Cultura & Lazer Titulo História
Os 100 anos da banda Lira

Corporação musical de Santo André busca apoio para festejar centenário

Miriam Gimenes
21/04/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 No centro da sala de ensaios, em cima de um altar, está uma imagem de Santa Cecília, a padroeira dos músicos. Ganhou essa ‘responsabilidade’ porque contam que antes de morrer teria cantado para Deus. Seu olhar abençoado parece tomar conta do espaço onde, toda sexta-feira, os integrantes da Corporação Musical Lira de Santo André, mais conhecida como Banda Lira, que completa 100 anos hoje, se reúnem para ensaiar.

E é mesmo preciso intervenção divina e muito amor para fazer um trabalho como este durar tanto tempo. A Banda Lira é a mais antiga do Grande ABC. Nasceu da união de imigrantes italianos que vieram para cá fugindo das mazelas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e aqui firmaram morada.

Com o tempo, foram ganhando integrantes, se apresentaram em circo e começaram a tocar não só na região, como em todo o País. Passaram por outras duas sedes – uma sala na Rua Coronel Oliveira Lima e outra no quarto de João Frederico, também músico – antes da definitiva, na Parque Antônio Flaquer, no Ipiranguinha.

Esta última, pelo que o Diário presenciou ao visitar o espaço, precisa de muitos reparos. No palco onde os músicos se apresentam, sempre no último domingo do mês, às 15h, há infiltração no teto. O presidente e maestro da corporação, Claurício Cypriano, que diz que a banda é sua vida, confessa ficar preocupado. “Está cheio de goteiras. Nos dias de chuva a apresentação aqui fica comprometida.”

A sala de ensaios, já mencionada, tem cortinas remendadas e as carteiras, onde antes havia alunos, estão vazias. “Contávamos com o apoio da iniciativa privada, que foi cortado. E, este ano, a subvenção da prefeitura, de R$ 110 mil, ainda não veio. Enquanto isso vamos nos virando como dá”, diz o administrador da banda, João Magliano Filho, o integrante mais antigo do grupo. A prefeitura garantiu ao Diário que o repasse será feito em maio.

Mas não é só de lamúrias que foi desenhada essa história. Pelas formações da banda, desde sua fundação, já passaram cerca de 600 músicos. Apenas no ano passado, foram 140 apresentações, só para a Prefeitura. E, é claro, não poderiam faltar histórias boas para contar. Em uma delas, por volta de 1940, cinco músicos foram convidados a fazer uma serenata para uma moça, no Centro de Santo André. A polícia, incomodada com o barulho, os levou para trás das grades. “Quando iam soltá-los, ouviram canção e acharam que era protesto. Na verdade, o delegado, recém-chegado na cidade, também era músico. Ele os soltou imediatamente e depois ainda veio ensaiar na banda”, lembra seu João.

É nítida a paixão que tanto ele quanto o maestro Cypriano têm pelo lugar. “Bolei projeto para trazer bandas de outras cidades. Também tenho a intenção de convidar o Moacyr Franco, os Demônios da Garoa e o Fat Family para se apresentarem aqui. Preciso achar patrocínio. Seria nossa comemoração para o centenário.” A captação é permitida porque o projeto, orçado em R$ 149 mil, foi aprovado pelo Proac-ICMS (Programa de Apoio à Cultura-Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). Se Santa Cecília não os desamparou nos últimos 100 anos, não será nos próximos que o fará.




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