Pelo menos 50 famílias sem-teto invadiram, entre a madrugada e durante todo o domingo, um terreno particular de 11 mil m² na rua Caminho dos Vianas, Jardim Irene, na periferia de Santo André. Um acampamento improvisado – com lonas de plástico preto e laranja e estacas de madeira fincadas na área – foi montado na propriedade. Com um mesmo discurso, os sem-teto disseram que “pretendem comprar o terreno” para a construção das “casas próprias”. O proprietário afirmou que as “medidas cabíveis para a reintegração de posse foram tomadas”.

Despejado do imóvel onde morava por falta de pagamento, o ajudante geral desempregado Geraldo Santiago Sobrinho, 44 anos, foi um dos primeiros a chegar no terreno, por volta das 5h da manhã de domingo. “A gente está cansado de morar de favor. Quando ficamos sabendo da ocupação, resolvemos também arriscar. Não é invasão. Como se trata de uma área improdutiva, queremos comprá-la”, afirmou, ao lado da mulher Rita Moreira. “Primeiro, trouxemos a lona. Depois fui buscar roupa e comida”, disse Rita, mãe de Maria Taynara, 3, e Luiz Paulo, 14.

Com o mesmo destino, a família de Francisco Neto, 23 anos, servente desempregado, pai de quatro filhos, roçava o mato em volta de sua barraca, já armada. “Eu só estou aqui porque preciso. Também vivo de favor na casa de uma pessoa. Soube por outra pessoa desse terreno. O que sei é que o dono está muito doente, e os filhos querem vender aqui para a Prefeitura. Aí, vamos negociar com eles (Prefeitura)”, afirmou Neto, que chegou ao local por volta das 9h.

Reintegração – De acordo com o dono do terreno, um empresário que preferiu não se identificar, a área não está à venda. “Temos uma loteadora na cidade. Trata-se de um patrimônio da empresa de cerca de 40 anos. Ficamos sensibilizados com a situação dessas famílias, mas não posso fazer nada. As providências judiciais cabíveis já foram tomadas. Espero que tudo seja resolvido de forma pacífica”, disse. Domingo pela manhã, o empresário esteve, ao lado de policiais militares, no local, e, em seguida, registrou BO (Boletim de Ocorrência) no 1º Distrito Policial de Santo André.

Moradores do terreno, que preferiram não se identificar, afirmaram que a maioria das famílias é moradora no Jardim Irene II, região de periferia e que possui vários núcleos habitacionais.