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Janela inclusiva

Equipamento faz leitura da paisagem e torna a imagem sensível ao tato; descrição é por sistema de som

Nilton Valentim
11/05/2018 | 07:28
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Divulgação


Marcelo Mikley Vinturini, 19 anos, se desloca do Centro de São Bernardo até a Cidade Universitária, na Capital, onde estuda Ciências Sociais. Cego de nascença, gosta de carros e conhece vários modelos por meio do tato. Para entrar no ônibus certo, conta com a ajuda das pessoas que estão no ponto.

Assim como os demais jovens de sua idade, é ligado em tecnologia. Usa o computador e, principalmente o celular – com auxílio de aplicativo leitor de tela –, gosta de ler, toca violão, viola, baixo e já teve até uma banda.

Um novo sistema, que está em desenvolvimento pela Ford, na Itália, poderia dar mais vida às viagens de Marcelo. Trata-se de uma janela de carro inteligente que dá às pessoas cegas ou com baixa visão a possibilidade de ‘sentir’ a paisagem por meio do toque. O objetivo é que elas também possam apreciar o cenário ao viajar de carro, uma experiência da qual sentem falta.

“Dirigir é uma das coisas que me convenceriam a fazer uma cirurgia, se existisse. Queria muito ver fotos e dirigir”, afirma Marcelo. O equipamento da Ford não chega a tanto, mas já proporcionaria um dos grandes prazeres de quem ‘pega a estrada’, que é apreciar a paisagem.

O dispositivo, chamado Feel the View (sinta a visão, em inglês), ainda está em fase de protótipo e usa uma tecnologia totalmente nova. Ele tira fotos que são transformadas em imagens preto e branco de alto contraste, depois reproduzidas no vidro por meio de LEDs especiais. Quando se toca na imagem, os diferentes tons de cinza vibram em uma escala de 255 intensidades, permitindo reconstruir na mente os detalhes da paisagem.

“Existem algumas coisas que eu não entendo, por exemplo, não tenho noção do que é perspectiva. Não consigo nem imaginar como é enxergar algo em terceira dimensão, sendo que o plano é bidimensional”, afirma o estudante de São Bernardo.

Para auxiliar os usuários, um assistente vocal conectado ao sistema de áudio do carro, com inteligência artificial on-line, ajuda a situar o contexto da imagem descrevendo o que está sendo tocado.

O Feel the View foi criado e desenvolvido pela Ford da Itália e pela GTB Roma, em colaboração com a Aedo, startup italiana especializada em dispositivos para deficientes visuais. Ele é uma evolução do método Braille, expandindo o seu conceito para além das letras e números.

“Procuramos melhorar a vida das pessoas e vimos nesse projeto uma oportunidade fantástica de ajudar quem tem deficiência visual a experimentar um dos melhores aspectos das viagens de carro. A tecnologia é avançada, mas o conceito é simples e pode transformar passeios comuns em viagens memoráveis”, diz Marco Alù Saffi, da Ford Itália.

Não há previsão de quando o sistema será disponibilizado. Mas a pesquisa já é um grande avanço.

Contato com miniaturas fez nascer paixão por carros

Carro é uma das paixões do jovem Marcelo Mikley Vinturini, 19 anos. O estudante do 2º ano de Ciências Sociais da USP (Universidade de São Paulo) é cego de nascença, mas aprendeu a identificar os modelos por meio do tato.
“Antigamente eu gostava de sair na rua, ou em pátios e tatear os carros. Isso é uma coisa que eu tenho desde pequeno. Eu possuía um monte de miniaturas, e reconhecia todas, acho que isso fez eu me apaixonar por carros. A maioria dos modelos, até 2010, eu conseguia reconhecer facilmente, principalmente os mais antigos”, conta o garoto. O surgimento de vários modelos recentes, com muitas características parecidas, dificultou o reconhecimento.
Marcelo gostaria de visualizar a Torre Eiffel, em Paris, na França, e afirma que, por nunca ter enxergado, tem dificuldades para saber como seriam determinados lugares ou objetos.
“Algumas coisas parecem bem abstratas, em fotografia, por exemplo, como a pessoa consegue representar distância, tamanho, profundidade em um papel? Não consigo colocar isso na cabeça. Na época da escola, na apostila tinha um monte de figuras geométricas, minha professora tentou diversas vezes me explicar, mas nunca entendi”, afirma .
 




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