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Grupo de Santo André faz rap sem hipocrisia
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
02/09/2001 | 19:05
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Com rimas irônicas e uma atitude positiva de auto-estima cantada com vigor, o grupo de rap Sistema Racional quer ultrapassar a periferia de Santo André. Com uma idéia na cabeça, denunciar o problema e mostrar as soluções, e o primeiro CD na mão, É Assim que Tem que Ser (Gato Discos, 14 faixas, R$ 17 em média), o grupo lança o rap positivo no movimento hip hop, sem racismo nem machismo: o grupo é formado por negro, branco, japonês e a vocalista é uma mulher. “A nossa genética é mestiça e é raro uma mulher fazer vocal do rap”, diz Fábio Féter, 22 anos, letrista, compositor, fundador, vocalista e um dos líderes do Sistema Racional, ou SR. Eles falam de paz e pretendem levar seu rap positivo para todo o país.

“Nosso rap não tem hipocrisia. Não pedimos para alguém deixar de fazer o que nós fazemos. Nós pedimos o que fazemos. Queremos ser úteis, não agradáveis”, afirma Féter.

O grupo não está pregando no deserto. Uma pesquisa feita pela rádio 105 FM, especializada em rap, mostra que o CD, lançado há um mês, é um dos quatro mais vendidos do país. Segundo Féter, a procura nas lojas da região tem sido boa, “mas como é um produto independente, não temos como acompanhar as vendas nem como distribuí-lo para todo o país”. O que ele percebe é que está nascendo uma legião de fãs que vão aos shows e compram CDs.

Féter, anagrama de “ter fé”, e Zaire (Aparecido Augusto dos Santos), 26, começaram a formar o grupo em 1993. Os outros integrantes entraram depois: o DJ Erik Japonês, 21, o irmão de Féter, R-Fá (Rafael Ferreira Menezes), 16, e Welly D (Daniela Alves de Almeida), 19 anos.

As letras alertam contra a violência, contra o sistema social e contra igrejas que tratam seus crentes como endemoniados, pregando o pavor. “Quando você está errado o pastor põe a culpa no diabo/ Que comédia o senhor está me revelando/ Que a igreja lá do sal tá de enganando, que alguém está te hipnotizando/ Enxergue seus próprios erros, amém. Não coloque a culpa em ninguém”. Letra de Igreja do Sal, sucesso em rádios comunitárias e que vai virar clipe, dirigido por Tata Amaral e Francisco César Filho.

A música do título do CD é É Assim que Tem que Ser, um resumo da filosofia do grupo: “Consciência prevalece, violência esquece/ Só de rolê na quebrada com os manos, e o rabo de saia/ Com din din ou sem din din , caia na gandaia/ Não faça de sua vida o que faz na privada/ Livre sua mente da maldade e saia de rolê pela cidade”. Imagem de Santo usa samplers de Amigo, de Roberto e Erasmo Carlos na introdução, e ironiza o amigo que insiste em ser corno.

Igreja do Sal, É Assim que tem que Ser, Cerveja Remix, versão de um rap do andreense Mister Theo que fez sucesso há dez anos, têm versões maiores no mesmo CD. As menores são para o rádio.

As letras têm um conteúdo quase messiânico, mas a pregação não é religiosa, apesar de todos falarem de Deus e Jesus. Para eles, é a mensagem que importa, não a religião. “Amar ao próximo como a ti mesmo’ é uma frase com muito conteúdo. E o conteúdo das músicas de hoje deixa a desejar. Nós fazemos nosso trabalho, musical e social”, diz.

Welly D, a vocalista, dá aulas de canto, Zaire ensina basquete e Féter dá aulas de DJ na garagem de sua casa, todos voluntários. As aulas práticas são seguidas de conscientização política. “Um povo sem consciência política é facilmente dominado”, afirma Féter.




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