Cultura & Lazer Titulo Literatura
Brasil contado em cartas

Livro apresenta 80 documentos curiosos e importantes escritos por personalidades

Vinícius Castelli
30/01/2018 | 07:00
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Montagem/DGABC


Diversas cartas que contam trechos da história brasileira, por brasileiros ou por estrangeiros no Brasil. Algumas de um período distante da época das mensagens instantâneas, em que tudo parecia ser mais saboreado, outras nem tanto. Desde o universo político, passando pelo mundo musical, da literatura e dos mais diversos campos. Fato é que todas ficaram marcadas na história do País, seja pelo assunto que tratou ou por quem a assinou e recebeu. É isso o que reúne o livro Cartas Brasileiras (Companhia das Letras, 288 páginas, R$ 99,90, em média).

Inspirada em Cartas Extraordinárias, do inglês Shaun Usher, a obra apresenta 80 cartas escritas em diversos períodos da história brasileira, como as duas deixadas, e já conhecidas, pelo ex-presidente Getúlio Vargas, uma, dias antes de sua morte, e a outra, na mesma data, em 24 de agosto de 1954. Ao longo das páginas, a obra apresenta, sempre que possível, a reprodução do documento original abordado. O público poderá ver ainda réplica da carta do escritor Paulo Leminksi, em 1979, ao crítico paulista Régis Bonvicino, e o bilhete de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a Rodolfo Fernandes, então prefeito de Mossoró (Rio Grande do Norte), cidade que o cangaceiro queria saquear.

Segundo o jornalista Sérgio Rodrigues, responsável pela reunião do material publicado no livro, a proposta foi fazer passeio eclético pela história das cartas, “com a maior variedade possível de temas, tons e épocas, misturando pessoas famosas e anônimas. O principal critério era nunca aborrecer o leitor.”

Rodrigues conta que muitas das cartas apresentadas na obra são inéditas em livro, inclusive algumas de grande peso histórico. Mas o ineditismo, segundo ele, nunca foi um objetivo prioritário. “As inéditas que entraram na seleção têm outras qualidades além desta”, diz. Ele afirma que as cartas originais ainda existem, “algumas em acervos públicos, outras em acervos particulares.”

Rodrigues conta que a pesquisa foi feita ao longo de aproximadamente um ano, em fontes variadas. “O cruzamento de referências e o acesso remoto a acervos foram facilitados pela internet. Essa mesma pesquisa levaria mais tempo há 15 ou 20 anos”, diz. Ele conta que, de tudo o que foi avaliado, uma ‘montanha de cartas’ ficou de fora. “Da seleção imediatamente anterior à final, uns 20% não puderam entrar no livro por entraves burocráticos e jurídicos, cessão de direitos e tal.”

Entre os documentos antigos estão os trocados entre Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, em 1923, e de Charles Darwin, escrito em Salvador, em 1832, tendo como destinatário seu pai, Robert Darwin, em que relata seu deslumbramento com o Brasil. Para ilustrar os mais novos há do hoje presidente Michel Temer para a ex-presidente Dilma Rousseff, em episódio de 2015 que ocasionaria o ‘racha’ entre os partidos de ambos.

Para Rodrigues, as cartas inusitadas são várias e fica difícil declarar uma preferência. “Gosto de todas que escolhi, obviamente. As mais importantes, como documento histórico, devem ser a de (Pedro Vaz de) Caminha e o testamento de Getúlio Vargas, provavelmente. Cartas até certo ponto óbvias, mas que por isso mesmo não poderiam faltar”. Ele diz que a ideia do livro é pôr ao alcance do leitor comum algo que sempre esteve disponível em formatos menos atraentes. “O encanto das cartas, o acesso que elas nos dão à intimidade dos autores, não é notícia nova. A novidade dessa proposta editorial é apresentar isso de forma sedutora e lúdica, inclusive visualmente, juntando conhecimento e diversão.”




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