Política Titulo 60 anos do Diário
'Meios de comunicação são fundamentais’, diz ex-presidente da Coop
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
19/03/2018 | 07:32
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André Henriques/DGABC


Para Antonio José Monte, que permaneceu por 17 anos à frente da Coop – Cooperativa de Consumo, de Santo André, a 14ª maior supermercadista do Brasil, os meios de comunicação sempre são importantes para o desenvolvimento, quer regional, quer nacional. Porém, o executivo critica a ausência da existência de dados econômicos confiáveis referentes às sete cidades, o que impulsionaria o papel social do jornal, e diz reconhecer que o fortalecimento regional dificilmente será alcançado somente com o esforço unilateral, mas com o esforço de todos, aí incluídos, principalmente seus governantes.

Antonio José Monte e o Diário

Nascido em Santo André, em 15 de dezembro de 1946, Antonio José Monte teve seu primeiro emprego aos 9 anos, como caddie (carregador de tacos em campo de golfe). Ele morava com a família onde havia o Sítio Tangará, que tinha o único campo de golfe da região – onde, mais tarde, passou a abrigar a Fundação Santo André, em que ele se formou em Economia. Em fevereiro de 1996 concedeu sua primeira entrevista ao Diário, como vice-presidente da Coop, para falar que se tornaria presidente dois meses depois, cargo que manteve até 2013, quando passou a presidir o conselho de administração, função exercida até hoje.


O Diário completa, em maio, 60 anos. Ao longo dessas seis décadas, o senhor acredita que o jornal foi importante para o desenvolvimento da economia da região? De que maneira?

Os meios de comunicação sempre são fundamentais para o desenvolvimento, quer regional, quer nacional. O Diário está aí incluído. Ao longo de seus 60 anos, ofereceu aos seus leitores informações diárias a cada momento de nossas vidas econômica, política e social. Nesta oportunidade, consigno votos de parabéns não somente pelo seu sexagésimo aniversário, mas, também, pela sua permanência entre nós até os dias atuais.

E para a Coop – Cooperativa de Consumo, o senhor acredita que o jornal tenha contribuído para a expansão de suas atividades? Por quê?

Sim. Com certeza. Não somente pela publicidade por nós encomendada e sempre reconhecida pelos nossos cooperados, mas também, e principalmente, pelas reportagens envolvendo a Coop, quer na divulgação de nossos projetos, quer com reportagens efetuadas junto aos nossos cooperados.

Há quantos anos o senhor atua na Coop, e hoje exerce qual função?

Em outubro de 1995, o senhor Edson Vaz Musa – presidente da Rhodia –, em virtude da aposentadoria do presidente de então, convidou-me a participar do processo de sucessão na Coop, e eu aceitei. Passei a ser o presidente executivo da cooperativa em 1º de abril de 1996, tendo permanecido até 31 de março de 2013. Devido às mudanças no estatuto social, adaptando-o à realidade atual de governança nas empresas, passei a ser o presidente do conselho de administração desde 1º de abril de 2013, onde permaneço até os dias atuais.

O senhor se lembra quando teve o primeiro contato com o Diário?

Logo que ocupei o cargo de presidente da Coop fui chamado para encontro informal pelos diretores da época, do Diário, ocasião em que pudemos expor nosso plano de ação para a empresa.

Lembra-se também quando o Diário publicou a primeira reportagem a seu respeito e por qual razão?

Por serem incontáveis as matérias publicadas, acredito que tenha sido no momento em que fui eleito presidente em abril de 1996.

O senhor concedeu entrevista em fevereiro de 1996, justamente quando já preparava a transição de vice para presidente da Coop, e falava sobre a proposta de inovar no varejo para diminuir o preço final dos produtos aos clientes.

Lembro que, à época, a Cooperhodia, como era chamada a Coop, estava negociando com seus fornecedores de eletroeletrônicos um sistema de vendas por consignação constituído no just-in-time (sistema de entregas que reduz ou elimina tempo de estoque) do varejo para reduzir os preços, e a cooperativa não precisaria mais estocar televisores, geladeiras, micro-ondas, videocassetes – na época sequer sonhávamos com DVD e blueray – e outros.

Como funcionava esse sistema?

O consumidor fazia sua escolha no mostruário da loja e o aparelho era entregue em sua residência em dois dias, diretamente do armazém do fabricante, já acompanhado de nota fiscal. A Coop pagava aos fabricantes depois que a venda tinha sido concretizada. Era algo vantajoso tanto para a cooperativa quanto para o cliente e o fornecedor.

Era algo inovador para meados da década de 1990?

Sem dúvida. E a introdução desse sistema só foi possível porque a cooperativa investiu maciçamente em informatização – desde aquele tempo nós já tínhamos essa preocupação – em torno de US$ 4 milhões, e porque a estabilização do real dava segurança ao mercado – na época, o real e o dólar eram pareados. Sem despesas com estocagem, conseguimos baratear o preço.

A preocupação com investimento e inovação é marca constante da Coop, até os dias de hoje, não?

Com certeza. Tanto é que, em 2016, no meio da crise econômica, a Coop investiu R$ 100 milhões para promover melhorias em cinco lojas, sendo quatro na região. Uma delas, a sede, na Avenida Industrial, em Santo André, foi reaberta após 120 dias de reforma, que consumiu R$ 15 milhões, e teve como principal novidade a implementação dos terminais de self-checkouts, que receberam o nome de autocaixa – iniciativa hoje replicada em outras unidades. Neles, o cliente pode passar até 15 itens e pagar no débito ou crédito sem a necessidade de um operador. No ano passado, outra novidade. Parte do aporte de R$ 56 milhões nas unidades regionais para modernizá-las, sem contar a inauguração de loja em Ribeirão Pires – abertura que encerrou jejum de seis anos sem inaugurações na região – era o lançamento do Coop Retira, disponível na Industrial. Por meio dele o cliente faz a compra pelo site, paga pela internet e, após algumas horas, agenda a retirada da compra já embalada, não sendo preciso entrar no mercado.

Quais são os planos para 2018?

A Coop anunciou investimentos de R$ 94 milhões neste ano, sendo R$ 90 milhões no Grande ABC. Esse aporte contemplará um supermercado, nove drogarias de rua e um posto de combustível – na unidade andreense do Parque Capuava, conforme já havia sido divulgado em 2017. Também será realizada a modernização de suas lojas e da área de TI (Tecnologia da Informação). Vale lembrar que, no ranking do ano passado, a cooperativa ocupava o 14º lugar entre os maiores supermercadistas do País no ranking da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), com receita de R$ 2,1 bilhões (o ranking deste ano será divulgado hoje).

A Coop está investindo pesado na abertura de drogarias. Qual é o planejamento?

Para os próximos quatro anos, o objetivo é contar com 80 drogarias, enquanto que, atualmente, são 44, sendo 23 distribuídas nas sete cidades. O setor drogaria já detém participação de 17% no faturamento geral da rede. Em fevereiro, foi investido R$ 1 milhão na abertura da 15ª drogaria de rua, na Vila Alto de Santo André. Só neste ano, está prevista a abertura de mais oito pontos até dezembro.

Quantos cooperados a Coop possui hoje?

Atualmente, a Coop é considerada a maior cooperativa de consumo da América Latina, com 1,7 milhão de cooperados, mais de 5.900 colaboradores diretos, 31 unidades, sendo 23 no Grande ABC, uma em Piracicaba, três em São José dos Campos, duas em Sorocaba e duas em Tatuí, além de três postos de combustíveis. Por ser uma cooperativa, oferece benefícios para quem é cooperado, como cursos gratuitos para promover o aumento de renda dos participantes e retorno de sobras de forma proporcional às suas aquisições durante o exercício.

Em algum momento da sua carreira à frente da Coop o Diário lhe foi útil de alguma maneira?

Tendo sido muito útil à Coop, com certeza foi útil também para a minha pessoa. Reconheço positivamente a importância deste meio de comunicação para o nosso crescimento e nossa exposição.

Em sua opinião, qual a importância do jornalismo regional? E do Diário?

Acredito ser de suma importância todo e qualquer meio de comunicação que prima pela verdade e pela inteligência de seus integrantes. O jornalismo regional, além de ter abertura para divulgar notícias importantes nos âmbitos nacional e internacional, possui a facilidade de atingir o público regional, oferecendo informações mais completas dos acontecimentos locais. Deve ser até um canal de alerta para os governantes, no sentido de oferecer subsídios para boa administração das cidades e assim poder servir melhor aos seus cidadãos. Para o Diário serve esta norma geral.

O senhor enxerga o Diário como um canal para os empresários da região?

Esta resposta deve ser entendida ao longo da jornada do Diário entre nós. Sempre é importante o canal, desde que os empresários acreditem no chamado ‘eco’ em relação às suas demandas ou aflições. Além de acreditar, torna-se necessário medir quantitativa e qualitativamente esse retorno. O jornal, pelo seu passado e tradição, reúne condições para que nossos empresários possam nele confiar, com um bom retorno.

Em sua opinião, o que mais o Diário pode fazer para ajudar a fortalecer tanto a economia quanto as empresas da região?

É lógico que esta resposta não deve ser entendida como um órgão de administração das cidades, mas sim como um instrumento de alerta para modificar cenários que precisam ser melhorados ou implantados através da informação. Faltam-nos informações sobre índices econômicos regionais (consolidados), além de não termos nenhum histórico confiável sobre eles, mesmo quando o Grande ABC era reconhecido como grande polo regional. Também, como exemplo, não conhecemos informações sobre a cadeia produtiva, visando, com isso, não sairmos daqui para adquirirmos matérias-primas ou produtos acabados fora da região, sem premiarmos incompetências. Porém, reconheço que o fortalecimento regional dificilmente será alcançado somente com o esforço unilateral, mas sim com o esforço de todos, aí incluídos, principalmente seus governantes.

Se pudesse realizar qualquer feito no Grande ABC, qual seria?

Investiria maciçamente na Educação, principalmente na formação e reconhecimento profissional dos professores, com cobrança de resultados. É através deles que construiremos um futuro melhor para a Nação.

Que futuro espera para o Grande ABC?

Analisando a cronologia e verificando a situação atual, se não nos mobilizarmos coletivamente, não acredito que haja um ponto de inflexão importante a médio e longo prazos.


 




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