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Anúncio da greve dos petroleiros piora situação do combustível

Ainda sem previsão de normalização do abastecimento, setor cruza os braços amanhã

Soraia Abreu Pedrozo
Yara Ferraz
29/05/2018 | 07:12
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André Henriques/DGABC


O caos instalado na economia por conta da greve dos caminhoneiros – que completa hoje uma semana no Grande ABC –, pode piorar. Isso porque os petroleiros anunciaram que vão cruzar os braços por 72 horas a partir de amanhã, em todo o País. Dentre outros pontos, a categoria também reivindica a mudança na dinâmica de preços dos combustíveis da Petrobras. Ainda não há previsão de normalização de abastecimento na região, e empresas do polo petroquímico começaram a paralisar suas operações por dificuldades na distribuição da produção e no recebimento de insumos.

De acordo com o Sindipetro SP (Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo), aproximadamente 1.250 trabalhadores atuam no setor petroleiro na região, divididos entre a Recap (Refinaria de Capuava), em Mauá, e o CD (Centro de Distribuição) em São Caetano. A paralisação terá início à 0h de amanhã e vai até as 23h59 de sexta-feira.

Conforme o coordenador da regional Mauá do Sindipetro-SP, Auzélio Alves, esta será uma greve de aviso, sendo que, na sexta-feira, haverá outra votação sobre a continuidade da paralisação. “Tivemos assembleia na semana passada, mas já tinha um calendário aprovado para a categoria. Mudamos a greve para esta semana também como forma de solidariedade aos caminhoneiros. Estamos somando esforços nesta trincheira de batalha.”

Segundo ele, a refinaria de Mauá tem capacidade para receber carga entre 8.000 m³ e 10 mil m³ (metros cúbicos) para processamento. Já o armazenamento do CD, que costuma ficar na casa dos 40%, já está com 70% da sua capacidade.

As principais demandas da categoria são a redução no preço de combustíveis e do gás de cozinha, manutenção dos empregos, retomada da produção interna de combustíveis, demissão do atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, além de se posicionarem contra a privatização da empresa.

Questionada, a Petrobras informou que foi notificada pelas entidades sindicais sobre a paralisação. “A companhia tomará as medidas necessárias para garantir a continuidade das operações. Sobre os impactos da greve dos caminhoneiros nas refinarias, informa que todas as suas unidades estão em operação. Onde há bloqueio nas vias de acesso, a empresa está buscando apoio das autoridades para que sejam tomadas medidas que garantam a circulação”, disse, em nota.

CAMINHONEIROS - O acostamento da Via Anchieta entre o km 23 e o km 25, sentido Litoral, em São Bernardo, continua ocupado por caminhões. Porém, de acordo com a Ecovias, concessionária que administra o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), não há reflexo no tráfego de veículos.

Já a situação da venda do combustível para o consumidor direto segue sem previsão de ser normalizada nos postos de combustível do Grande ABC. De acordo com o Regran (Sindicato do Comércio Varejista Derivados do Petróleo), alguns locais abastecem carros oficiais de serviços essenciais, como os relacionados à Segurança, por exemplo.

O Cofip ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC) informou que em razão da greve dos profissionais de transporte de cargas as empresas do complexo industrial petroquímico devem iniciar a parada das operações, a partir de hoje, por tempo indeterminado. “Em consequência do bloqueio das rodovias, as empresas apresentam dificuldades com escoamento da produção e recebimento de matérias-primas”, informou, em nota.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Raimundo Suzart, o polo petroquímico emprega cerca de 2.600 a 3.000 profissionais diretos e 12 mil indiretos no polo. “As empresas não conseguem escoar a produção. Todo o setor de autopeças que trabalham com montadoras está com este problema também. O setor petroquímico e até mesmo os restaurantes industriais estão com dificuldade de insumos, estocagem, e não distribuem.”

Para o Cofip, a parada reflete drasticamente na economia da região, devido ao tempo em que a greve pode durar e ao processo logístico das empresas, que pode levar semanas para retomar na totalidade.

Apesar do posicionamento, a Braskem informou que, até o momento, todas as unidades industriais do País seguem em operação, e que a companhia vem tomando medidas para aliviar os impactos da paralisação dos caminhoneiros sobre a produção e as entregas. “A empresa avalia diariamente que novas ações precisa adotar e dará ciência delas a clientes, fornecedores e investidores.”


Batata dispara 300% na Ceasa ABC

Apesar de alguns produtos começarem a ser entregues em seus locais de destino, na Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) a situação ainda é crítica. Faltam cenoura, cebola, abobrinha, tomate, berinjela, manga, mamão e abacaxi, entre outros.

“O pouco que está chegando não dá nem para começar a atender os pedidos”, afirma o presidente da Aeceasa (Associação das Empresas da Ceasa do Grande ABC), João Lima. Ele conta que o saco de 50 quilos de batata tem chegado a R$ 280. Uma semana atrás, custava R$ 70. Ou seja, houve alta de 300%. Quanto à caixa de tomate de 18 quilos, o valor, que era de R$ 60, está em R$ 130 – incremento de 133,3%.

“As principais estradas que abastecem a nossa região continuam bloqueadas, por isso o reflexo da greve é muito grande”, explica Lima. Ele chama atenção ao fato de que o próximo produto a faltar nas prateleiras será o limão.

NAS GÔNDOLAS - “Ainda estamos com falta de cenoura e mandioquinha, mas devemos receber os produtos amanhã (hoje). Além disso, nosso estoque de pães industrializados também acabou, pois, mesmo com alguns centros de distribuição perto da gente, os produtos não estão chegando até eles. Mas esperamos reposição até quarta (amanhã)”, conta Cezar Marlon, gerente do Nagumo da Vila Alzira. No entanto, ele avalia que “o pior já passou”.

No supermercado, o quilo da batata, que há uma semana custava R$ 2,49, chegou a R$ 8,49 no fim de semana e, ontem, estava a R$ 6,98. A cebola, que chegou a R$ 7,98, recuou a R$ 6,98. Inicialmente, o item saía por R$ 4,98.

A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) informou que os supermercados operam com estoque médio em torno de 15 dias (de produtos não perecíveis) e que, portanto, muitos já estão chegando próximo à metade da capacidade, haja vista que a paralisação completa hoje uma semana no Grande ABC.

Mesmo após o fim da greve – o que ainda não ocorreu –, o setor poderá levar de cinco a dez dias para normalizar o abastecimento, conforme estimativa da entidade.


Montadoras continuam sem produção no Grande ABC

As montadoras do Grande ABC continuam sem atividade, devido à dificuldade em obter peças para a produção, além de a maior parte dos operários não ter meios de chegar ao local de trabalho.

A planta da Toyota em São Bernardo, até então a única das seis montadoras da região que não tinha sido afetada diretamente pela greve, começou a operar parcialmente. “A greve também impacta na distribuição de veículos e autopeças para a rede de concessionários e paralisou as operações de exportação. Continuaremos monitorando o impacto da greve em nossas plantas durante o dia”, diz em nota.

A Scania informa que a produção da fábrica na cidade permanece interrompida desde quinta-feira. “Para compensação dos dias de paralisação, a Scania fará uso do acordo coletivo de flexibilidade firmado com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.”

A unidade da Ford também segue paralisada. A da Mercedes-Benz, por sua vez, após dia de licença remunerada, volta a operar – vale lembrar que a fábrica esteve em greve por dez dias por conta de desentendimento entre sindicato e empresa quanto ao acordo salarial.  




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