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Solidariedade entre vizinhos é marcante em São Luiz
Tiago Dantas
Do Diário do Grande ABC
12/01/2010 | 08:03
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A solidariedade tem se destacado como a característica mais marcante do povo de São Luiz do Paraitinga. Mesmo quem não teve a casa destruída veste bota e coloca máscara para ajudar na limpeza dos imóveis atingidos pela maior enchente da história da cidade. Casarões localizados em lugares mais altos viraram pontos de distribuição de donativos.

Por todo o lado, se vê alguém carregando uma lavadora de alta pressão, a Wap. Quem termina de usar, empresta para o vizinho. Só mesmo água com muita pressão tira a lama de dentro dos imóveis. Também é comum encontrar gente levando rodos, vassouras e produtos de limpeza para a parte baixa de São Luiz. Mas cada um ajuda no que pode.

O instrutor de rafting José Assis de Campos Enídio, 25, usou sua habilidade de remar para navegar pelas ruas alagadas da cidade com um bote e tirar as pessoas dos telhados das casas. Foram quase 36 horas remando. "Vemos as pessoas que ajudamos a salvar hoje andando na rua, e isso é muito gratificante. É gente que perdeu tudo, mas quer te oferecer alguma coisa para recompensar. Isso não tem preço", diz Assis.

As amigas Ica de Souza, 49, e Elizabeth da Silva, 51, passaram a manhã de domingo na casa paroquial cozinhando marmitas que seriam distribuídas para a população. "São todos amigos. Não tem como virar as costas", opina Ica. Ao esforço das duas cozinheiras, soma-se à doação de 300 marmitas feita por um restaurante da cidade vizinha de Taubaté. Cerca de 1.000 quentinhas são entregues todos os dias. No domingo, o cardápio tinha feijão, arroz, dois pedaços de bife e batata assada.

No outro quarteirão, a Igreja do Rosário virou depósito de doações. O templo católico foi o único que se manteve de pé após a inundação ocorrida na virada do ano. Como está ocupado por sacos de roupas e alimentos, não pôde servir de palco para a missa de domingo. A celebração foi realizada no pátio externo. O padre Edinho pediu aos fiéis que agradecessem a Deus pelo fato de a cidade só ter tido perdas materiais. Os bombeiros ainda procuram, no bairro São Benedito, o corpo de um jovem soterrado, que seria a única vítima fatal da tragédia de que se tem notícia.

Os moradores contam que se refugiaram em pontos mais altos do município quando o nível do Rio Paraitinga começou a subir. Foi de uma destas ruas, localizada em cima de um monte, que a aposentada Cícera Damião, 71, viu a cena mais emblemática da tragédia de São Luiz: o lento desabamento da Igreja Matriz, na Praça Oswaldo Cruz.

"A escola tinha caído de madrugada, e a gente tinha ouvido um barulho vindo da igreja. Lá pelas 10h, caiu a primeira torre. À tarde, caiu a outra torre, com o sino. A parte da frente veio primeiro e levou o resto", lembra Cícera com o semblante entristecido. Ela diz que o templo só terminou de desabar às 16h. "Nunca vou me esquecer."

Inundação em abrigo matou 81 gatos e 77 cachorros

Os animais também sofreram com o temporal que castigou São Luiz do Paraitinga. Os 81 gatos que estavam no abrigo da cidade morreram afogados, pois estavam dentro de gaiolas. Dos 180 cães, 103 se salvaram.

Muitos moradores ainda não localizaram os animais de estimação. Outros estão preocupados com a falta de ração para alimentar os bichos. A situação motivou voluntários ligados à proteção dos animais.

Em um quiosque montado na Praça Oswaldo Cruz, os moradores podem pegar ração de graça. Um veterinário examina os bichos e aplica vacinas. "Oferecermos ajuda dentro do que sabemos fazer", resume a veterinária Fernanda Vasconcelos, 27 anos, de Mogi das Cruzes.

Cerca de 800 quilos de ração para os animais foram levados ao município pela ONG (Organização Não Governamental) Clube dos Vira Latas, sediada em Ribeirão Pires. "Chorei quando cheguei à cidade", diz a presidente da entidade, Cida Lellis. Parte da ração foi doada por moradores do Grande ABC.




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