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Lucerna: a Veneza Suíça
Heloísa Cestari
Enviada à Suíça
03/02/2011 | 07:06
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O trem que leva passageiros de Zurique a Lucerna mais parece uma máquina do tempo: o viajante embarca em meio ao burburinho da capital e, 45 minutos depois, desce da locomotiva com a impressão de ter retrocedido à Idade Média. Especialmente quando vislumbra a Ponte da Capela, principal cartão-postal da cidade e símbolo entre as fortificações erguidas no século 14, quando a região se separou da dinastia dos Habsburg.

Até o século 17, a ponte era fechada. Quando foi finalmente aberta ao público, a passagem ganhou o adorno de 147 pinturas do artista Henry Wagmann contando lendas e histórias de Lucerna, mas um incêndio ocorrido em 1993 destruiu uma centena delas. Hoje - após a restauração do que pôde ser recuperado - é possível conferir 112 obras.

No meio da antiga ponte de madeira, de 204 metros de extensão, está a Wasserturm: torre na água que já serviu de presídio, câmara de tortura, ponto de vigília e arquivo municipal. Hoje, é apenas mais um motivo para sacar a máquina fotográfica enquanto se vê crianças alimentarem os gansos à beira do Rio Reuss, no mais autêntico clima de cidade do interior.

Uma caminhada por esse município de apenas 60 mil habitantes, aliás, é a melhor forma de conferir os pontos turísticos da chamada Veneza Suíça. Comece o passeio pela Casa de Cultura e Congresso KKL Luzern, que abriga uma das maiores salas de concerto do país, com 1.842 assentos.

Só a fachada do prédio, com paredes de vidro projetadas pelo arquiteto francês Jean Nouvel, já é uma obra de arte tão valiosa quanto o acervo do seu museu. A ideia era fazer algo parecido com a Ópera House, de Sydney (Austrália), mas a verba não chegou a tanto e o desenho original teve de ser adaptado às possibilidades financeiras. "Para construir todo o complexo, inaugurado em 2000, foram gastos 225 milhões de francos suíços (cerca de R$ 400 milhões), sendo que 90 milhões foram bancados pela própria população e o resto veio do governo", explica a guia Umran Magnin, de sangue árabe e português na ponta da língua.

Ela lembra que, quando foi inaugurado, o edifício beirava o rio, para ficar mais parecido com a Ópera House, mas algumas pessoas caíram na água. O jeito foi construir um tablado de madeira para garantir a segurança dos pedestres.

Outro monumento digno de flashes é o Löwendenkmal, leão moribundo esculpido na parede, em pedra natural, com profunda expressão de tristeza, em homenagem aos mais de 600 mercenários da Guarda Suíça que morreram na Batalha das Tulherias, em Paris, defendendo o rei Luís XVI durante a Revolução Francesa, em 1792.

Mais adiante vislumbra-se a Catedral de St. Leodegard, antigo mosteiro beneditino fundado no século 17 e destruído por um incêndio em 1633. Dizem as más línguas que o fogo começou depois que o padre resolveu usar um rifle para espantar os pássaros que gorjeavam no telhado. "Pegou fogo por causa dos tiros. É por isso que as torres têm estilo gótico enquanto que o resto é renascentista", observa Umran.

 

JESUÍTAS

A igreja mais famosa, no entanto, é a dos Jesuítas, que fundaram Lucerna em 1534, liderados pelo espanhol Inácio de Loyola (1491-1556). Eles chegaram fugidos da reforma religiosa ocorrida no país e, diferentemente da maioria dos Estados suíços, que aderiram ao protestantismo, Lucerna não o fez. Hoje, ela é metade católica, metade protestante.

A igreja só foi concluída em 1666, em estilo barroco, e tem como padroeiro São Francisco Xavier, considerado o maior de todos os missionários.

Duas vezes por semana, um guia da paróquia conduz curiosos até o telhado da igreja, que consumiu mais de 850 árvores. Naquela época, desmatar não era pecado dos mais cabeludos...

Próximo à igreja está o Palácio do Governo, facilmente identificado por uma razão: em Lucerna, todas as casas que possuem janelas pintadas em azul e branco ou pertencem ao Estado ou têm caráter histórico.

E os apreciadores de arte moderna não podem deixar de visitar o Museu Picasso, exclusivamente dedicado ao pintor espanhol, com as mais importantes gravuras dos seus últimos anos de vida.

 

TRIBSCHEN

Embora tudo em Lucerna fique relativamente perto - o que permite conhecer a maior parte dos pontos turísticos a pé -, vale recorrer a ônibus ou carro para visitar o subúrbio de Tribschen, lar do compositor alemão Wilhelm Richard Wagner no idos de 1866 a 1872. Por várias vezes, Nietzsche foi até Lucerna para filosofar com o autor de Tristão e Isolda em sua residência suíça, hoje transformada em museu.




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