A seguir, os principais trechos da entrevista:
Qual é a mensagem que a S&P quis passar com o rebaixamento do Brasil?
A mensagem de que as condições gerais de crédito do País estão mais fracas, que justificam a nota BB-, e apontam que a trajetória fiscal é a fraqueza principal do Brasil e que requer ações de vários governos para alterá-la.
O rating do Brasil pode mudar nos próximos 12 meses?
Temos perspectiva estável para o Brasil e no nosso cenário básico não vemos mudança no rating até o próximo ano.
A não aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso foi apontada como o principal motivo do rebaixamento. Por que esse movimento não ocorreu logo após o anúncio do adiamento para fevereiro da votação?
O motivo do rebaixamento do Brasil não foi apenas a questão que envolve a reforma da Previdência, que é um símbolo, mas a noção de atrasos em sequência que refletiram um amplo padrão de lentidão e de desafios em aprovar matérias difíceis da legislação fiscal, o que requer amplo apoio político. Havia um padrão com sinais sem direção única. Ocorreu uma mudança (estrutural) das condições fiscais, pois o Brasil saiu de um período de baixos déficits do Orçamento e superávit primário registrados há anos para uma fase de grandes déficits primários e do Orçamento. E o País ainda não tem condições de registrar progressos para atacar temas fiscais. Na nossa visão, essa realidade não deve mudar rapidamente, mesmo após a eleição de 2018.
A sra. avalia que reformas fiscais, como a da Previdência, podem ocorrer em 2019, com o novo presidente eleito?
Não dizemos que não ocorrerão reformas, mas certamente não esperamos a rápida velocidade de reformas, pelo tamanho dos desafios fiscais. Em relação à eleição, é óbvio que é muito prematuro avaliar. Mas surgem incertezas com a clara frustração de eleitores com partidos e políticos, o que eleva de certa forma as perspectivas para o surgimento de outsiders. Não dizemos que outsiders não podem propor políticas articuladas e com foco, mas destacamos que será difícil para um outsider administrar uma grande coalizão de partidos.
A S&P não considera que o Congresso poderá aprovar a reforma da Previdência ainda este ano?
Em um ano eleitoral é difícil passar uma legislação controvertida, o que vale para todos os países que analisamos rating soberano e também deve ser o caso do Brasil, com o início da corrida presidencial.
As dificuldades para a aprovação de reformas, como a da Previdência, no Congresso também ocorreriam com a vitória de um candidato a presidente de centro, bem visto por investidores nos mercados financeiros?
Mudanças podem acontecer, mas deverão ser bem lentas e não muito significativas em relação à proporção dos déficits fiscais. Se estivermos errados, se ocorrer um padrão de mais rápidas adoções de medidas fiscais aprovadas pelo Congresso e implementadas pelo governo, isso poderá nos levar a uma reavaliação. Mas este não é nosso cenário básico.
Que outro fator poderia ser positivo para o rating do Brasil?
Um fator que se tornou desfavorável para o País foi a dinâmica do crescimento da economia em vários anos. O Brasil tem registrado crescimento menor do que seus pares, mesmo em termos de renda per capita e melhora do desenvolvimento social. Não esperamos uma dramática alta do PIB que sustente um avanço expressivo do crescimento potencial. No caso de estarmos errados, e passarmos a ver que os frutos do que foi aprovado (pelo Congresso) geram um crescimento mais robusto, então poderíamos reconsiderar. O que também poderia ocorrer com melhora das condições fiscais, o que não é avaliado por nós no momento.
E quais elementos seriam negativos?
O que pode pressionar o rating de forma negativa, que não está em nosso cenário básico, são elementos que podem piorar as condições que mantém o Brasil na categoria de Rating BB-, como a deterioração das contas externas do País e o acesso a mercados internacionais. Por outro lado, é uma força do Brasil o conjunto formado pelo regime de câmbio flutuante, sistema de meta de inflação e execução da política monetária pelo Banco Central. Mas, se estes fatores enfraquecerem, isso poderia minar as condições de um rating BB-.
Esse enfraquecimento poderia surgir com a mudança da gestão da política monetária pelo próximo governo?
Não é algo que estamos esperando.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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