quando tanto Telefônica como Embratel dao descontos de até 75% sobre o preço normal. De acordo com as operadoras, a tarifa noturna - entre meia-noite e 6 da manha - dá prejuízo porque o preço cobrado é abaixo do custo de interconexao, pago para a empresa que administra a rede em uma das pontas - a que faz ou recebe a ligaçao. O custo de interconexao nao deve cair, porque é controlado pelo governo e faz parte da remuneraçao garantida às empresas que compraram as estatais na época da privatizaçao.

A única reaçao efetiva à tabela divulgada pela Intelig veio da Tele Centro Sul, que opera o sistema nos Estados das Regioes Sul e Centro-Oeste, e cuja espelho vai entrar em operaçao somente em junho. A empresa anunciou na sexta-feira a reduçao dos preços nas ligaçoes dentro do Estado no horário comercial. "A gente responde à estratégia de preço dos nossos competidores", disse o presidente da empresa, Henrique Neves. Nos outros horários, ele disse que a Tele Centro Sul tem preços até 30 vezes menores do que a concorrente.

Desinformaçao - Os consumidores torcem para a reduçao das tarifas, mas a maioria ainda nem sabe das opçoes que terá a partir desta semana. "Eu sei da Intelig, mas nao sabia da Vésper", disse o cartorário Luis Roberto Caza. "Se um dá desconto, o outro vai ter de dar também". A professora Regina Duarte, que na semana passada foi à loja da Telefônica transferir uma linha, viu a propaganda da Intelig, mas ainda nao sabe como usar as novas opçoes de interurbano: "Espero que melhore, porque agora é muito ruim".