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Grande ABC tem melhor saldo de emprego formal desde 2014

Mesmo perdendo 2.791 postos de trabalho, região reduziu ritmo de demissões na indústria

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
27/01/2018 | 07:27
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Valdecir Galor/SMCS/Fotos Públicas


Em 2017, o Grande ABC perdeu 2.791 postos de trabalho com carteira assinada. Apesar do número negativo, o resultado é o melhor desde 2014, quando o ritmo de demissões começou a acelerar na região, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), divulgados ontem. Em 2016, o saldo (contratações menos dispensas) estava negativo em 31.601 profissionais.

Para se ter ideia da diferença dos cenários do emprego na região entre um ano e outro, em 2017 houve o equivalente a sete demissões por dia, enquanto que, em 2016, o ritmo atingiu média de 86 cortes diários. Ao longo dos quatro anos consecutivos de demissões, houve a perda de 92.375 postos de trabalho, sendo o ápice em 2015, com 43.614 cortes.

Para especialistas, os números mostram sinais da retomada gradual da economia e da recuperação da própria indústria que, ainda assim, é responsável pelo maior número de demissões, que somaram 4.340 no ano. Porém, o saldo também é melhor do que o registro do setor em 2016, quando o saldo ficou negativo em 15.808 vagas, quantidade quase quatro vezes maior.

“Certamente estamos assistindo, ainda que de maneira um tanto tímida, à retomada da economia e, paulatinamente, do mercado de trabalho. Nos últimos anos, estávamos enfrentando uma recessão muito severa, particularmente em relação à indústria. E quando você fala em cidades onde a indústria automobilística é decisiva para a economia regional, a recessão se mostra na destruição de postos de trabalho”, avaliou o economista e professor dos MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas) Mauro Rochlin.

Uma demonstração do impacto do desempenho ainda fraco do emprego nas indústrias é que a cidade que mais perdeu postos de trabalho foi São Bernardo, com 1.803 demissões. Diadema veio em seguida, com 1.750 cortes.

Para o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Anuar Dequech Junior, a melhora no cenário da indústria ainda não refletiu na contratação de operários. “O setor demitiu sim no ano passado e ainda está em uma situação bastante complicada, gerando desemprego, mas num ritmo mais lento. Mesmo com a economia um pouco melhor, a preferência das fábricas, em um primeiro momento, é por aumentar horas extras, até mesmo para ter mais segurança e verificar se a retomada irá se consolidar.”

REAÇÃO - Apenas duas cidades do Grande ABC fecharam 2017 com saldo positivo para o emprego formal: Santo André, com 1.181 contratações, e São Caetano, com 508. Conforme o superintendente geral do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri, os municípios não são tão dependentes da indústria automobilística e tiveram o saldo positivo puxado principalmente pelos setores de comércio e serviços, que foram os únicos que fecharam o ano no azul.

No comércio houve 1.128 admissões e, nos serviços, 1.420 contratações. Já o setor de construção civil demitiu 951 pessoas. “O Caged mostra que a recuperação está acontecendo principalmente em serviços e comércio. Isso porque o investimento para contratar é menor, já que a mão de obra necessária é menos qualificada do que a da indústria, por exemplo. Outro fator é que, ao voltar a consumir, a população opta por bens não duráveis, a exemplo de alimentação e cabeleireiro, e duráveis de menor valor, como vestuário. Só depois vai reativar a compra dos duráveis de maior valor, como carro e imóvel”, ilustrou Olivieri.

Para Rochlin, a queda na inflação em 2017, que, conforme o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 2,95%, menor índice em 19 anos, é a principal responsável pelo impulso nos dois setores. “Foi o que mais ajudou as famílias. Se ela se mantiver baixa, vai continuar a refletir no consumo”, avaliou.


Projeção para 2018 é de contratação

Para especialistas, o ano de 2018 deve apresentar redução no número de desempregados e, consequentemente, um cenário melhor para o mercado de trabalho. A tendência é que, em breve, a indústria do Grande ABC volte a contratar.

“Acredito que ainda neste ano devemos voltar a verificar contratações, mas não significa que o setor deve recuperar tudo o que perdeu. O saldo de empregos ao longo de 2018 vai ser positivo, mas em patamar menor do que em anos anteriores”, analisou o professor dos MBAs da FGV Mauro Rochlin.

O último melhor saldo de admissões foi em 2010, quando o Grande ABC registrou 47.249 vagas, um dos maiores volumes já registrados. “Acredito que, em 2018, a aceleração que vimos no ano passado terá um pouco mais de força. Para voltar ao nível de 2010, porém, acredito que vamos demorar de quatro a cinco anos, o tempo para toda a economia voltar a funcionar”, comentou o superintendente geral do Instituto Mauá de Tecnologia, Francisco Olivieri.

Para ele, as prefeituras também devem criar incentivos para que a região atraia empresas além da indústria de transformação. Um dos exemplos é Joinville, em Santa Catarina, que foi a cidade com maior número de criação de vagas formais em 2017 (5.588) e vem investindo no setor de tecnologia. “Quando falamos em indústrias desse tipo, temos mão de obra qualificada. Por isso, é importante trazer isso para cá e investir mais em treinamento e educação.”  




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