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SOS substitui obras nas estradas
Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
16/08/2009 | 07:30
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Saem de cena as máquinas de reparos nas pistas e entram as unidades de socorro médico e mecânico. É com esta filosofia que o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) completa 75 anos: o foco, outrora voltado às obras, agora passa aos usuários que circulam pelos 22 mil quilômetros de rodovias sob gestão do Estado.

A mudança de paradigma na administração da malha viária paulista é descrita pelo superintendente do órgão, Delson José Amador. O segundo semestre começa com todas as rodovias controladas pelo departamento dotadas das UBAs (Unidades Básicas de Atendimento). São 57 em operação, além de 32 câmeras que fazem o monitoramento do fluxo de veículos. "Hoje, toda a geografia da malha já conta com as UBAs 24 horas por dia."

APJ - Como foi a evolução das estradas paulistas?
DELSON JOSÉ AMADOR - A malha viária do Estado começou a partir da integração da Região Metropolitana com o Litoral e com o Vale do Paraíba, onde havia a indústria cafeeira e era o maior polo de desenvolvimento do Estado. Isso se seguiu com a integração com o Oeste do Estado, com o Rio Paraná. Com isso, foi permitido o desenvolvimento da agroindústria de todo o Estado. Depois, a partir daí começou a construção de uma verdadeira malha viária, quando passou a haver integrações regionais. Não apenas os grandes troncos, permitindo o desenvolvimento de polos regionais. Várias regiões têm vocação própria. Há hoje verdadeiras capitais regionais no Estado. Com o aumento da frota e a intensificação do transporte rodoviário de carga, começou a ser necessária a ampliação, com a duplicação dos principais eixos, que não comportavam mais o volume de tráfego. Hoje você tem as principais linhas-tronco duplicadas e ampliadas de forma a permitir o escoamento da produção e o fluxo de transporte com a segurança necessária.

APJ - Este processo se deu de forma mais incisiva a partir da década de 1970?
AMADOR - Nos últimos 40 anos temos, de forma mais intensiva, a ampliação das rodovias, com a duplicação dos grandes troncos de forma a permitir a absorção do aumento gradativo do volume de tráfego. De 10 anos para cá duas coisas chamam mais a atenção: o advento das concessões, que permitem ampliação dos investimentos, e a implantação não só pelas concessionárias, mas pela malha sob responsabilidade do Estado, dos serviços de atendimento aos usuários.

APJ - Houve uma mudança de foco na atuação? Hoje a preocupação é o usuário em detrimento da obra física?
AMADOR - Sim, houve mudança no foco. Antes era estritamente a construção e recuperação da malha, olhando só o elemento físico da rodovia. Agora, olhamos o usuário da rodovia. Ela é um meio que tem como fim o usuário. Existe o sistema de atendimento ao usuário. Você tem monitoramento, serviços de socorro mecânico e médico. Para que o usuário seja atendido a qualquer momento, caso haja falha mecânica ou problema de saúde. Este é um movimento que se nota mais nos últimos dez anos.

APJ - E os investimentos na recuperação da malha?
AMADOR - Não se pode perder de vista a necessidade de investimentos, pois os setores de infraestrutura são fundamentais para o crescimento do País. Eles não podem se transformar em obstáculos para o crescimento. Ao contrário, precisam permitir que o País prossiga no seu ritmo de crescimento, que é o desejo de todos.

APJ - E o monitoramento do tráfego?
AMADOR - Está concentrado nas principais vias que têm grande volume. Principalmente no Litoral Norte, Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e algumas rodovias do Interior que atraem muito movimento. Temos um plano para ampliação do sistema de monitoramento por câmeras.

APJ - Há um diagnóstico minucioso da malha viária? Fisicamente, quais são os gargalos?
AMADOR - Existe a necessidade de um amplo programa de recuperação de rodovias, que como tudo na vida, tem um tempo de uso determinado. Ou seja, vencido este tempo você tem que recuperar a rodovia. Não apenas fazer operações de conservação. Montamos um planejamento estratégico que envolve duplicação e ampliação em função dos estudos.

APJ - E as estradas de menor porte, as que não estão sob controle do Estado?
AMADOR - Por decisão do Estado, o DER foi incumbido de fazer a recuperação de praticamente 100% da malha viária vicinal que já havia sido pavimentada no passado e que estava em condições muito ruins, já que os municípios têm limitações financeiras para a manutenção. O governo do Estado reconhece a importância destas rodovias que interligam distritos e regiões produtoras. Representam uma malha capilar muito importante porque se integra à malha estadual. É fundamental recuperar a malha municipal.

APJ - O Pró-Vicinais vai atender 100% das estradas?
AMADOR - Sim, 100% das vicinais que já haviam sido pavimentadas. Há ainda uma ampla malha de estradas de terra que seria objeto de um programa de pavimentação de várias delas, que não conseguem suportar o tráfego nas condições em que hoje estão. Há um esforço considerável não só do DER em viabilizar recursos orçamentários com esta finalidade. Com certeza, este programa será iniciado este ano.

APJ - Há pontualmente casos de prefeituras que lutam para municipalizar trechos de estradas estaduais que hoje se transformaram em verdadeiras avenidas. Como o DER trata esta questão?
AMADOR - Municipalização não é uma questão simples. Há solicitações neste sentido. A municipalização envolve um processo legal complicado, pois envolve a transferência de uma titularidade de poder público para outro. São processos lentos. E os casos que justificados têm sido feitos.

APJ - Não é uma questão a ser tratada no atacado...
AMADOR - Não é uma questão que pode ser tratada assim e nem deve. Procuro explicar que os municípios desenvolvem também uma responsabilidade da qual muitas vezes eles têm a correta percepção na hora em que solicitam. Mas percebem depois. As prefeituras têm dificuldades para manutenção das próprias vias municipais, além dos serviços de Saúde e Educação. E muitas vezes acabam não tendo condições de suportar os recursos para manter uma rodovia que se transformou em avenida. É uma faca de dois gumes. Qualquer transferência envolve a assunção de obrigações suplementares. Temos vários casos de cidades que hoje procuram socorro no DER porque não conseguem suportar o encargo assumido.




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